TARIFAÇO

Minas pode perder R$ 1 bilhão do PIB com guerra tarifária entre EUA e China

Estudo de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (FACE-UFMG) mediu o impacto da disputa comercial no Brasil

Publicidade

Um estudo do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas, da Universidade Federal de Minas Gerais (Cedeplar-UFMG), projeta que a guerra tarifária entre os Estados Unidos e China pode causar uma perda de R$ 1,1 bilhão na economia mineira. A pesquisa, publicada no último domingo (13/4), leva em consideração as medidas anunciadas pelas duas superpotências até o dia 11 de abril.

Entre as ações de impacto analisadas pelos pesquisadores Edson Domingues, João Pedro Revoredo e Aline Magalhães, do Núcleo de Estudos em Modelagem Econômica e Ambiental (Nemea-Cedeplar-UFMG), está a elevação das tarifas dos EUA das importações chinesas para 145% e de 10% para todos os países, além da resposta de Pequim em taxar as importações americanas em 125%. O grupo também analisou a taxa de 25% para importações de automóveis e aço nos EUA aplicadas a qualquer país.

Neste contexto, Minas Gerais seria o terceiro estado mais impactado pela guerra iniciada pelo presidente americano Donald Trump. A maior perda no Produto Interno Bruto (PIB) está concentrada em São Paulo, com uma queda de R$ 4,1 bilhões. Na sequência, viria o Rio de Janeiro com perdas na casa de R$ 1,3 bilhão.

Dividindo o impacto por setores, em Minas a maior perda estaria na agropecuária, com uma variação negativa de 0,78% do PIB setorial. O segmento é seguido pela indústria de transformação (-0,28%), construção civil (-0,24%), transporte, armazenagem e correio (-0,17%), e indústria extrativa, empatada com o comércio, em uma perda de 0,16%.

Em conversa com o Estado de Minas, o professor Edson Domingues, coordenador do estudo, explicou que a perda se concentra no Sudeste porque o impacto maior das tarifas será na indústria. Segundo o pesquisador, a guerra entre o governo de Donald Trump e Xi Jinping pode levar a uma recessão na economia mundial.

“São perdas na produção e exportação de commodities que esses lugares compram. Minério de ferro em Minas, petróleo do Rio, e toda a base industrial de São Paulo são afetados negativamente. Aquela tarifa de 25% de alumínio e aço está vigente contra a gente, isso derruba parte da produção e da atividade econômica ", disse.

Domingues também observa que a taxação pode provocar um boom nas importações de diversos produtos, uma vez que o mercado chinês para os Estados Unidos está “basicamente bloqueado”.

“Importar um produto mais barato ajuda na inflação, mas é ruim porque você acaba substituindo a produção e o emprego doméstico. Esse é o efeito mais preponderante, o de aumento de importações. O pessoal do aço tem uma reclamação do excesso de produção chinesa, no ano passado teve o ICMS das ‘blusinhas’”, explica.

Segundo dados do painel de comércio exterior do Ministério do Desenvolvimento Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Minas Gerais teve um superávit de US$ 5,6 bilhões na balança comercial no primeiro trimestre, concentrando 12,9% das exportações brasileiras.

As mercadorias mineiras alcançaram 174 mercados, sendo que os principais compradores são justamente a China, destino de 30,7% das exportações, e os Estados Unidos, com 11,3% - seguindo a lógica das relações comerciais brasileiras.

Ainda de acordo com o painel, o estado se destacou na exportação de café, com US$ 2,9 bilhões vendidos. Os Estados Unidos foram o principal destino do produto mineiro no período analisado, com US$ 472 milhões em vendas para os americanos. Outros produtos de destaque vendidos para os EUA foram o minério de ferro e o aço, com rendimento de US$ 326 milhões.

Desindustrialização

Em contrapartida, outras regiões, como o Centro-Oeste brasileiro, poderiam ter um incremento na economia local. A pesquisa simula um crescimento de R$ 5,3 bilhões no PIB do Mato Grosso, R$ 871 milhões no Mato Grosso do Sul e R$ 778 milhões em Goiás. No Nordeste, o Maranhão também teria um ganho acentuado de R$ 1,3 bilhão na sua economia, enquanto o Piauí veria um incremento de R$ 952 milhões.

Grande parte dos ganhos ocorrem no mercado da soja, uma vez que os Estados Unidos são os maiores exportadores do produto e têm como destino a China. Em termos agrícolas, o Brasil poderia ocupar esse espaço com as barreiras para a soja americana no mercado chinês.

Contudo, o pesquisador João Pedro Revoredo analisa que a guerra comercial pode causar uma desindustrialização no Brasil, considerando que o país tem uma indústria de base e pouco diversificada. “Minas, São Paulo e Rio possuem as maiores plantas industriais. Naturalmente, os estados mais industrializados, com os maiores parques, serão os que mais vão perder”, disse.

O pesquisador disse que é preciso ser cuidadoso nas análises, mas uma possível saída seria fortalecer outras relações bilaterais de comércio. “Tentar encontrar novos parceiros comerciais onde a gente consiga não ser só apenas um exportador de bens primários, sejam agropecuários, sejam minerais. Enfim, mudar as nossas relações de comércio dado esse novo contexto de tributação”, completou.

A pesquisa foi feita com um modelo de simulação do comércio internacional, com uma base de dados da Universidade de Purdue, nos Estados Unidos. As simulações consideram “dezenas de milhares” de equações e variáveis, como fluxos de comércio, tarifas e produtos.

Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia 

Quem perde

São Paulo - R$ 4,1 bilhões
Rio de Janeiro - R$ 1,2 bilhão
Minas Gerais - R$ 1,1 bilhão
Santa Catarina - R$ R$ 833 milhões
Pará - R$ 740 milhões

Quem ganha

Mato Grosso - R$ 5,3 bilhões
Maranhão - R$ 1,3 bilhão
Piauí - R$ 952 milhões
Mato Grosso do Sul - R$ 871 milhões
Goiás - R$ 778 milhões

Impacto em Minas Gerais por setor (% do PIB Setorial)

Agropecuária (-0,78%)
Indústria de transformação (-0,28%)
Construção (-0,24%)
Transporte, armazenagem e correio (-0,17%)
Indústria Extrativa (-0,16%)
Comércio (-0,16%)

Fonte: Nemea-Cedeplar-UFM

Tópicos relacionados:

china donald-trump eua minas-gerais tarifas ufmg

Acesse sua conta

Se você já possui cadastro no Estado de Minas, informe e-mail/matrícula e senha. Se ainda não tem,

Informe seus dados para criar uma conta:

Digite seu e-mail da conta para enviarmos os passos para a recuperação de senha:

Faça a sua assinatura

Estado de Minas

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Aproveite o melhor do Estado de Minas: conteúdos exclusivos, colunistas renomados e muitos benefícios para você

Assine agora
overflay