Exposição internacional realizada em Paris, em 1925, mostrou ao mundo o art déco, movimento de artes visuais que marcou a arquitetura de Belo Horizonte
Fachada do cine teatro Brasil, na Praça sete, um dos destaques arquitetônicos da capital mineira crédito: Marcos Vieira /EM/DA. Press – 10/6/25
Antes de mais nada, é preciso saber que art déco não é simplesmente um estilo arquitetônico. É muito mais: inclui também artes gráficas, design de automóveis, rádios, eletrodomésticos e mobiliários, cenários de teatro e outros setores culturais e industriais. Ganhou notoriedade mundial há 100 anos, com a “Exposition Internationale des Arts Décoratifs et Industriels Modernes” (Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas), evento comercial e cultural realizado em Paris, na França, em 1925. Foi, então, que a denominação art déco se fortaleceu, ultrapassou fronteiras, chegou ao Brasil e encontrou terreno fértil em BH entre as décadas de 1930 e 1940.
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“Apesar de o movimento ter suas obras e criações seminais na Europa, alcança relevância significativa nas Américas, especialmente nos Estados Unidos”, explica a arquiteta e professora Celina Borges Lemos, organizadora e uma das autoras do livro “Casa Nobre – Significados dos modos de morar nas primeiras décadas de Belo Horizonte”.
No Brasil, a arquitetura art déco se torna muito conhecida em cidades das regiões Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste, com destaque para o Rio de Janeiro, então capital federal, sobressaindo o hotel Copacabana Palace, São Paulo (Edifício Banespa e outros), Goiânia e BH, como o Palacete Jeha, na Avenida Brasil. “Em grande parte, a vinda de arquitetos europeus para o Brasil muito vai contribuir para a disseminação do movimento”, diz Celina Borges.
DETALHES ORNAMENTAIS
O art déco representa um desdobramento do movimento artístico art nouveau. “No contexto da arquitetura, essas criações presentes na Europa desde o final do século 19 se distanciam do historicismo da arquitetura do ecletismo. Os detalhes ornamentais e mesmo artísticos, em geral, se referenciam na fauna e flora, além de simbolismos diferenciados”, observa a arquiteta e professora. Ela ressalta que, apesar de detalhes artísticos visuais e arquitetônicos do art déco se manifestarem desde o fim do século 19, sua consolidação ocorre, predominantemente, depois da Primeira Guerra Mundial (1914-1818).
Entre as principais característica da arquitetura art déco, estão as construções denominadas “protomodernas”, com a presença fundamental para a época do concreto armado e da argamassa armada. E mais: soluções das vedações metálicas, como os basculantes e outras de vidro e metal, dotadas de movimentação horizontal, ênfase nos planos vertical e horizontal, telhados planos, desenhos geométricos e símbolos, cores vivas etc.
Importante destacar “a condição autóctone” que o movimento alcança no país, estando presente em arquiteturas mais sofisticadas e mesmo nas de valor cotidiano. “Assim, apresenta e identifica diferenciadas camadas sociais, o que o torna uma representação simbólica da história da arquitetura e uma verdadeira legenda do período”, ressalta Celina.
santa Casa também integra o roteiro art déco Leandro Couri/EM/D.A. Press – 17/10/24
EM BH
Nestes feriados, em passeio pela cidade, moradores e visitantes podem conhecer construções art déco, do período 1930-1950. Estão à disposição dos olhos o Palácio Cristo Rei, na Praça da Liberdade, o prédio do Minas Tênis Clube, que completa 90 anos, o Instituto Metodista Izabela Hendrix, o Cine Teatro Brasil, na Praça Sete, e outros. Um dos nomes importantes do período é o arquiteto italiano Raffaello Berti (1900-1972), autor de projetos de mais de 500 de casas, cinemas, escolas, igrejas, hospitais, como a Santa Casa BH e o Felício Rocho, bem com edifícios residenciais, comerciais e públicos.
fachada do Automóvel Clube, que celebrou 100 anos e o bolo comemorativo do centenário Jair Amaral/EM/D.A.Press – 26/5/25 - Fábio Ortolan/Divulgação
PALCO DE GRANDES COMEMORAÇÕES...
Em BH, com seus recém-completados 128 anos, há um prédio-monumento que enche os olhos, faz viajar no tempo, encanta. E sempre fez a festa na cidade, ainda mais, agora, na comemoração do seu centenário. É o Automóvel Clube de Minas Gerais (ACMG), localizado na Avenida Afonso Pena esquina com a Álvares Cabral, no Centro. Na manhã do último dia 17, houve comemoração, com direito a um elegante bolo decorado, para saudar os 100 anos da casa, que tem na presidência Ragheb Hamade Filho. Entre as novidades anunciadas, o Automóvel Clube passa a integrar o Circuito Cultural Liberdade, ampliando, assim, sua presença na vida da capital.
...NA VIDA SOCIAL DE BELO HORIZONTE
Tombado pelo Iepha-MG em 1988, o edifício do Automóvel Clube foi projetado pelo arquiteto Luís Signorelli (1896-1964), com quatro pavimentos em estilo eclético. Fundado em 1925 por amigos, conhecidos como o Grupo dos Nove, teve inicialmente o nome de Clube Central e primeira sede no Palacete Dantas, na Praça da Liberdade. Em 1927, passou a se chamar Automóvel Clube de Minas Gerais, e, dois anos depois, se transferiu para o prédio atual. A princípio destinado ao desenvolvimento do automobilismo no estado, o ACMG se estabeleceu como um clube social.
ARQUIVO PÚBLICO MINEIRO/REPRODUÇÃO 12/12/1897
PAREDE DA MEMÓRIA
Na última coluna do ano, uma homenagem, novamente “em grande estilo”, a Belo Horizonte, aniversariante do mês. A foto é da inauguração da nossa capital, em 12 de dezembro de 1897. A cidade passou oficialmente a ter o atual nome em 11 de agosto de 1901, batizada ainda na grafia antiga “Bello Horizonte”. A denominação se tornou realidade pela Lei nº 302, de 1º de julho, sancionada pelo então presidente do estado (na época, não se falava governador), Silviano Brandão (1848-1902), mas só entrou em vigor 40 dias depois, como era norma naqueles tempos. Antes de BH ser inaugurada, substituindo Ouro Preto como capital de Minas, houve longo período de polêmica, disputas e nervos exaltados nos meio políticos quanto à escolha do antigo Arraial de Curral del-Rei para nova sede do governo. A ideia de mudança existia desde meados do século 19, sendo a região mais indicada o Vale do Rio das Velhas. Outros lugares estavam no páreo, como Juiz de Fora, Barbacena e Várzea do Marçal, em São João del-Rei. Mas isso é outra história...
A cidade da Zona da Mata completou 30 anos de emancipação política, em 21 de dezembro, e ganhou um belo “presente” para contar sua história. Trata-se do livro “Goianá – MG: origens ancestrais, lutas e conquistas”, organizado por André Vieira Colombo, coordenador da Sustentare Assessoria e Consultoria. O jovem município conquistou sua autonomia em 1995 ao se desmembrar de Rio Novo. Segundo André Colombo, historiador pós-graduado em história da arte, a obra coletiva, com 22 capítulos, revisita o passado e traz projeções sobre as próximas décadas a partir do trabalho de 36 autores de diferentes campos de atuação. Mais informações diretamente com o organizador do livro: colombohistoria@gmail.com
PREMIAÇÃO 1
Vamos conhecer os projetos vencedores do Prêmio Sylvio de Vasconcellos 2025, promovido pelo Iepha-MG em parceria com o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Minas Gerais (CAU-MG). Como objetivo, apresentar agentes culturais que contribuíram “de forma exemplar” para o patrimônio cultural mineiro. Na Categoria 1 (Preservação e/ou Salvaguarda do Patrimônio), foram destaque “As cores originais – Estudo para identificação da paleta de cores das fachadas de Ouro Preto”, de OP, e “Restauro e reativação de residência modernista tombada – Galeria d’O Ateliê de Cerâmica”, de BH
PREMIAÇÃO 2
Já na Categoria 2 (Educação e/ou Difusão do Patrimônio), do Prêmio Sylvio de Vasconcellos 2025, foram vencedores os projetos “Memória, Identidade, Cidadania e Futuro – Uma pedagogia inovadora para transformar a relação com o patrimônio por meio de HQs e oficinas artísticas”, de Oliveira, na Região Centro-Oeste, e “Culture-se JF”, de Juiz de Fora, na Zona da Mata. A cerimônia de premiação está prevista para janeiro.
A coluna deseja a todos os leitores um Feliz Ano Novo, com muitas realizações, esperança e preservação do patrimônio cultural. Vamos lutar, cada vez mais, para manter viva nossa história e proteger os bens coletivos de Minas.