Cada vez mais gordo e tranquilo, o meme é uma marca da história de BH e surgiu a partir de matéria publicada em 2 de janeiro de 2014 -  (crédito: Arte sobre foto de Ana Claudia Parreiras de Freitas)

Cada vez mais gordo e tranquilo, o meme que faz parte da história de BH surgiu a partir de matéria publicada em 2 de janeiro de 2014

crédito: Arte sobre foto de Ana Claudia Parreiras de Freitas

Matérias criadas despretensiosamente tomaram proporções muito grandes e se tornaram “memes” com a internet, sendo repetidas muitos anos depois de suas divulgações. Clássicos como “Caetano Veloso passeia pelo Leblon e estaciona o carro”, publicada em 2011 no Terra, ou “Chico Buarque compra baguetes para o lanche da tarde”, do extinto Ego, em 2009.

Em 2 de janeiro de 2014, texto publicado no site do Estado de Minas com o título “Jacaré da Pampulha está cada vez mais gordo e tranquilo” entrou para essa lista de matérias-meme e, 10 anos depois, ainda é lembrada para se referir a um estado de espírito único. Um meme recorrente após as ceias das festas de fim de ano.

No Sabia Não, Uai! de hoje, o último desta terceira temporada, conheça a história por trás desse meme, que fez o Jacaré da Pampulha ser conhecido ao redor do mundo.

 

O banho de sol de Juscelino

O ponto de partida para o meme do Jacaré da Pampulha foi uma foto tirada por Ana Cláudia Parreiras de Freitas, moradora da Pampulha. Ela flagrou Juscelino, apelido dado ao tal “Jacaré da Pampulha”, num banho de sol às margens da lagoa, perto da rotatória da Avenida Alfredo Camarate. O que diferenciava o animal dos outros que viviam na lagoa era o seu tamanho, o maior de que se tinha notícia.

Ela enviou a foto para seu irmão, o repórter do Estado de Minas Mateus Parreiras, que sugeriu aos seus editores uma reportagem contando a história do maior jacaré da Pampulha. Junto com a foto, o repórter repassou algumas informações preliminares que poderiam ser úteis para quem fosse fazer a matéria nos dias seguintes.

Contudo, a notícia foi publicada com poucas informações detalhadas. O texto final dizia que mesmo vivendo na poluição da Lagoa da Pampulha, “entre lixo que bóia e a camada verde espessa de algas mortas, um dos jacarés que habitam o reservatório aparece cada dia mais gordo, sinal de boa alimentação e saúde do réptil ainda que em meio ao ambiente degradado”.

Para completar, quem publicou o texto incluiu que capivaras e outros animais da lagoa “servem de banquete para os jacarés”. Por fim, “neste calor de início de ano, o réptil aproveita o sol para se espreguiçar, sem dar muita bola para os turistas e passantes que o fotografam cada vez mais de perto”. A partir destas informações, é justificável a manchete da notícia, afinal, Juscelino estava realmente cada vez mais gordo e tranquilo.

 

A estrela da Pampulha

Os jacarés que vivem na Lagoa da Pampulha são da espécie jacaré-de-papo-amarelo, considerada de pequeno porte, e medem entre dois a três metros de comprimento. Não há consenso sobre como esses animais chegaram lá. Alguns dizem que um morador foi quem os introduziu na lagoa, outros dizem que eles teriam vindo depois de uma enchente no zoológico. Porém, biólogos dizem que o mais provável é que eles viviam na região antes de a lagoa ser construída, nas décadas de 1930 e 1940.

Os jacarés são animais de hábitos noturnos. Ao longo do dia, aproveitam os momentos de calor para tomar banho de sol – e nessas horas é que chamam a atenção de quem usa a orla da lagoa para fazer caminhadas ou pedalar.

Juscelino, a estrela da Pampulha e do meme, se destacava pelo seu tamanho. Em julho de 2016, quando foi encontrado morto boiando nas águas da Pampulha, o jacaré pesava cerca de 100 quilos e media 3,2 metros de comprimento. Foi aberta uma investigação na época para determinar a causa da morte do animal e estudar o que poderia ter levado o jacaré a crescer tanto.

“Se trata de um jacaré mais velho. O tamanho também intriga. A Lagoa da Pampulha é um ambiente muito modificado e ainda é preciso determinar se algum fator específico possibilitou o crescimento desse espécime”, disse o pesquisador Eder Aguiar Faria Júnior, do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Veterinária da UFMG, em entrevista na época. (Com Mateus Parreiras)

 

Sabia Não, Uai!

O Sabia Não, Uai! mostra de um jeito descontraído histórias e curiosidades relacionadas à cultura mineira. A produção conta com o apoio do vasto material disponível no arquivo de imagens do Estado de Minas, formado também por edições antigas do Diário da Tarde e da revista O Cruzeiro.

O Sabia Não, Uai! foi um dos projetos brasileiros selecionados para a segunda fase do programa Acelerando Negócios Digitais, do Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ), programa apoiado pela Meta e desenvolvido em parceria com diversas associações de mídia (Abert, Aner, ANJ, Ajor, Abraji e ABMD) com o objetivo de atender às necessidades e desafios específicos de seus diferentes modelos de negócios.