Ex-alunos de escola de BH se reúnem 60 anos depois
Hoje, senhoras e senhores com mais de 70 anos, se reencontrar neste sábado (29/11), para celebrar as seis décadas de formatura do antigo curso primário
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"Unidos, animados, criativos, curiosos e inteligentes". É assim que a professora Maria do Carmo Arreguy Corrêa, aos 95 anos, se lembra de seus ex-alunos da turma de 1964 e 1965 do antigo Grupo Escolar de Demonstração do Instituto de Educação de Minas Gerais, que ficava no Bairro Funcionários, na Região Centro-Sul de BH. Hoje, senhoras e senhores com mais de 70 anos, eles vão se reencontrar neste sábado (29/11) para celebrar as seis décadas de formatura do antigo curso primário - atual Ensino Fundamental I.
Uma turma formada por 37 crianças, segundo eles, no início nem sempre foi assim. Nos primeiros anos do primário as lembranças eram mais formais do que afetivas. “A gente era colega, mas não exatamente amigo. Não existia um senso de turma”, recorda Telma Randazzo de Souza, de 71 anos, analista de sistemas aposentada.
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Tudo mudou em 1964 com a chegada da professora Maria do Carmo, uma educadora criativa e exigente, que para eles transformou a convivência da turma. "Com a dona Maria do Carmo, isso mudou muito. Ela discutia muito com a gente sobre respeito, amizade e união. Então foi criando um relacionamento muito forte entre a gente. E, mesmo depois de tantos anos sem contato com alguns, quando nos reencontramos há 10 anos parece que não passou tempo nenhum. Parece que convivemos a vida inteira", conta Telma.
Ali, naquela sala movimentada, barulhenta e cheia de curiosidade, nasceu o espírito da famosa “turma da D. Maria do Carmo”, com aulas divertidas que incluíam música, teatro, leitura no chão, trocas de carteira, excursões e até lições inusitadas para crianças de 9 e 10 anos.
Exigente com a língua portuguesa, apaixonada pela arte e curiosa por ciência, ela estimulava seus alunos a descobrir o mundo. Maria de Fátima de Castro Bessa, de 71 anos, lembra das aulas. “No terceiro ano ela nos ensinou como funciona um motor de carro. E no quarto ano, ensinou puericultura, aprendemos a dar banho em bebê, cuidar do umbigo. Quando tive minha filha, me lembrei exatamente do que ela ensinou. E a história do motor e o interesse da professora por ciência me influenciou a cursar física", recorda.
Após a formatura, a vida levou cada um para um lado. Alguns seguiram juntos e outros, como Maria de Fátima Beirão, de 70 anos, ficaram décadas sem notícias da turma. “Alguns fizeram o ginásio juntos, mas eu fiquei sem vê-los até pouco antes da comemoração dos 50 anos", conta professora aposentada.
Anos se passaram e, para muitos, o reencontro da turma parecia impossível. Mas próximo do aniversário de 50 anos da turma, um pequeno grupo de alunos e a professora Maria do Carmo, decidiram tentar reunir todos que fizeram parte da turma de 1965. A missão exigiu persistência, memória e internet. “Procuraram contatos por telefone, Facebook, o que aparecesse. Cada vez que localizamos alguém, agregava mais gente, e o grupo foi crescendo", conta Telma.
O resultado surpreendeu a todos: quase a turma inteira foi localizada. E, principalmente, quase todos aceitaram o convite. Dos 37 formados, 30 comparecem a festa. E, para muitos, o reencontro foi como voltar no tempo. "Foi uma experiência incrível porque foi um misto de resgatar memórias e voltar a se conhecer, agora como adultos", descreve Maria de Fátima Bessa.
Depois desse dia, o grupo simplesmente se recusou a desaparecer novamente. Criaram um grupo de WhatsApp, organizaram cafés, almoços, encontros casuais. Hoje, são parte ativa da vida uns dos outros. “A gente fala todo dia. Outro dia passamos horas discutindo uma regra de português por causa de uma atividade da minha neta. Coisa de turma que teve uma professora exigente e inesquecível", conta Telma.
O elo da turma sempre foi a professora. Em quase todos esses encontros, ela esteve presente. Quando perguntado quem é a professora favorita até hoje, a resposta é unânime: Maria do Carmo. “Eles disputam lugar ao meu lado. Isso é a minha coroa de professora", diz ela, emocionada.
Celebração dos 60 anos
Entre risos e recordação, a celebração dos 60 anos será marcada também pela saudade. Dos 30 ex-alunos presentes na festa de meio século, ao menos quatro não vão mais participar. Marcos Souza Lima (o Marquim) e Patrícia Medeiros Viana e Giovanni Verdolim morreram, mas serão representados por seus parceiros. Adriana, anfitriã da festa dos 50 anos, enfrenta problemas de saúde e também não estará presente.
A turma preparou homenagens especiais: balões de gás com os nomes deles serão soltos enquanto toca a música “Canção da América”, de Milton Nascimento. Uma despedida simbólica, poética, afetuosa. “É nossa forma de dizer que eles continuam conosco. Cada um deixou sua marca", diz Telma.
O reencontro vai além de uma celebração. "É relembrar os anos que estivemos juntos, as nossas vivências, o que o Instituto de Educação, uma escola modelo na época, representou para cada um de nós. São muitas risadas, emoções e também saudades", conta Maria de Fátima Beirão.
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Para a professora, a comemoração é mais do que especial. “Criamos uma relação de confiança que virou amor. Não consigo vê-los velhos, apesar de já serem senhores. Ver eles reunidos é uma das maiores alegrias que já tive. Nesta vida cheia de dificuldades, é emocionante ver pessoas maduras com alma de criança”.
Antes da festa, ela deixa um recado para sua turma tão querida: "Mantenham essa chama que vocês têm acessa. Se sintam amados, fortalecidos pela fé, pelo estudo, pelo amor que carregam e pela união, que é raríssima. E que principalmente contem sempre com a velha mestra", conclui.
*Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice