Morte de gari: delegada esposa de assassino confesso também é indiciada
Ana Paula Lamego Balbino Nogueira foi indiciada e poderá responder por porte ilegal de arma de fogo. Ela está afastada desde 13 de agosto, por motivos de saúde
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A delegada Ana Paula Lamego Balbino Nogueira, esposa do homem que confessou ter matado o gari Laudemir de Souza Fernandes, em Belo Horizonte, também foi indiciada pelo crime. A servidora pública, que está afastada de suas funções desde a semana do crime, poderá responder por porte ilegal de arma de fogo. O resultado das investigações foi divulgado nesta sexta-feira (29/8), 18 dias depois do homicídio, registrado na Rua Modestina de Souza, no Bairro Vista Alegre, na Região Oeste de Belo Horizonte.
À imprensa, os delegados informaram que a servidora do Governo de Minas Gerais tinha ciência que seu marido usava sua a arma de fogo pessoal. De acordo com a corporação, a informação foi confirmada por conversas trocadas entre o casal.
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A arma que Renê tinha acesso foi usada no homicídio. De acordo com a corporação, os exames periciais realizados entre duas munições apreendidas no local do crime tiveram compatibilidade com a pistola calibre .380 apreendida na casa da servidora pública. O artefato é de uso particular da mulher, e está apreendido desde então.
Dois dias depois da morte do gari Laudemir, a delegada Ana Paula foi afastada de suas funções para tratamento de saúde no Hospital da Polícia Civil, por 60 dias. O pedido, conforme a PCMG, segue “os termos da lei”. A decisão foi publicada no Diário Oficial do estado no último sábado (23/8), sob assinatura do diretor-geral da unidade médica da corporação e pode ter o prazo prorrogado por mais dois meses, conforme avaliação médica. O documento não especifica a condição de saúde da servidora.
Nessa quinta-feira (28/8), a delegada foi substituída no Comitê de Ética em Pesquisa da Academia da Polícia Civil do Estado de Minas Gerais. A decisão foi publicada no Diário Oficial do Estado (DOE), em meio a um afastamento da servidora por licença médica. Conforme o ato, assinado pela delegada-geral da Polícia Civil Yukari Miyata, a servidora foi substituída por uma professora. A publicação não deixa claro se a mudança é definitiva.
Desde 11 de agosto, a Corregedoria da PCMG instaurou um procedimento administrativo para investigar a participação da delegada no crime. No dia, Ana Paula foi levada até a sede do órgão correcional para ser ouvida em relação ao uso de sua arma pessoal no possível crime. Na ocasião, segundo repassado à imprensa pelo porta-voz da corporação, o delegado Saulo Castro, a servidora afirmou que o marido não tinha acesso aos dois artefatos. Além disso, a delegada afirmou que não tinha nenhuma informação em relação ao crime em que o companheiro foi preso por suspeita de participação.
Fascínio por armas
Renê foi indiciado por homicídio qualificado - por motivo fútil e recurso que dificultou a defesa da vítima-, ameaça à motorista do caminhão de coleta e porte ilegal de arma de fogo. Durante coletiva de imprensa, o delegado responsável pelo caso, Evandro Radaelli, explicou que além da comprovação do envolvimento do empresário na morte de Laudemir, as investigações indicaram que ele possui "fascínio" por armas de fogo e o "poder" que o armamento o concedia.
Radaelli explica que durante análises feitas no aparelho celular do investigado foram encontradas imagens em que ele exibe diversas armas. Em alguns vídeos, o homem aparece fazendo disparos. Ainda segundo o chefe da investigação, o artefato não é o mesmo usado no crime registrado no Bairro Vista Alegre.
Como foi o crime
Laudmir de Souza Fernandes trabalhava, junto com outras quatro pessoas, na Rua Modestina de Souza, por volta das 8h55, quando a motorista do caminhão, uma mulher de 42 anos, parou e encostou o veículo para que uma fila de dez carros pudessem passar. A via de mão dupla, segundo relato de testemunhas, fica próximo da Avenida Tereza Cristina. Em determinado momento, o último veículo, identificou um carro, modelo BYD da cor cinza, teria enfrentado dificuldades para passar pelo caminhão e, por isso, a motorista e um dos garis teriam indicado ao motorista que o espaço seria suficiente.
Em seu depoimento à Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), a condutora do caminhão de coleta, identificada como Eledias Aparecida Rodrigues, afirmou que enquanto recebia as instruções dos funcionários, o motorista do BYD pegou uma arma preta, fez movimento para engatilhar a arma e apontando para ela disse: “Se você esbarrar no meu carro eu vou dar um tiro na sua cara, duvida?”.
Diante das ameaças feitas à colega, uma segunda testemunha afirmou que os demais trabalhadores tentaram acalmar o suspeito e pediram que ele seguisse seu caminho. Mesmo assim, segundo o boletim de ocorrência, o homem desembarcou com a arma em punho, deixando o carregador cair. Ele então o recolocou, manobrou a arma e efetuou um disparo em direção à vítima. Laudemir chegou a ser socorrido e encaminhado para o Hospital Santa Rita, no Bairro Jardim Industrial, em Contagem, mas faleceu.
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Imagens de câmera de segurança flagraram o momento em que o gari saiu correndo já ferido. Na gravação é possível ver o momento que o carro que seria do investigado, vira na rua em que o caminhão de coleta estava parado. O veículo então para por um segundo, segue em frente e os demais que estavam atrás passam a dar ré e sair da via. Na sequência, dois garis saem correndo e um deles coloca a mão na região do abdômen e cai no chão. Ele é amparado por um colega que segura sua cabeça.
O que acontece agora?
- O resultado das investigações e indiciamento do suspeito serão enviados ao Ministério Público de Minas Gerais;
- Após o recebimento dos documento, o MPMG tem até dez dias para denunciar, ou não, o indiciado à Justiça;
- Além dos crimes relatados na conclusão do inquérito o MPMG pode acusar o homem por outros delitos;
- A delegada Ana Paula Lamego Balbino Nogueira vai continuar afastada, por motivos de saúde;
- A Corregedoria da PCMG continua as investigações administrativas contra a servidora.