A cela onde o ex-presidente Jair Bolsonaro cumprirá a pena de 27 anos e três meses de prisão pela trama golpista guarda semelhanças com aquela que recebeu Luiz Inácio Lula da Silva entre 2018 e 2019. As duas estruturas, embora localizadas em superintendências distintas da Polícia Federal, foram planejadas para receber ex-presidentes em condição especial, mas o espaço destinado agora a Bolsonaro é menor.

Lula permaneceu 580 dias na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, após ser condenado no caso do tríplex do Guarujá e no processo do sítio de Atibaia, por corrupção e lavagem de dinheiro. Ele ocupou uma sala adaptada de 15 metros quadrados, com televisão, chuveiro quente e estrutura montada no edifício que simbolizou a Operação Lava Jato.

O ambiente havia sido usado por policiais em viagem e, por isso, não tinha grades. Contava com banheiro próprio, armário, mesa com quatro cadeiras, esteira ergométrica e uma TV com canais abertos e entrada USB. Lula mantinha rotina matinal, acordando antes das 7h, e tinha direito a três sessões semanais de banho de sol em um espaço de 40 m² que antes da prisão do ex-presidente era usado como um fumódromo.

Durante a semana, Lula conversava cerca de uma hora com advogados pela manhã e à tarde. Às quintas-feiras, recebia familiares; e duas vezes por semana encontrava amigos próximos, geralmente políticos. Além de cela, o espaço funcionava como sala de trabalho: advogados autorizados levavam pen drives com reuniões do partido e outros materiais, que ele assistia pela televisão. A expectativa é que a estratégia se repita agora, mas no campo da extrema direita, com a pena confirmada de Bolsonaro.

A estrutura destinada ao ex-presidente em Brasília segue o mesmo princípio, mas com configuração mais enxuta. Bolsonaro terá mesa com uma cadeira, televisão, frigobar, armários planejados e ar-condicionado. O espaço foi preparado com antecedência pela PF, como alternativa para recebê-lo após a condenação pelo Supremo Tribunal Federal (STF), e recebeu adaptações nos últimos meses. Ganhou banheiro privativo, cama de solteiro, mobiliário básico e equipamentos que permitam o cumprimento da pena sob supervisão constante.

Com aproximadamente 12 metros quadrados, a área é menor que a usada por Lula e fica próxima a um local reservado para o banho de sol. As reformas foram acompanhadas por representantes do STF, da Vara de Execução Penal do Distrito Federal e de outros órgãos. A vistoria buscou assegurar que o ambiente atendesse às exigências legais para regime fechado.

Bolsonaro estava preso preventivamente desde sábado (22/11), depois de reiterar descumprimento de medidas cautelares impostas pelo STF. Tentou violar a tornozeleira eletrônica, descumpriu regras de monitoramento, manteve contatos proibidos e estimulou articulações políticas mesmo sob restrição.

Desde 4 de julho, cumpria prisão domiciliar por determinação do ministro Alexandre de Moraes, após usar o celular para conversar com aliados durante manifestações, movimento interpretado como violação das condições impostas pela Corte.

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Com a prisão definitiva, Bolsonaro se torna o décimo presidente brasileiro a ser encarcerado e o quarto desde a redemocratização. Antes dele, estiveram na mesma situação Lula, Michel Temer e Fernando Collor.

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