O ex-policial militar Ronnie Lessa confessou ter recebido uma proposta milionária para matar a vereadora Marielle Franco (PSOL) e o motorista Anderson Gomes -  (crédito: REGINALDO PIMENTA/AGENCIA O DIA/ESTADAO CONTEUDO)

O ex-policial militar Ronnie Lessa confessou ter recebido uma proposta milionária para matar a vereadora Marielle Franco (PSOL) e o motorista Anderson Gomes

crédito: REGINALDO PIMENTA/AGENCIA O DIA/ESTADAO CONTEUDO

O ex-policial Ronnie Lessa, suspeito de ter matado a vereadora Marielle Franco (PSOL) em 2018, afirmou que tinha um acordo de R$ 100 milhões com os irmãos Brazão para cometer o crime. Em delação premiada da Polícia Federal (PF), Lessa disse que Domingos, conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro (TCE-RJ), e o deputado federal Chiquinho Brazão (Sem partido-RJ) ofereceram um loteamento no bairro de Jacarepaguá (RJ).

 

De acordo com o ex-policial, Chiquinho e Domingos Brazão são os mandantes da morte de Marielle Franco. Os irmãos teriam oferecido para ele e para Edmilson da Silva de Oliveira, o Macalé, um loteamento clandestino na zona oeste do Rio, que valeria milhões de reais no futuro. O vídeo da delação foi revelado pelo programa Fantástico, da TV Globo, nesse domingo (26/5).

 

“Não é uma empreitada para você chegar ali, matar uma pessoa e ganhar um dinheirinho. Não. Era muito dinheiro envolvido. Na época ele falou em R$ 100 milhões, que realmente, as contas batem. R$ 100 milhões o lucro dos dois loteamentos. São 500 lotes de cada lado”, contou o ex-policial.

 

 

Na delação, que durou cerca de duas horas e meia, o suspeito do crime detalhou, pela primeira vez, como recebeu a proposta dos irmãos Brazão, que ele chama de “sociedade”. Para o matador de aluguel, a morte da vereadora seria o grande “negócio” da vida dele.

 

“Não fui contratado para matar Marielle como um assassino de aluguel. Fui chamado pra uma sociedade. A Marielle vai atrapalhar e nós vamos seguir, e pra isso ela tem que sair do caminho”, revelou.

 

 

Segundo Lessa, Domingos Brazão teria dito a ele que a escolha do nome de Marielle foi porque ela orientava as pessoas a não aderirem aos novos loteamentos das milícias. De acordo com o suspeito, ninguém recebe uma proposta de tamanho valor simplesmente para matar uma pessoa.

 

O delator afirma, ainda, que a parlamentar se tornou alvo dos criminosos porque teria convocado reuniões com várias lideranças comunitárias de bairros da região, para que não houvesse adesão a novos loteamentos da milícia. A informação, segundo Lessa, foi passada por Domingos Brazão em um dos três encontros que teve com os mandantes do crime.

 

Nova milícia

 

A proposta, segundo o ex-policial, não era apenas de matar Marielle, mas de criar uma nova milícia na Zona Oeste da cidade, através da ocupação ilegal da área. Os lucros viriam da exploração de sinal clandestino de internet e televisão, de gás residencial e de serviços de transporte.

 

O delator não diz quando o empreendimento ilegal aconteceria, mas afirma que seria um dos donos, com um poder criminoso que se refletiria até em eleições. “A gente ia assumir, na verdade, ia criar uma milícia nova. A questão valiosa ali é depois, é a manutenção da milícia, que vai trazer voto”, disse.

 

 

No entanto, a PF informou que não foi possível encontrar evidência concreta de planejamento de alguma ação no sentido de ocupação na área.

 

Outros alvos

 

Ronnie Lessa afirmou que os mandantes chegaram a citar outro político como alvo: o então deputado estadual Marcelo Freixo. O alvo foi colocado quando Freixo presidiu uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que investigou as milícias no Rio.

 

 

“Em 2017, ele veio com um assunto relacionado com Marcelo Freixo. (...) Fui tirando isso da cabeça dele. Aí ele aceitou, não cobrou mais. Ali foi talvez a nossa primeira entrada com relação a crime".

 

A PF confirmou que o suspeito fez pesquisas online sobre políticos ligados ao PSOL na época, incluindo o então deputado.

 

Participação de Rivaldo Barbosa

 

Ronnie Lessa alegou que Domingos Brazão teria dito que o delegado Rivaldo Barbosa, então chefe da Delegacia de Homicídios do Rio, participava do plano da morte de Marielle. Lessa explicou como Barbosa atuou para tentar protegê-los da investigação depois do assassinato.

 

"Falaram o tempo todo que o Rivaldo estava vendo, que o Rivaldo já está redirecionando e virando o canhão para outro lado, que ele teria de qualquer forma que resolver isso, que já tinha recebido pra isso no ano passado, no ano anterior, ele foi bem claro com isso: 'ele já recebeu desde o ano passado, ele vai ter que dar um jeito nisso'. Então ali, o clima já estava um pouco mais tenso, a ponto até mesmo na forma de falar", disse o delator.

 

O advogado de Rivaldo Barbosa, no entanto, alegou que ele nunca teve contato com supostos mandantes do crime e que não há registro de recebimento de valores provenientes de atos ilícitos. Também criticou a atuação da PF, dizendo que o relatório da investigação não tem provas concretas.

 

Acusações negadas

 

Os irmãos citados na delação negam as acusações. A defesa de Domingos Brazão diz que não existem elementos e provas que sustentem a versão de Lessa. Já a de Chiquinho afirma que a delação é uma desesperada criação mental na busca por benefícios e que são muitas as contradições, fragilidades e inverdades.

 

Prisão de Lessa

 

Ronnie Lessa é apontado como o atirador responsável pelas mortes da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes em março de 2018. Já Edmilson da Silva de Oliveira, com quem Lessa trabalhou, foi morto a tiros em 2021 em Bangu, na zona oeste do Rio de Janeiro.

 

Atualmente, Ronnie Lessa está preso na Penitenciária Federal de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul. Segundo a PF, ele teria efetuado os disparos que mataram Marielle e Anderson, em 14 de março de 2018, no centro do Rio de Janeiro.