"Só tem uma coisa que a América do Sul não está precisando agora: confusão", disse Lula -  (crédito: Sergio Lima / AFP)

"Só tem uma coisa que a América do Sul não está precisando agora: confusão", disse Lula

crédito: Sergio Lima / AFP

FOLHAPRESS - Durante seu giro pelo Oriente Médio no qual passou por Arábia Saudita, Qatar e Dubai, o presidente Lula (PT) criticou o premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, por sua condução da guerra, disse que faltou sensibilidade ao americano Joe Biden ao não ter trabalhado para impedir o conflito e acenou, novamente, ao russo Vladimir Putin.

 

 

As declarações do petista se deram durante entrevista em vídeo à rede qatari Al-Jazeera publicada nesta sexta-feira (1º/12). Lula voltou a afirmar que o conflito Israel-Hamas que se desenrola em Gaza "não é uma guerra tradicional, mas um genocídio que mata milhares de crianças e mulheres que não têm culpa alguma".

 

Questionado sobre a postura de Netanyahu, afirmou que, "como governante, ele é uma pessoa muito extremista, de extrema direita e com sensibilidade baixa em relação aos problemas do povo palestino". "Ele pensa que os palestinos são pessoas de terceira ou quarta classe."

 

O petista mencionou como exemplo o ex-líder israelense Yitzhak Rabin, trabalhista que assinou os Acordos de Oslo, vislumbre de paz para o duradouro conflito que, no entanto, não se concretizou.

 

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Rabin foi assassinado em 1995 por um ultranacionalista judeu. "Conheci pessoas como Rabin que são muito mais sensíveis e certamente teriam trabalhado pela paz", afirmou.

 

Como de praxe, o petista também criticou duramente a atuação do Conselho de Segurança da ONU. Membro rotativo, o Brasil esteve na presidência do colegiado em outubro passado e viu fracassarem suas tentativas de aprovar uma resolução pedindo o fim do conflito.

 

Neste sentido, à Al-Jazeera Lula criticou em especial a conduta de Washington, que vetou resolução brasileira com esse teor.

 

"Não posso entender como um homem tão importante como o presidente [Joe] Biden, [líder] do mais mais importante do planeta, não teve a sensibilidade de falar para acabar com essa guerra", disse Lula, mencionando a influência política e militar de Washington em Tel Aviv. "Eles poderiam ter parado com a guerra."

 

Lula questionado

 

O presidente brasileiro também foi questionado sobre o conflito ainda em curso no Leste Europeu, tema sobre o qual acumula declarações polêmicas que desagradaram à Ucrânia, invadida pela Rússia.

 

"A Rússia diz que alguns territórios pertencem a eles, e [Volodimir] Zelenski diz que pertencem à Ucrânia. Em vez de ir à guerra, porque não levar as pessoas a um referendo para perguntar: você quer pertencer à Ucrânia ou à Rússia?", sugeriu o petista, sem mencionar, porém, que o governo de Vladimir Putin já conduziu referendos ilegítimos sob a ótica do direito internacional para supostamente validar sua anexação de partes do leste do território ucraniano.

 

Com o Brasil agora na presidência do G20 e com o Rio de Janeiro como futura sede da cúpula do grupo em novembro de 2024, Lula também foi questionado sobre a figura de Putin, contra quem há um mandato de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional sob a acusação de facilitar a deportação ilegal de crianças de áreas ocupadas pela Rússia na Ucrânia.

 

Na resposta, Lula teceu uma espécie de comparativo entre as duas guerras em curso. "Uma das acusações contra Putin é por sequestrar crianças. Agora nessa guerra [Israel-Hamas] há crianças sequestradas dos dois lados. Putin será convidado [para reunião do G20 no Rio]. Ele não virá se não quiser vir. Se ele vier, asseguro que será respeitado e não será preso."