Delegada alega que têm sofrido constantes assédios morais dentro da corporação -  (crédito: Leandro Couri/EM/D.A Press)

Delegada alega que têm sofrido constantes assédios morais dentro da corporação

crédito: Leandro Couri/EM/D.A Press

Uma sindicância instalada contra a delegada Monah Zein pode ter desencadeado os episódios que culminaram na confusão envolvendo a delegada com policiais no Bairro Ouro Preto, na Região da Pampulha, em Belo Horizonte.

Segundo apurou a reportagem, o procedimento foi iniciado em 2022 devido a uma divergência de horas de ponto da delegada. No documento, consta que a Corregedoria apontou que "a mesma se ausentou durante uma lavratura do auto de prisão em flagrante (APF) num período de mais ou menos quatro horas, compreendido de 10h50min a 14h54min, oportunidade em que os policiais não conseguiram estabelecer contato com a Dra. Monah Zein".

Segundo um dos advogados da delegada, Leandro Martins, o procedimento começou após ela relatar as denúncias de assédio dentro da instituição. “Ela teria que ser chamada e se explicar. Não foi oportunizado ela falar, já chegaram e deram a remoção de ofício. Verificamos uma desproporcionalidade do que aconteceu com o resultado. O pior disso é não dar a ela o direito de se defender ou se explicar”, disse o advogado.

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O defensor explica que a sindicância apurada seria devido a horas não computadas. Segundo o advogado, ela estava no horário de almoço e, mesmo assim, o motivo pela falta de horas no banco da instituição não foi aceito.

“A sindicância foi instaurada por um problema de encerramento de horas. Seria 2h40, mas 2 horas seriam de almoço. Quem instaurou a sindicância não olhou o almoço”, explicou.

Transferência

O procedimento acabou gerando uma transferência da delegada para o interior de Minas, que acabou sendo negada em uma sentença da Justiça mineira. A sentença a qual o advogado se refere foi divulgada na segunda-feira (20). A Justiça de Minas Gerais acatou o pedido da delegada para a não mudança.

Segundo a decisão judicial, o estado foi condenado a anular o ato de remoção.

Relembre o caso

No início desta manhã, a movimentação no local foi de troca de turno entre policiais e o SAMU. Ainda não há um desfecho para a situação. Ainda na noite de ontem, a delegada postou várias mensagens no Instagram reclamando da atuação dos agentes. Na mensagem, Monah questiona a chegada dos policiais da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE) em sua residência.

“Acordei após bandidos chegarem sem mandado judicial, sem determinação da PC […] criminosos que me deram até tiro de choque. Só cego não enxerga o que acontece aqui”, diz ela.

“Nem traficante pode passar por essa humilhação às 23h, retirem essas pessoas da minha porta”, completou.

Em outra mensagem publicada, a delegada diz que vai dormir em casa e procurar o exército quando acordar. “Amanhã cedo eu tô saindo para procurar ajuda no exército porque não é possível passar por isso”, disse.

O prédio da servidora foi cercado depois que ela teria publicado mensagens em um grupo de delegados sobre o suicídio de um investigador do CORE.

Segundo uma fonte ligada à PCMG, um dos responsáveis pela ocorrência envolvendo Monah afirmou que os policiais "ficaram preocupados" com o teor das postagens e, por isso, decidiram ir até a residência buscar a arma da delegada.

No entanto, em live divulgada nas redes sociais, Monah afirma que tem sido perseguida por pessoas da corporação, em decorrência de denúncias de assédio que registrou. Na transmissão, ela conta que, nessa segunda-feira (20/11), um dia antes da volta das férias, os "atos humilhantes, assediadores, bizarros, adoecedores" cometidos por pessoas de dentro da corporação voltaram a acontecer.

Aos mais de 700 espectadores, a delegada relata que apresentou diversas denúncias sobre o que estava passando aos órgãos competentes, mas que nenhuma delas foi investigada.

"Em nenhum momento dei a entender que iria tirar minha vida. Dei a entender que não ia voltar para aquele purgatório. Meus pedidos para a Corregedoria são simplesmente ignorados. Eu apresentei na ouvidoria do Estado, na ouvidoria da Polícia, na corregedoria, no fiscal do MPMG”, diz.

As denúncias de assédio, segundo aponta uma fonte ouvida pelo Estado de Minas, culminaram em uma sindicância da Corregedoria da corporação contra a delegada. A investigação gerou um pedido de remoção da policial de Conceição do Mato Dentro, delegacia onde estava lotada, para a regional de Pirapora. Porém, nessa segunda-feira, a Justiça de Minas Gerais acatou o pedido da delegada para a não mudança e mantê-la na delegacia de origem.

A reportagem procurou a Polícia Civil de Minas Gerais e não obteve respostas.