BH: mulheres tomam as ruas da capital por direitos e contra feminicídio
A manifestação foi marcada ainda pela defesa da democracia, da legalização do aborto e do fim da escala 6X1, alvo de uma PEC no Congresso Nacional
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Siga noCom bandeiras e adereços nas cores-símbolo da luta por direitos, as mulheres tomaram as ruas de Belo Horizonte neste sábado (8/3), no Dia Internacional da Mulher. Os atos celebravam a data, mas também serviam de protesto contra o machismo e o feminicídio em Minas Gerais, o segundo estado do país no ranking da violência de gênero, de acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) divulgados em 2024.
A manifestação foi marcada ainda pela defesa da democracia, da legalização do aborto e do fim da escala 6X1, alvo de uma proposta de emenda à Constituição apresentada recentemente pela deputada federal Erika Hilton (PSOL).
Foram dois atos, um logo cedo, na Praça Afonso Arinos, e outro, no começo da tarde, na Praça Raul Soares, ambas na Região Central de BH. Desses locais, as mulheres partiram em caminhada em direção à Praça Sete, ponto tradicional de manifestações na cidade.
Durante os atos, a reportagem do Estado de Minas conversou com algumas participantes sobre os desafios que o gênero enfrenta no Brasil.
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A coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher (Nepem) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Marlise Matos, afirma que o maior deles hoje é enfrentar “o fascismo, o autoritarismo, o conservadorismo e o fundamentalismo religioso vem destruindo os direitos das mulheres”. “Por isso, precisamos construir uma linha de frente de defesa das democracias, e as mulheres têm uma responsabilidade central nisso”, avalia a coordenadora do Nepem, presente no ato.
Escala 6X1 e violência
Para Bruna Simões Araújo, coordenadora em Minas Gerais do Vida Além do Trabalho (VAT), movimento que articula em todo o país a luta pelo fim da escala 6X1, o direito a mais folgas é uma luta importante para toda a sociedade e mais ainda para as mulheres. “Porque para as mulheres, a escala 6X1 nem existe. É 7 a 0 mesmo, todos os dias. Muitas mulheres chegam em casa e ainda têm que fazer janta e cuidar da casa e dos filhos”, afirma Bruna.
A presidente do Conselho da Mulher, Fátima Muniz do Nascimento, também coordenadora do coletivo Clã das Lobas, que reúne trabalhadoras sexuais, destacou que a maior peleja das mulheres hoje é sobreviver. “A mulher não tem um minuto de paz. Todo dia é uma luta, uma violência. A gente vive em um mundo bárbaro, onde as mulheres são caçadas, violadas... Vivemos apreensivas”, assinala.
Para ela, somente a luta coletiva das mulheres pode mudar a ordem das coisas. “Porque é na força, na união, no coletivo que a gente tem força”, defende.
Para Júlia Inês, integrante do Movimento Popular da Mulher (MPM) e da União Brasileira de Mulheres (UBM), a maior dificuldade é obter trabalho digno e bem remunerado e a garantia da presença nos espaços de poder.
“Precisamos que as mulheres tenham autonomia financeira e liberdade de escolha e de mais mulheres no poder. Não são tarefas de curto prazo, mas temos que trabalhar isso, temos que organizar as mulheres para buscar esses objetivos”, enfatiza Júlia, também secretária de Mulheres do PCdoB no estado.
Espaços de poder
Presente no ato, a vereadora de Belo Horizonte Cida Falabella (PSOL), alvo recente de ameaças de morte e violência sexual em razão de sua atuação parlamentar, diz que seguir nesse espaço é um desafio. "Eles ficam tentando parar a gente, fazer com que a gente desista. E o único jeito de resolver isso é resistir coletivamente junto com outras mulheres. É não ter medo e se cercar de cuidados, cuidar umas das outras e mostrar para a sociedade que mulheres podem sim estar em lugares de poder e que, com isso, a sociedade muda de verdade, pois temos uma visão diferente da vida, da natureza, da cultura".
O lema, segundo a vereadora, é não desanimar e, muito menos, desistir, além de contar “sempre umas com as outras”. A parlamentar também defende o fim da escala 6x1 porque, segundo ela, “a vida tem que existir para além do trabalho”, principalmente para as mulheres que enfrentam em seu cotidiano “escassez de tempo”. “As mulheres têm pobreza de tempo na vida delas, isso impede que elas estudem, que elas cuidem da sua saúde, que elas tenham vida e saúde mental”, comenta.
Também vereadora em Belo Horizonte, Juhlia Santos (PSOL) afirma que o principal desafio das mulheres é “permanecer nos lugares" onde elas "chegaram e ocuparam". “Longe de violência, discriminação, racismo e feminicídio, principalmente em Minas Gerais, um dos estados que mais violenta mulheres e pessoas LGBTs. Precisamos mudar essa realidade, mas necessitamos ocupar e permanecer nesses espaços, porque só a partir nós mesmas é que se faz a diferença. É pensar em uma democracia real, incluindo todas as mulheridades”, observa a vereadora, a segunda mulher trans a ocupar uma cadeira na Câmara Municipal de Belo Horizonte.