Irmã de Mariane descreve ela como

Irmã de Mariane descreve ela como "a pessoa mais incrível e batalhadora que conheci na vida"

crédito: Reprodução/Redes Sociais

Uma semana após a morte de Mariane Silva Torres, de 26 anos, ainda é difícil para Nayane falar sobre a irmã. "Ela nunca mudou a essência dela. O que ela era como adulta, sempre foi desde criança."

 

A jovem morreu na última terça-feira (23/4) na Upa Centro-Sul, em Belo Horizonte, e teria sido vítima de uma sucessão de erros médicos. Ela deu entrada no hospital sentindo dores no peito e nas pernas e foi diagnosticada com crise de ansiedade, mas, horas depois, veio a óbito.

 

Um ultrassom feito posteriormente detectou alta quantidade de líquido na região torácica da jovem, o que é incompatível com o diagnóstico inicial. Nesse meio tempo, enquanto agonizava de dor em uma cadeira de rodas, ela chegou a ouvir de uma enfermeira que "quem está gritando assim não está sentindo dor". A família de Mariane acredita que ela foi vítima de negligência.

 

 

Quem era Mariane

 

Mariane Silva Torres nasceu em Coronel Murta, cidade com 8 mil habitantes, localizada no Vale do Jequitinhonha. Caçula de três irmãs, ela veio para Belo Horizonte sozinha ainda adolescente, aos 17 anos, em busca de oportunidades de trabalho que não teria onde nasceu. Poucos meses depois, sua irmã, Nayane Silva Torres, na época com 20 anos, também veio para a capital.

 

"A gente passou dificuldades nessa época. A gente veio em busca de oportunidades melhores, mas o começo é sempre mais difícil. A gente ficava só entre nós duas e mesmo assim a gente sempre correu atrás", relata Nayane.

 

Saiba mais: Familiares acreditam que jovem que morreu em UPA foi vítima de negligência

 

Morar juntas fez com que os laços das duas se fortalecesse ainda mais. A todo momento que fala sobre a irmã, Nayane transparece a admiração que sentia por ela. "Ela poderia estar com o maior problema do mundo, mas se alguém precisasse de ajuda, parece que ela mudava o rosto dela e se colocava a disposição para ajudar."

 

Atualmente, Nayane formou uma família e mora em Esmeraldas, enquanto que Mariane continuou morando sozinha. O namorado dela, João, esteve presente no hospital e acompanhou seus últimos momentos de vida.

 

Nayane conta que um dos sonhos da irmã era de também ser mãe e de ajudar a família. "Mariane viveu intensamente, desde criança até a fase adulta, até o último dia. É como se ela soubesse que a passagem dela aqui seria curta."

 

Uma vida interrompida

 

Segunda a PBH, a Secretaria Municipal de Saúde e a Fundep, responsável pela Upa Centro-Sul, mantêm um convênio desde 2008

Segunda a PBH, a Secretaria Municipal de Saúde e a Fundep, responsável pela Upa Centro-Sul, mantêm um convênio desde 2008

Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press

 

O processo de luto tem sido difícil para a família. Nayane sente que a irmã foi arrancada deles - e assim, romperam com planos e sonhos que tinham juntos. "Pouco tempo antes de tudo acontecer, a gente fez um plano de fazer uma tatuagem juntas. Precisava escolher o desenho. Eu ia pegar folga algum dia para gente fazer, mas não deu tempo."

 

O boletim de ocorrências do caso tem registrado o testemunho de duas pessoas que afirmaram que "Mariane não teve o devido atendimento médico" diante do estado em que se encontrava.

 

Em um primeiro momento, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) afirmou lamentar o ocorrido e que "a paciente recebeu toda assistência necessária enquanto esteve na unidade". E ressaltou ainda que a equipe de atendimento da UPA Centro-Sul estava completa no momento em que Mariane esteve na unidade de saúde.

 

Já na sexta-feira (26/4), a PBH informou que a administração do hospital é de responsabilidade da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep) e que a entidade, ligada à UFMG, teria 72 horas para explicar o caso à Secretaria Municipal de Saúde. A fundação ainda não se manifestou.

 

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Nayane conta que, passados todos esses dias, ninguém do hospital entrou em contato com a família para dar qualquer suporte ou esclarecimento. Eles ainda não tiveram acesso ao prontuário de Mariane já que um funcionário do hospital disse que o documento só poderia ser entregue na presença do pai ou da mãe, mesmo a vítima tendo 26 anos e com a irmã se apresentando como responsável. Enquanto aguarda a conclusão das investigações sobre a morte de Mariane, a família avalia se vai ou não judicializar o caso. “A gente está analisando o caso junto da nossa família para ver o que faremos, mas impune ninguém vai ficar”, conta Nayane.

 

Investigação segue

 

A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informou à reportagem que "aguarda a finalização dos laudos periciais que subsidiarão a investigação que apura as causas e as circunstâncias da morte da mulher de 26 anos". Por fim, o órgão informou que outras informações serão repassadas após a conclusão dos trabalhos.

 

*Com informações de Laura Scardua (sob supervisão do subeditor Thiago Prata)