Depois de deixar seu apartamento delegada Monah Zein foi sedada e encaminhada pelo Samu a um hospital da capital  -  (crédito: Isabela Bernardes/EM/DA. Press)

Monah Zein foi encaminhada pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) ao Hospital Unimed, situado na Avenida do Contorno

crédito: Isabela Bernardes/EM/DA. Press

O caso da delegada Monah Zein, que passou 32 horas trancada em sua própria casa em Belo Horizonte, ainda tem lacunas não explicadas. Entre as 9h de terça-feira (21/11) e as 17h de quarta-feira (22/11), um cerco policial foi montado no entorno do condomínio e no prédio onde ela vive. O motivo da mobilização, porém, ainda não está claro. Além disso, no decorrer do caso, outras situações de dúvida foram surgindo.

O Estado de Minas separou sete dúvidas ainda não respondidas e o que se sabe, até o momento, sobre cada uma delas.

O que a Polícia Civil foi fazer na casa de Monah?

Segundo a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), o cerco se formou depois que Monah teria publicado mensagens em um grupo de delegados sobre o suicídio de um investigador do Coordenadoria de Recursos Especiais (Core).

Uma fonte ligada à PCMG afirmou que os policiais "ficaram preocupados" com o teor das postagens e, por isso, decidiram ir até a residência buscar sua arma. Entretanto, não tinham mandados válidos para entrar na casa.

Durante a terça-feira, Monah começou uma live no Instagram e reclamou da atuação dos agentes. Na transmissão ao vivo, ela narra as tentativas da polícia de entrar e afirma que tem sido perseguida por pessoas da corporação, em decorrência de denúncias de assédio que registrou.

Quais provas a PCMG tem de que ela tiraria a própria vida?

Na live, a delegada também divulga que, na segunda-feira (20/11), um dia antes de sua volta das férias, os "atos humilhantes, assediadores, bizarros, adoecedores" cometidos por pessoas da corporação voltaram a acontecer. Apesar disso, ela reforça que não queria tirar a própria vida.

“Em nenhum momento dei a entender que tiraria minha vida. Dei a entender que não ia voltar para aquele purgatório. Meus pedidos para a corregedoria são simplesmente ignorados. Apresentei na ouvidoria do Estado, na ouvidoria da Polícia, na corregedoria, no fiscal do MPMG”, disse Monah em um dos momentos da transmissão.

Mesmo após os policiais saberem que ela estava viva em casa e pedindo para eles irem embora, o cerco continuou. Os agentes da Patrulha Unificada Metropolitana de Apoio (Puma) saíram; em seguida, a Core chegou. O porta-voz da PCMG, Saulo Castro, informou que os agentes de segurança permaneceram no local com diversos armamentos, “porque se tratava de uma pessoa com duas armas em casa, e todos os protocolos de segurança da equipe seriam seguidos”.

Por que a água e a luz da casa dela foram cortadas durante as negociações?

Quando a delegada estava há 30 horas no apartamento, ela publicou uma nota na rede social afirmando que ambos os fornecimentos foram interrompidos. Ela também disse que a comida havia acabado.

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Post foi publicado nos stories da delegada às 15h28 de quarta-feira (22/11)

Reprodução/ Redes Sociais

A PCMG não respondeu se aconteceram os cortes.

Por que expediram um mandado de busca e apreensão somente na quarta-feira?

Ainda sem autorização para entrar na casa da delegada, as equipes permaneceram no prédio, negociando a saída dela do apartamento. Somente quando foi convencida a deixar o local — pelos advogados e pela mãe —, é que a polícia divulgou ter um mandado de busca e apreensão para encontrar outra arma que ela teria.

Onde está a segunda arma?

Na live do Instagram, é possível ver Monah segurando duas armas. Ela entregou a primeira aos policiais. A outra teria continuado com ela, mas não foi localizada pela PCMG — que entrou no apartamento quando ela saiu.

Por que ela está no Centro de Terapia Intensiva (CTI), se antes estava bem?

Monah se gravou no Instagram diversas vezes. Além do rosto, ela também apareceu em pé, fisicamente bem e caminhando pelo apartamento. Quando foi convencida a sair de casa, desceu o elevador e se deparou com muitos policiais no prédio.

A imprensa, que acompanhava a situação do lado de fora, pôde ouvir os gritos da delegada, que foram cessados de repente.

Cerca de 10 minutos após os pedidos de “não encostem em mim”, Monah deixou o local escoltada por mais de dez policiais, desacordada em uma maca, com oxigênio e soro na veia. A mãe e os advogados acompanharam a saída dela até o Hospital da Unimed.

Segundo a advogada Jucélia Braz, ela foi sedada. Não houve divulgação de como ocorreu a sedação.

Já no hospital, a delegada foi levada para o CTI. A PCMG não explicou o estado de saúde ou em quais condições Monah foi levada ao pronto-socorro.

O procedimento feito com essa servidora será padrão na polícia?

Ao longo de todo o caso, a Polícia Civil reafirmou estar “preservando a vida da delegada” e dos agentes de segurança que estavam no momento que ela teria efetuado os disparos. (A dinâmica dos tiros também não foi esclarecida).

Diante da operação, motivada pela preocupação com um possível suicídio da servidora, restam dúvidas se esse procedimento será adotado caso outros colaboradores da polícia civil apresentarem situações semelhantes.

Todas as dúvidas foram encaminhadas para a Polícia Civil, que retornou ao Estado de Minas no início da tarde desta sexta-feira (24/11). Em nota, a corporação afirma que "todas as informações sobre o caso foram amplamente divulgadas no pronunciamento realizado pela PCMG nessa quinta-feira (23/11)”.