A Semana Internacional do Café (SIC), que ocorre entre essa quarta-feira e sexta (5 a 7/11), no Expominas, em Belo Horizonte, coloca em evidência um dos desafios do agronegócio: a resposta da cadeia produtiva do café aos impactos cada vez mais severos das mudanças climáticas.

Com ondas de calor, eventos climáticos extremos e a irregularidade pluviométrica impondo crescente pressão sobre a produtividade e a qualidade dos grãos, o debate técnico do setor ganha tom de urgência. De acordo com a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (FAEMG), a safra de café arábica de Minas Gerais em 2024 já sentiu o golpe, registrando uma queda estimada de 23% na produtividade devido às condições adversas.

Nova agenda do agronegócio

Para enfrentar essa nova realidade do campo, a SIC recebe uma série de painéis focados em estratégias de aumento da resiliência, biodiversidade e estabilidade microclimática nas lavouras. A programação inclui discussões como: “Brasil e COP30: mudanças climáticas, sustentabilidade e protagonismo global”, “Transição para uma cafeicultura regenerativa: custos para o produtor, viabilidade e balanço de carbono”, e “Café e bioeconomia: novos caminhos para gerar valor com sustentabilidade”.

O objetivo é explorar tecnologias e ferramentas que ajudem a mitigar os riscos e a garantir a estabilidade do produto, cujo preço final é diretamente afetado pelas flutuações de safra.

Transição regenerativa

Em um movimento que traduz a premência do tema e a necessidade de instituir ações concretas, a Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), com mais de 20 mil cooperados e receita de R$ 10,5 bilhões em 2024, coordena um projeto pioneiro de cafeicultura regenerativa.

A iniciativa, que teve o pontapé inicial e 2024 e foi estruturada para 2025, foca na integração de árvores nas lavouras, indo além das práticas de sustentabilidade já adotadas pela cooperativa, que exporta para cerca de 50 países.

A cooperativa existe desde 1932 e está nas principais regiões produtoras de café, como Sul de Minas, Cerrado, Matas de Minas e Média Mogiana Paulista. O projeto parte da necessidade de auxiliar os cooperados a entender mais sobre corredores ecológicos e outras práticas da cafeicultura regenerativa, conforme a gerente ESG da Cooxupé, Natalia Fernandes Carr.  

Medidas que incluem, explica Natalia, a indicação de plantas de cobertura na entrelinha do café, o uso de cultivares resistentes a pragas e doenças, e de bio insumos em geral, como bio pesticidas e tipos específicos de compostagem.

No fim das contas, o processo é plantar arbustos e árvores em meio às lavouras, respeitando o espaço para a mecanização, que ajudam a eliminar inimigos naturais das plantações - são árvores que atraem e se alimentam das pragas que atacam o café.

O projeto selecionou cooperados interessados em implantar esses corredores ecológicos, segundo Natalia. O intuito é dar opções de resiliência para o cafeicultor que, inclusive, será remunerado por crédito de carbono ao implantar esses corredores.

"Temos experienciado cada vez mais momentos de seca, granizo ou geadas, por exemplo, e temos buscado entender quais práticas adotar para que o cooperado continue na atividade cafeicultora, considerando produtividade e renda. Nosso foco é a cafeicultura regenerativa com identidade brasileira. Apoiar o produtor com ciência, gestão e viabilidade econômica é essencial para atravessar a crise climática", diz.

O projeto conta com o apoio técnico da EPAMIG e uma parceria estratégica com a Clima – Café de Floresta, startup mineira especializada em transformar monoculturas de café em sistemas agroflorestais.

Arborização

A Clima - Café de Floresta desenvolveu uma metodologia exclusiva para a parceria, que visa não apenas a resiliência agronômica, mas a criação de novas fontes de receita para o cafeicultor. "A mudança do clima muda também a economia do café. No atual contexto, a arborização é fundamental para quem quer proteger suas lavouras de eventos climáticos extremos, pragas e doenças. Com um método adequado de café de floresta, surgiriam possibilidades de economia de custos e diversificação de receitas, promovendo um futuro de fato sustentável para o setor", explica o CEO da Clima, Rodrigo Castriota. Essas novas fontes de receita incluem a geração de créditos de carbono, produtos madeiráveis, crédito verde e a valorização do café por meio de práticas comprovadamente regenerativas.

Adesão

Entre os produtores cooperados, majoritariamente pequenos agricultores, a adesão ao projeto tem sido positiva. Além de representar uma adaptação climática essencial, a iniciativa oferece assistência técnica especializada, acompanhamento contínuo e fornecimento gratuito de mudas, reduzindo o risco de transição.

Bruno Carrara, produtor cooperado da Cooxupé e participante do projeto, resume o benefício. "Nada melhor do que ser pago para fazer a coisa certa. É uma boa oportunidade de modernizar a atividade e agregar valor sem aumento de custos, e ainda melhorar a saúde da lavoura."

Com número inédito de 240 expositores, SIC projeta uma movimentação financeira de cerca de R$ 150 milhões em negócios

Marcus Desimoni / NITRO

Com a integração da floresta como um ativo econômico na fazenda, através dos serviços ambientais e do crédito de carbono, o setor cafeeiro brasileiro demonstra buscar um caminho de inovação e sustentabilidade para enfrentar os desafios impostos pelas alterações no clima global. O projeto será apresentado durante a SIC.

Principal arena do setor cafeeiro brasileiro e internacional, a Semana Internacional do Café  se consolidou como um marco no calendário do agronegócio. Em sua 13ª edição, segue o lema "Café em Transformação – Inovação, Sustentabilidade e Oferta do Mercado Global".

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Este ano, a SIC amplia sua área em 50% para ocupar 20 mil metros quadrados, a maior de todas as edições. Com número inédito de 240 expositores (em 2024 foram 170), projeta uma movimentação financeira de cerca de R$ 150 milhões em negócios e a presença estimada de 25 mil participantes vindos de mais de 40 nações.

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