Giacomo comandou por 28 anos a grife Vide Bula que ganhou destaque internacional no mundo do street e jeanswear. 
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Giacomo comandou por 28 anos a grife Vide Bula que ganhou destaque internacional no mundo do street e jeanswear.

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Giacomo Lombardi, um dos nomes mais importantes da moda mineira, morreu aos 68 anos nesse domingo (10/3), em Belo Horizonte. O estilista e músico comandou por 28 anos a icônica grife Vide Bula, que nasceu nas ruas da capital em 1980.

 

O pontapé inicial para a marca que ficaria internacionalmente conhecida aconteceu no final dos anos 1970, quando a irmã de Giacomo, Roberta Lombardi, que comercializava produtos importados, entrou no mundo das boutiques. Enquanto ela abria franquias de lojas já conhecidas, o irmão tocava em uma banda de rock.

 

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O músico trocou o palco pela moda em 1980, cedendo o nome da banda - Vide Bula - para a nova empresa que abria em parceria com a irmã. Mais tarde, a dupla se transformou em quarteto com a entrada de Roberto Navarro, marido de Roberta, e Adriana Rios, esposa de Giacomo.

 

Com proposta moderna e provocativa, as primeiras estampas da marca eram inspiradas em filmes americanos dos anos 1950 e não demorou muito para cair no gosto entre os mais novos e descolados. O destaque mundial veio em 2003, quando a Vide Bula colocou George Bush, presidente dos Estados Unidos à época, com nariz de palhaço em uma das camisetas desfiladas na São Paulo Fashion Week daquele ano.

 

 

Entre outras peças de destaque da marca coordenada por Giacomo e conhecida por fazer peças polêmicas foi uma calça jeans com estampa de espermatozoides. O jeanswear era um dos carros-chefes da marca que foi vendida em 2008.

 

Mundo da moda lamenta a perda

 

“Giacomo Lombardi está na gênese da moda de Belo Horizonte. Primeiramente com suas lojas na Savassi, que marcaram época nesse bairro que havia se tornado o point fashion da cidade. Depois, nos anos 1980, com a Vide Bula. Fala-se até hoje nas calças com estampa de espermatozoides, que ele, junto com a irmã Roberta, lançaram em uma das coleções. Provocativa como seus donos, a Vide Bula sempre flertou com a música, com a estética punk rock, com o novo, com o espírito do tempo. Era a cara dos irmãos Lombardi”, afirma a jornalista e pesquisadora de moda Heloisa Aline.

 

De acordo com ela, na fábrica do Bairro Floresta, Região Leste da cidade, onde produziam as peças da grife, os irmãos mantinham um conjunto musical e intercalavam moda e música. “Giacomo levou a Vide Bula para o São Paulo Fashion Week e esteve presente em todos os acontecimentos nacionais ligados ao fashion”, afirma. Segundo Heloisa, nos últimos anos, Giacomo continuou fiel à música e, depois da venda da marca, passou a se apresentar com uma banda em bares de BH.

 

Para o estilista Amarildo Ferreira, com a perda de Giacomo, a moda mineira fica órfã de alguém que contribuiu muito para o cenário. “Era um homem apaixonado por música, moda e arte. Foi educado aprendendo música. A mãe do Giacomo era exímia costureira e ele e a Roberta aprenderam muito de modelagem vendo a mãe. A música veio com o pai e a paixão por esse mundo sempre foi o que moveu os dois”, afirma.

 

Amarildo foi um companheiro de longa data de Giacomo, trabalhando na Vide Bula com o estilista por 25 anos. “Ele é uma das pedras filosofais do jeans no Brasil. Antes de tudo ele era um cara do jeans, um cara do rock, da música e tudo isso era transformado em roupa para pessoas de 8 a 80 anos. Ele falava: ‘tem que vestir todo mundo, tem que ser democrático’”, lembra.

 

Uma das memórias favoritas de Amarildo em relação a Giacomo é a de um apelido que deu ao estilista em homenagem ao protagonista da série de 1964, "Viagem ao fundo do mar". “Ele comprou uma lancha e teve que fazer um curso de navegação. Toda vez que ele ia ter aula, avisava que ia atrasar para o trabalho. Como se precisasse o dono da empresa avisar que ia chegar mais tarde. Eu respondia para ele: ‘Vai lá almirante Nelson’ e ele odiava o apelido. Mas eu amava aquela cara emburrada dele quando eu falava as coisas que ele não gostava, ele sabia que no fundo era uma maneira de falar ‘eu te amo, obrigado por tudo que você fez por mim’”, finaliza.

 

O velório e sepultamento de Giacomo ocorreram na tarde desta segunda-feira (11/03), na capital mineira.