O chafariz do Centro Histórico de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha de Minas Gerais, foi pichado na última sexta (12); muro foi restaurado no mesmo dia -  (crédito: Reprodução/Redes sociais)

O chafariz do Centro Histórico de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha de Minas Gerais, foi pichado na última sexta (12); muro foi restaurado no mesmo dia

crédito: Reprodução/Redes sociais

Um chafariz histórico foi pichado com os dizeres “transexuais existem” em Diamantina, na Região do Vale do Jequitinhonha de Minas Gerais. O monumento fica na região central de Diamantina, tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e pelo Patrimônio Mundial da UNESCO.

 

As pichações foram feitas nas ruas Macau de Baixo e Macau do Meio, na madrugada de sexta-feira (12/4). A identidade do autor do crime ainda não foi divulgada. O advogado dele, Márchel Alcântara, informou em nota patrocinada nas redes sociais que a pichação tem o objetivo de chamar a atenção para causas sociais.

 

Na publicação do advogado criminalista, postada no domingo (14/4), ele afirma que o suspeito respeita a importância do patrimônio histórico, mas utilizou o chafariz para dar visibilidade à causa LGBTQIAPN+.

 

Moradores da cidade ficaram indignados com o ataque ao monumento e relataram que diversos pontos históricos da cidade vêm sofrendo ataques semelhantes.

  

 

Segundo Alcântara, o autor do crime o procurou na última sexta, mesmo dia da depredação e alegou que o ato é considerado um protesto, já que no dia 6 de abril, três pessoas LGBTQIAPN+, incluindo uma pessoa trans, foram verbalmente humilhadas e fisicamente agredidas na mesma região da cidade, em uma circunstância caracterizadora de preconceito. 

 

Embora a Delegacia de Atendimento à Mulher de Diamantina apure o caso de LGBTfobia ocorrido, para o autor desconhecido, isso não é bastante para conter casos futuros de violência que fazem parte de um contexto sociológico. As pichações, portanto, eram como um pedido de reforço para a defesa de proteção de grupos minoritários, especialmente a comunidade LGBTQUIA+ e a educação.

 

 

“Há um sentimento de revolta por grupos sociais que se sentem marginalizados e sem espaço no debate social enquanto o foco do poder público se direciona à higienização, que cala os desempoderados para perpetuar uma imagem de perfeição turística”, alegou o advogado.

 

Outras pichações em Diamantina

 

Enquanto seguem as investigações de crime ambiental, a secretaria municipal de Cultura e Patrimônio repudiou o ato, considerado vandalismo. Além do chafariz, a Escola Estadual Professor Leopoldo Miranda também sofreu com as escritas. Neste caso, o questionamento “Vamos reformar?” foi escrito com tinta em um dos muros da instituição.

 

Escola Estadual Professor Leopoldo Miranda, localizada no Centro Histórico de Diamantina, em Minas Gerais, foi pichado em protesto contra a precariedade do local

Escola Estadual Professor Leopoldo Miranda, localizada no Centro Histórico de Diamantina, em Minas Gerais, foi pichado em protesto contra a precariedade do local

Reprodução/Redes sociais

 

Segundo o autor da pichação, o colégio se encontra em estado precário, fazendo com que os estudantes sofram com a situação. No entanto, a informação foi rebatida pela secretaria de Cultura e Patrimônio, que afirmou que a instituição passou por uma reforma financiada pelo Programa de Revitalização de Escolas Estaduais de Minas Gerais, finalizada em 2023.

 

De acordo com o secretário de Cultura de Diamantina, Alberis Mafra, a pintura da frente da escola está desgastada devido ao sol e às chuvas, mas o prédio está em perfeitas condições. Alberis reforça, ainda, que o muro da Rua Teófilo Otoni, que também foi pichado recentemente, não sofre com o desgaste climático e, por isso, está com a pintura menos gasta (veja comparação abaixo).

 

À esquerda, muro pichado na Escola Leopoldo Miranda pelo mesmo autor da pichação feita no chafariz; à direita, pichação feita em muro da instituição que não pega tanto sol e chuva

À esquerda, muro pichado na Escola Leopoldo Miranda pelo mesmo autor da pichação feita no chafariz; à direita, pichação feita em muro da instituição que não pega tanto sol e chuva

Reprodução/Redes sociais

 

Além das pichações que o autor defendido por Márchel assumiu, o município tem sofrido com a depredação constante em outros pontos da região central. De acordo com a secretaria de Cultura e Patrimônio, existe uma rota de cerca de 750 metros em que o patrimônio tem sido alvo (veja imagem abaixo). Em nota, o órgão também reforçou que vai continuar trabalhando para que atos como este não se repitam e conta com o apoio da população para "manter a cidade limpa, bela e respeitosa com sua história".

 

Patrimônios que se encontram em uma rota de cerca de 750 metros no Centro Histórico de Diamantina (MG) tem sido alvo de pichações

Patrimônios que se encontram em uma rota de cerca de 750 metros no Centro Histórico de Diamantina (MG) tem sido alvo de pichações

Reprodução/Google Maps

 

“A Secretaria de Cultura e Patrimônio reforça seu compromisso com a vigilância constante, assegurando a preservação de nossa herança cultural e o respeito que cada cidadão merece. Não toleraremos ações que depreciem a riqueza histórica e cultural que pertence a todos nós”, diz a nota.

 

 

Para o secretário do órgão, se os responsáveis pela depredação continuarem impunes, novas pichações poderão surgir. “A pichação e depredação do patrimônio histórico prejudicam a imagem da cidade, diminuem o senso de pertencimento da população e impactam negativamente a educação das crianças. A proteção e preservação desses patrimônios são essenciais para manter a identidade cultural e educar as futuras gerações. A conscientização sobre a importância do patrimônio histórico é um passo fundamental”, afirma Mafra.