Golpe em revendedora de luxo: dez pessoas já denunciaram empresa de BH
Três pessoas ligadas à empresa são investigadas por associação criminosa e estelionato. Supostos crimes foram denunciados em 7 de junho
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Siga noDez pessoas já procuraram a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) para denunciar um suposto golpe aplicado por proprietários de uma revendedora de carros de alto padrão, localizada na Avenida Barão Homem de Melo, no Bairro Nova Granada, na Região Oeste de Belo Horizonte.
As primeiras denúncias foram feitas em 7 de junho, depois que a Polícia Militar (PMMG) foi acionada por um cliente que alegou ter tido um prejuízo de R$ 159 mil. Do outro lado, a defesa do proprietário da agência ingressou uma queixa-crime a quatro homens por calúnia, ameaça e difamação contra o empresário e a empresa. O caso envolve disputas sobre negociações de veículos e denúncias públicas.
Desde que os casos ganharam notoriedade, a PCMG instaurou um inquérito para apurar as denúncias. Ao Estado de Minas, o delegado Roberto Veran afirmou que dez pessoas já procuraram a corporação, e todas foram ouvidas. Ele explicou que as investigações ainda estão em curso, porém já foi possível identificar que três pessoas estariam envolvidas nas supostas práticas criminosas: dois proprietários e um vendedor. Eles estão sendo investigados por associação criminosa e estelionato.
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De acordo com o delegado responsável pelo caso, as investigações já mostraram que, em todas as denúncias, as vítimas foram interceptadas em um site de compra e venda. Veran explica que as vítimas anunciavam seus veículos na plataforma e eram procuradas pelos responsáveis pela revendedora que propunha fazer a intermediação do negócio. Para isso, um contrato de consignação de 30 dias era assinado pelas partes. No entanto, os valores não eram repassados nem os carros, devolvidos.
“Quando a vítima começava a cobrar o carro, os investigados passaram a ficar mais invasivos pedindo que ela esperasse mais um pouco afirmando que o veículo seria vendido. Só que o dinheiro nunca aparecia, até um certo momento que eles pararam de atender o telefone. A vítima ligava, eles pediam mais tempo, e depois de um tempo o telefone era desligado. [...] Algumas vítimas, os investigados repassaram até uma certa quantidade, mas era um valor irrisório perto do valor total do veículo”, diz
Veran afirma que as denúncias são de supostos crimes praticados desde o início deste ano. O delegado explica que muitos carros que seriam adquiridos em Belo Horizonte foram enviados para o interior do estado, como em João Monlevade, na Região Central de Minas. Para ele, é possível que haja outras vítimas.
“É importante que essas possíveis vítimas procurem a delegacia para que possamos ter conhecimentos de todos. É bem possível que os investigados tenham cometido crimes semelhantes em outros locais. As investigações ainda não chegaram nessa fase, mas a forma de agir deles também inclui utilizar uma pessoa jurídica e, depois do estelionato, criar um outro CNPJ”, afirma o delegado.
R$ 30 milhões de prejuízo
Em uma das denúncias, um empresário alega que o prejuízo causado pelo proprietário da loja Diamond Motors, só a ele, chega a R$ 950 mil. Conforme o boletim de ocorrência registrado pela Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), a vítima que também atua no ramo de compra e venda de carros, em Divinópolis, na Região Centro-Oeste do estado, disse que, há cerca de dois anos, negocia a compra e a venda de veículos com o proprietário da loja. Porém, segundo ele, os veículos eram vendidos, e os valores não eram repassados aos verdadeiros donos dos automóveis.
Na denúncia, o denunciante afirmou que o investigado utilizava os veículos para fazer financiamentos com bancos, mesmo após a venda e quitação dos valores. Procurado pela reportagem, o homem contou que foi vítima de três golpes da agência de BH. Em um deles, na compra de uma Mercedes-Benz GLE 400 em janeiro deste ano, o empresário descobriu que o veículo estava financiado, e, para que fosse liberado, foi necessário pagar o valor novamente do veículo.
Na segunda ocasião, a vítima comprou na loja uma caminhonete Amarok, da Volkswagen, e o dono original não recebeu o pagamento do veículo. Com isso, o proprietário original se recusou a passar o documento para o nome do empresário, que está com um carro sem documentação.
Já no terceiro problema, a vítima conta que repassou ao proprietário da loja duas caminhonetes Dodge RAM, com pagamento combinado de dez vezes. Segundo ele, o suspeito pagou duas parcelas e deve as outras oito.
“Meu golpe foi de quase R$ 1 milhão. Conheço, uma por uma, as outras vítimas. Antes, eu achava que o golpe era de R$ 10 milhões, depois, de R$ 20 milhões, mas agora, somando todo mundo, chega a R$ 30 [milhões]. [...] Vendo carro há dez anos, e esse é o maior golpe da história do mercado automotivo.. Ele sempre promete, diz que vai resolver, mas como uma pessoa que não tem nada vai 'brotar' R$ 30 milhões? Não vai! É uma dívida impagável”, afirmou.
Queixa-crime
Depois da série de denúncias, em nota, a loja Diamond Motors afirmou desconhecer "representações criminais em face da sociedade empresária e seu sócio". No documento, o advogado Eduardo de Araújo disse que, “na realidade”, a loja foi vítima de estelionato de aproximadamente R$ 2 milhões, por parte de parceiros lojistas novamente em 2025, o que prejudicou o cumprimento de obrigações comerciais.
Nessa terça-feira (17/6), a defesa dos proprietários da revendedora apresentou uma notificação extrajudicial contra quatro pessoas por calúnia, ameaça e difamação contra o empresário e a empresa. Com dois dos envolvidos, são realizadas tratativas para resolução das dívidas. Já contra os outros dois, houve o registro das queixas por calúnia. O documento é dirigido a um ex-funcionário, um cliente, um vendedor comissionado e um empresário concorrente.
No documento, que a reportagem teve acesso, o advogado acusa os quatro de divulgarem conteúdo calunioso e difamatório nas redes sociais e na mídia, entre os dias 6 e 11 de junho, contra a empresa e seu sócio-fundador. A notificação também questiona a conduta de um ex-funcionário da Diamond e atual comerciante de veículos, por suposta concorrência desleal. Segundo Eduardo Teixeira, o homem estaria usando sua antiga ligação com a loja para tentar atrair clientes com publicações nas redes sociais. Contra ele, foi apresentada queixa-crime por calúnia no Juízo Criminal da Capital.
O comerciante de veículos de Divinópolis, que conversou com o EM, também foi citado. O advogado destaca que ele e o ex-funcionário não se enquadram como consumidores finais, portanto não podem alegar posição de hipossuficiência diante da empresa. A defesa pretende ainda questionar, na esfera criminal, se as operações dos dois citados estão corretas.
Eduardo Teixeira também compartilhou com a reportagem capturas de mensagens enviadas ao empresário por membros do grupo, com ameaças explícitas. Em uma delas, um dos envolvidos avisa: “Estamos te esperando no destino, pilantrinha”. Outro trecho diz que, se o dinheiro não fosse devolvido, o proprietário da loja “acordaria no caixão”. As ameaças, segundo a defesa, ocorreram presencialmente e por aplicativos de mensagens e foram registradas em boletim de ocorrência pela Polícia Civil.
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Na ocasião, o homem fazia parte de um grupo de aproximadamente 15 pessoas, que cobravam o acusado na porta de um hotel em que ele estaria hospedado, na região do Bairro Vila da Serra, em Nova Lima, na Grande BH, no dia 7 de junho.
Segundo o grupo, o dono da revendedora estava escondido com escolta armada. Porém, conforme a defesa, ele visitava o pai, que mora no hotel.
A empresa solicita que os clientes enviem documentos, contratos, comprovantes de pagamento ou algum documento escrito que comprove acordos comerciais firmados para o e-mail bhdiamondmotors@gmail.com.
“A Diamond Motors pretende preservar e manter sua operação comercial, sendo que a crise de crédito macroeconômica e uma série de descumprimento de obrigações comerciais por terceiros prejudicam todo o setor de veículos de luxo em Belo Horizonte”, diz o documento.