Pesquisadores de BH partem de motorhome em expedição de 3 mil km até Belém
Instituto brasileiro vai coordenar espaço inédito sobre adaptação urbana durante a COP 30, em Belém, reunindo especialistas para discutir resiliência climática
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Pesquisadores de Minas Gerais iniciam neste sábado (1/11) uma expedição inédita de mais de 3 mil quilômetros rumo à Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), que será realizada entre os dias 10 e 21 de novembro, em Belém (PA).
A jornada é conduzida pelo Instituto Bem Ambiental (Ibam), com apoio de instituições parceiras, e percorrerá quatro biomas brasileiros Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga e Amazônia registrando impactos das mudanças climáticas e soluções locais de adaptação e resiliência urbana.
Um estúdio sobre rodas
A equipe composta por cinco pessoas viajará em um motorhome multimídia, equipado com antena de internet via satélite, câmeras internas e externas e infraestrutura de produção audiovisual. O veículo funciona como um estúdio itinerante, de onde serão produzidos vídeos, podcasts e transmissões ao vivo, além de um documentário, um livro-reportagem e uma exposição fotográfica. Pesquisadores, arquitetos, urbanistas, biólogos e comunicadores integram a caravana, que pretende conectar conhecimento científico, saberes populares e experiências tradicionais.
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Segundo o biólogo e diretor executivo do Ibam, Thiago Metzker, a missão é traduzir a governança climática global em ações perceptíveis no cotidiano das pessoas. A expedição vai documentar projetos locais de adaptação e iniciativas comunitárias que enfrentam diretamente os efeitos das mudanças do clima.
O grupo percorrerá mais de 2.800 quilômetros até Belém, passando por cidades que exemplificam tanto os impactos quanto às respostas da população diante de eventos extremos.
Metzker destaca que a expedição é uma forma de aproximar as decisões globais da realidade brasileira. O Ibam pretende mostrar que o financiamento climático precisa chegar aos territórios, evitando que os recursos se concentrem apenas em grandes projetos de longa duração.
Ele observa que a perda de biodiversidade é central na crise climática e lembra que espécies da Mata Atlântica já estão migrando para áreas mais altas em busca de temperaturas mais amenas um sinal de que o aquecimento global, que já ultrapassou 1,5°C, começa a alterar o equilíbrio ecológico de forma irreversível.
Roteiro
A viagem vai partir de Belo Horizonte neste sábado (1º/11), onde o motorhome registrará áreas afetadas por enchentes, ilhas de calor e impermeabilização do solo. No percurso, serão observadas soluções locais como drenagem sustentável, corredores ecológicos, recuperação de nascentes e arborização urbana.
De Curvelo, cidade situada entre o Cerrado e a Mata Atlântica, a equipe seguirá para Paracatu, Brasília, Palmas, Imperatriz e, por fim, Belém. O roteiro inclui encontros com comunidades rurais, pesquisadores, gestores públicos e organizações da sociedade civil.
Paulo Guerra, diretor de programas da Fundação Dom Cabral e integrante da expedição, explica que a rota foi planejada para abranger quatro biomas e evidenciar a diversidade ambiental e social do país. A proposta é construir pontes entre o conhecimento popular, tradicional e acadêmico, criando espaços de diálogo e escuta. Segundo ele, serão organizadas rodas de conversa em cada cidade visitada, com registro de depoimentos e experiências em um diário de bordo que reunirá relatos e soluções locais.
Pontes entre territórios e a COP 30
A chegada a Belém, no dia 9 de novembro, marcará o início das atividades no Pavilhão Cidades Resilientes espaço coordenado pelo Ibam na chamada Blue Zone da COP30. O pavilhão será o primeiro brasileiro dedicado exclusivamente à adaptação urbana e planejamento territorial resiliente.
Com curadoria técnica do Ibam e apoio do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR), do Conselho Federal de Química (CFQ) e do grupo MYR, o pavilhão reunirá mais de 200 especialistas e 50 atividades. Serão discutidos temas como infraestrutura verde, drenagem sustentável, transição energética, financiamento climático e educação ambiental.
Sérgio Myssior, arquiteto e presidente do Ibam, destaca que o objetivo é conectar as vozes dos territórios às discussões globais. Para ele, as cidades brasileiras já enfrentam os efeitos diretos da crise climática deslizamentos, enchentes, inundações, ilhas de calor e doenças tropicais e precisam ativar sua capacidade de transformação.
A urgência da adaptação
A equipe também quer chamar atenção para o impacto social da crise climática. Um estudo da Prefeitura de Belo Horizonte, de 2016, já alertava que, sem medidas estruturais, 68% dos bairros da capital estariam em situação de alta vulnerabilidade até 2030. Para Myssior, as mudanças do clima não atingem a todos igualmente afetam de forma mais severa as populações com menor acesso à infraestrutura, saneamento e serviços públicos.
A expedição pretende, portanto, transformar os relatos e dados coletados em insumos para políticas públicas e propostas de cooperação internacional. Ao chegar à COP 30, os pesquisadores apresentarão um conjunto de recomendações e estudos produzidos ao longo da viagem, simbolizando a entrega das vozes dos territórios ao debate global.
Mais do que uma travessia de 3 mil quilômetros, a jornada quer mostrar que a transição climática começa nas cidades, nas comunidades e nos biomas brasileiros e que o país tem potencial para liderar, a partir da experiência local, a construção de um futuro mais resiliente e sustentável.
Pavilhão Cidades Resilientes
O Pavilhão Cidades Resilientes, que o Ibam coordenará em Belém, será o primeiro espaço brasileiro dedicado exclusivamente à adaptação urbana. Durante a COP 30, o local reunirá representantes de governos, universidades, entidades técnicas e organismos internacionais para discutir infraestrutura verde, drenagem sustentável, transição energética, financiamento climático e educação ambiental.
Segundo Sérgio Myssior, uma cidade resiliente é aquela capaz de ativar sua própria capacidade de transformação. Ele explica que qualquer município — pequeno, médio ou grande pode melhorar a qualidade de vida da população por meio de infraestrutura verde, soluções baseadas na natureza e dispositivos urbanos que ofereçam conforto, segurança e bem-estar.
“Precisamos traduzir a linguagem das mudanças climáticas em ações objetivas, percebidas no cotidiano das pessoas”, afirma. Entre essas medidas, Myssior cita moradia próxima a oportunidades de trabalho, assistência técnica para habitação, jardins de chuva, corredores ecológicos, renaturalização de cursos d’água, caixas de captação de água e refúgios climáticos espaços com sombra, água e descanso distribuídos pela cidade.
Durante a COP 30, o Pavilhão Cidades Resilientes, coordenado pelo Ibam, será uma vitrine de soluções práticas e inovadoras voltadas à adaptação urbana e à redução de riscos climáticos. A programação está estruturada em quatro eixos temáticos principais:
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Adaptação e Infraestrutura Verde Urbana: apresentação de projetos de “cidades esponja” e soluções baseadas na natureza, que demonstram o papel da infraestrutura verde no manejo das águas pluviais e na recuperação de áreas vulneráveis, com a criação de parques lineares e corredores ecológicos.
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Transição Justa e Energias Renováveis: exemplos de municípios e empreendimentos que investem em energia solar e outras fontes limpas, promovendo eficiência energética e geração de empregos locais em uma economia verde e inclusiva.
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Ciência e Financiamento Climático: discussão sobre modelos de mensuração de risco climático e estratégias para que as cidades acessem fundos internacionais, como o Green Climate Fund (GCF) e o Global Environment Facility (GEF), transformando boas ideias em projetos financiáveis.
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Educação, Comunicação e Engajamento Climático: painéis, exposições, podcasts e o lançamento de um documentário sobre a expedição buscam aproximar a sociedade da agenda climática, traduzindo temas técnicos em uma linguagem acessível e inspiradora.
Para Myssior, o desafio está em aproximar o debate global das realidades locais, mostrando que pequenas e médias cidades também podem se tornar resilientes. “A resiliência urbana começa no território e na escuta das pessoas. É a partir delas que conseguimos construir soluções sustentáveis e duradouras”, conclui.
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O que é a COP 30?
A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, também chamada de COP 30 informalmente conhecida como “COP da Amazônia” será a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas. O evento está previsto para ocorrer entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025, na cidade de Belém, capital do estado do Pará, e reunirá líderes mundiais para debater e firmar compromissos sobre ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas.
*Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice