João desconfia que não é filho biológico dos pais que conhece -  (crédito: Reprodução / TikTok)

João desconfia que não é filho biológico dos pais que conhece

crédito: Reprodução / TikTok

O médico residente em urologia João Dias Neto, morador de Curitiba (PR), chamou atenção nas redes sociais após compartilhar no TikTok que descobriu uma série de mentiras de sua família. A história começou em dezembro, quando ele decidiu correr atrás de documentos para conseguir a cidadania portuguesa.

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? original sound - João Dias Neto

Um dos documentos que ele buscava era a certidão de casamento de seus pais. E aí veio o primeiro choque: sua mãe era nove anos mais velha do que contava e tinha tido um casamento antes de conhecer o pai de João.

A data da união dos pais também chamou atenção. O casamento foi em 2006. O médico acreditava que os dois tinham se casado antes de seu nascimento, em 1996. Eles diziam que estavam há pelo menos quatro anos tentando engravidar quando João nasceu, em Guarapuava, no interior do Paraná. Mas a certidão mostrava que o casamento foi em Balneário Camboriú (SC).

O documento também foi o primeiro contato do médico com os nomes de seus avós maternos. “Ela nunca falou muita coisa sobre a família dela. A única coisa que ela falava e que todo mundo sabia era que ela era filha única, que os pais delas eram ambos falecidos desde antes de eu nascer. Ela também contava que ela era de uma família muito rica do Rio Grande do Sul”, relatou o jovem.

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Segundo João, a mãe também disse que sua família tinha muitas fazendas no Sul do Brasil, mas que, quando o pai morreu, a mãe perdeu tudo em apostas. Desconfiado, João decidiu consultar as certidões de óbito de seus avós. Foi quando ele descobriu que o avô morreu em 2011 e a avó em 2020. O documento ainda revelou que eles tiveram mais cinco filhos, além da mãe do médico.

O urologista resolveu pesquisar, então,  a origem de sua avó e descobriu que ela vivia em uma colônia italiana no Rio Grande do Sul muito pobre. E, dos seis filhos, apenas sua mãe tinha ensino superior. Mais desconfiado, ele solicitou a certidão do primeiro casamento da mãe. “Muito estranhamente, minha mãe já tinha tido três nomes desde que eu nasci e eu sei que esses nomes são coisas que realmente deram problema para a gente”, relatou, citando episódios em que ela não conseguiu embarcar no avião porque o nome na passagem estava diferente do que constava em seu documento.

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"Um monte de coisa começou a passar pela minha cabeça. E se eu tiver irmãos desse primeiro casamento que eu nem faço ideia? E se eu for filho desse primeiro casamento? (...) Eu sabia que alguma coisa estava errada em relação a minha maternidade e paternidade”, contou, lembrando que os pais sempre negaram que ele fosse adotado. O primeiro casamento foi realizado em 1982 e o divórcio só saiu em 1993.

Com tantas inconsistências e munido dos nomes de seus tios, ele resolveu procurá-los. Mesmo com medo de não ser ouvido pela família, ele entrou em contato, foi muito acolhido. “Eu fiquei muito emocionado, porque eu sempre fui muito carente de família. (...) Apesar desse apoio financeiro, nunca houve apoio emocional, afetivo. Eu sempre me senti muito carente a minha vida inteira, eu só tenho uma irmã porque eu infernizei a vida dos meu pais”, resumiu, dizendo que a irmã mais nova foi adotada. Nesse momento da história, João ainda contou que apanhava de seu pai enquanto criança, já que ele tinha problemas com álcool.

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Conversando com os tios, ele descobriu que ninguém da família sabia porque a mãe tinha preferido esconder toda a família. A única coisa que os tios contaram é que, já divorciada do primeiro casamento, a mãe de João contou que se mudaria para o Paraná e que, de lá, entraria em contato – o que nunca aconteceu.

A família até tentou ir atrás dela na época, mas sem sucesso. Em 2011, com a morte do avô, tentaram novamente encontrar a mulher e não conseguiram. Quando a avó morreu, em 2020, eles tentaram de novo procurar a família da irmã. Um primo que trabalhava em um banco conseguiu descobrir o paradeiro da tia e inclusive descobrir a existência dos primos. Mas a família resolveu não entrar em contato, porque entendiam que a mãe de João nunca quis ser encontrada.

Ele chegou a viajar para Pelotas para conhecer os tios e primos durante o carnaval. Por lá, a família também contou que a mãe tratava mal o primeiro marido. Ela também não queria que seus familiares tivessem contato com seu esposo – o que não foi possível, já que todo mundo morava na mesma cidade. “Ela proibiu as pessoas da família de irem ao primeiro casamento dela. Segundo ela, ela não deixaria aquele povo ir porque eles não tinham nem roupa”, contou.

 

O marido, no entanto, mantinha uma boa relação com os sogros, mas a relação entre o casal era péssima. Segundo os familiares, a mulher sempre xingava o ex-marido o chamando de gordo, algo muito semelhante ao que o próprio João viveu durante a infância e adolescência.

 

 

Ele era uma das pessoas mais ricas de Pelotas e parece que foi por isso que ela se casou. “A prima mais velha comentou comigo que, antes de minha mãe ir embora, ela falou com ela 'você tem que sair desse buraco. tem que casar com um cara rico'", diz João em um dos vídeos.

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Depois de tudo, ele resolveu conversar com os pais. João já não falava com a mãe há cinco anos, porque ela tentou "puni-lo com o silêncio". "Foi uma conversa horrorosa. Meu pai avançou em cima de mim (...), eu fui muito humilhado", lembrou. Ele descobriu que o pai sabia de toda a história e foi conivente em tudo.

Encorajado, João resolveu tornar a história pública, compartilhando, primeiro, um resumo nas redes sociais, quando recebeu muito apoio de diversas pessoas. Com as repercussões, os pais começaram a contar para as pessoas da cidade natal do médico que ele estava envolvido em crimes e drogas.

Depois do post, muitas coisas vieram a tona. João não acreditava mais que era filho biológico do pai e da mãe que conhecia. Ele teve ainda mais certeza quando várias pessoas começaram a vir contar que nunca viram a mãe grávida. "Ela simplesmente apareceu com uma criança em 1996”, contou. Um dos relatos, de uma pessoa que era muito próxima dos pais naquela época, dizia que o avô paterno de João tinha participação na história. “Ele simplesmente chegou com uma criança de Cornélio Procópio, cidade onde meu pai nasceu e onde meus avós moravam, pro meu pai e para minha mãe cuidar”, revelou.

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"Eu não sei se eu sou uma criança roubada, eu não sei se sou filho biológico do meu avô(...). Eu sei também que meus pais tentaram fazer outra adoção ilegal na época que minha irmã foi adotada", apontou. João agora duvida também de sua data de nascimento e cidade onde nasceu.

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