Cantor de Punk Marco Pogo, alter ego de Dominik Wlazny, da banda Turbobier, criou o Partido da Cerveja em 2015, como uma sátira -  (crédito: JOE KLAMAR / AFP)

Cantor de Punk Marco Pogo, alter ego de Dominik Wlazny, da banda Turbobier, criou o Partido da Cerveja em 2015, como uma sátira

crédito: JOE KLAMAR / AFP

O Partido da Cerveja, ou Bier Partei, vem se destacando nas pesquisas eleitorais da Áustria e já atingiu 7% das intenções de voto. A sigla foi criada pelo cantor de Punk Marco Pogo, alter ego de Dominik Wlazny, da banda Turbobier. Ele também é humorista e médico formado pela Universidade de Viena. Os austríacos vão às urnas no próximo mês de junho.

Em 2022, o Partido da Cerveja foi o terceiro mais votado nas eleições presidenciais da Áustria, com 8,4% dos votos. A programa de governo incluía abolição de impostos sobre a bebida e a construção de uma fonte de cerveja em Viena, capital do país.

 

 

O problema é que o partido ainda não tinha obtido o registro oficial, ao contrário do que acontece no pleito de 2024. Apesar de a porcentagem não ser suficiente para ganhar as eleições, a participação política dos cervejeiros podem atrapalhar os planos do FPO, partido de extrema-direita, atualmente favorito pelos eleitores.

 

 

Isso porque, mesmo vencendo, a extrema-direita teria minoria e precisaria compor o governo. Acontece que Dominik Wlazny é um duro opositor da extrema-direita, inclusive por ser um forte defensor da vacina contra a covid-19. Assim, o Partido da Cerveja deve fazer parte da composição de frente ampla que somará o Partido Verde, os sociais-democratas e o atual governo de centro-direita do Neuhammer.

Mesmo assim, Wlazny deve seguir na ativa na música. Sua banda, Turbovier, deve lançar um novo álbum em 2024, chamado ‘Nobel geht die Welt zugrund’. Algumas prévias do trabalho já foram divulgadas.

 

De sátira à realidade

 

O Partido da Cerveja surgiu em 2015, como uma peça promocional de uma música de Wlazny. O projeto satírico se baseia no posicionamento político de centro, já que as torneiras de cerveja costumam ficar no meio dos bares. A iniciativa fez sucesso, o que motivou que o músico seguisse ganhando popularidade em sua luta contra a extrema-direita.

De início, tudo não passava de uma piada. Para se ter uma ideia, uma das propostas era implantar uma “cervejocracia”, novo regime político baseado na bebida. Mas, nas eleições de 2022, surgiram algumas ideias sérias, como testes de aptidão obrigatórios para políticos; implementação de ajudas estatais para salvar o panorama cultural austríaco; acolhimento de refugiados ucranianos e incentivo à participação eleitoral da população.

Segundo analistas políticos austríacos, o partido pode conquistar alguns assentos no parlamento este ano.

 

Outros países

 

Wlazny se inspirou em ouros países que também tiveram Partidos da Cerveja, como Checoslováquia, Rússia, Ucrânia, Bielorrúsia e Polônia, na década de 1990. No parlamento polonês, o partido chegou a ocupar assentos no parlamento.

Chamado Partido Polonês dos Amigos da Cerveja (Polska Partia Przyjaciól Piwa), a legenda participou das primeiras eleições livres do país, após a queda do comunismo, quando conquistou 2,97% dos votos. A ideia surgiu em um roteiro para uma série de comédia da TV, chamada “Os escoteiros da cerveja”.

A brincadeira caiu no gosto da população e acabou sendo levada a sério, obtendo as assinaturas necessárias para o registro. O partido tinha a vodca, bebida mais consumida no país, como o principal rival. O líder da legenda era o comediante Janusz Rewinski.

Os panfletos do partido incluíam propostas como aumento de impostos para outras bebidas, simplificação para abrir uma cervejaria e defesa do meio ambiente “porque não se pode fazer cerveja de verdade sem água limpa”. Com o tempo, os membros do partido começaram a divergir, gerando rachas políticas. Parte deles se alinharam à centro-direita e o restante à esquerda.

Na Rússia, em 1990, o estrategista político Konstantin Kalatchev teve a ideia de criar o Partido dos Amantes da Cerveja (Partia Liubitelei Piva) durante uma noitada no bar. O registro veio três anos depois. Entre as propostas estavam a garantia do direito de beber cerveja e não vodka, além de liberdade política e fim do autoritarismo.

Apesar de somar mais de 400 mil votos nas eleições de 1995, não foi o suficiente para se eleger. Em 1998, Kalatchev pôs um fim no partido, trabalhando em legendas alinhadas a Vladimir Putin.