O abuso de autoridade é uma questão complexa que impacta diversos ambientes de trabalho, pois a diferença entre uma orientação legítima e uma ordem abusiva pode ser sutil, afetando profundamente a dignidade e o bem-estar dos trabalhadores.
O que é considerado abuso de autoridade no ambiente de trabalho
O abuso de autoridade ocorre quando um superior solicita que um subordinado execute tarefas fora das suas funções profissionais, ou que exponham o trabalhador a situações humilhantes, ilegítimas ou arbitrárias. Trata-se de um desvio do ius variandi, que limita as alterações contratuais ao âmbito do razoável e legal.
No caso recente envolvendo a congressista, denúncias apontam que funcionários parlamentares foram obrigados a participar de tarefas pessoais no expediente, fugindo de suas atribuições. Isso viola direitos contratuais e fere a dignidade do trabalhador. Segundo Gonzalo Costa, advogado especializado em direito do trabalho, tais ordens sob ameaça ou coação configuram assédio moral.
Comportamentos que caracterizam abuso de autoridade no trabalho
No ambiente de trabalho, o abuso de autoridade é caracterizado quando o superior utiliza seu poder para obrigar o trabalhador a realizar atividades fora do acordo contratual. Esse tipo de abuso pode se manifestar de diferentes formas, gerando um clima de medo e pressão.
Veja exemplos de situações frequentemente classificadas como abuso de autoridade:
- Imposição de tarefas pessoais durante o expediente profissional
- Exigência de atividades degradantes ou constrangedoras
- Ameaças de demissão ou punição para forçar a obediência
- Exposição pública do colaborador de forma humilhante

O que diz a lei trabalhista brasileira sobre exercer uma função que um funcionário não foi contratado para realizar
A legislação trabalhista brasileira, especialmente a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), estabelece regras sobre a execução de tarefas diferentes daquelas previstas no contrato de trabalho. O empregador pode solicitar que o empregado realize outras atividades, desde que sejam compatíveis com a função original e não impliquem desvio de função.
Compatibilidade com a função original: O empregador está autorizado a solicitar tarefas diferentes, desde que estejam relacionadas à função para a qual o colaborador foi contratado. Pequenas variações e atribuições complementares são permitidas, desde que não haja prejuízo nem ampliação injustificada das responsabilidades.
Desvio de função: Se as tarefas exigidas demandarem habilidades, responsabilidades ou qualificações diferentes da função original, e não integrarem o escopo contratual, caracteriza-se o desvio de função. A lei não autoriza tal prática, e o trabalhador pode se recusar a realizar essas tarefas sem sofrer punições.
Excesso e prejuízo: O empregado pode, legalmente, se recusar a executar atividades que sejam excessivas, prejudiciais à saúde ou que estejam fora de sua carga horária e capacidade regular de trabalho.
Direito de recusa: O trabalhador pode recusar tarefas incompatíveis ou excessivas. Essa recusa é garantida por lei, e o trabalhador não pode ser penalizado por isso. Em caso de desvio de função permanente, a empresa deverá formalizar a alteração contratual, incluindo novo salário – em algumas situações, esse acréscimo pode chegar a 30% do valor do salário original.
Se o trabalhador aceitar realizar tarefas permanentemente diferentes da função original sem formalização contratual, pode reivindicar, inclusive judicialmente, o direito ao aumento salarial e demais compensações.
Dicas para agir: Verifique sempre o contrato e a descrição de seu cargo; reúna provas do desvio de função, como e-mails e comunicações; tente negociar a regularização da situação com o empregador e busque orientação jurídica se necessário.

Conheça os direitos do trabalhador ao enfrentar abusos no trabalho
Os trabalhadores têm mecanismos legais para denunciar e se proteger de abusos. Inicialmente, podem reportar formalmente a situação ao setor de Recursos Humanos. Caso não haja solução, é possível acionar órgãos fiscalizadores, como a Sunafil, por meio de denúncias até mesmo anônimas, para evitar retaliações.
Buscar o apoio de sindicatos e consultorias jurídicas gratuitas também fortalece a defesa dos direitos do trabalhador, auxiliando na condução adequada do caso.
Punições previstas para quem comete abuso de autoridade
Empregadores que realizam abuso de autoridade podem receber punições severas. No âmbito penal, práticas de trabalho forçado podem resultar em pena de prisão. No serviço público, o uso indevido de servidores para fins pessoais pode caracterizar peculato de uso.
No campo administrativo, empresas estão sujeitas a multas por infrações trabalhistas, tais como não respeitar a jornada de trabalho ou falhar na aplicação de normas de segurança.
O trabalhador pode recusar tarefas pessoais impostas por superiores
Todo trabalhador tem o direito de recusar ordens que violem seus direitos ou sejam alheias a suas funções. Caso a recusa decorra de uma ordem abusiva, não há fundamento legal para demissão ou retaliação por parte do empregador.
Procure orientação jurídica ou apoio de sindicatos sempre que enfrentar situações de abuso, garantindo assim o exercício pleno de seus direitos.
O abuso de autoridade prejudica o respeito e o ambiente no trabalho, impactando negativamente na qualidade de vida do trabalhador e na produtividade. Por isso, conhecer e exercer seus direitos é fundamental para construir ambientes laborais mais justos, éticos e produtivos.




