Eliete Bouskela, primeira mulher eleita presidente da Academia Nacional de Medicina, toma posse nesta quinta-feira
 -  (crédito: Arquivo pessoal)

Eliete Bouskela, primeira mulher eleita presidente da Academia Nacional de Medicina, toma posse nesta quinta-feira

crédito: Arquivo pessoal

A médica mineira Eliete Bouskela, de 74 anos, vai tomar posse na presidência da Academia Nacional de Medicina, nesta quinta-feira (7/3). Especialista em fisiologia cardiovascular e pesquisa clínica, ela é a primeira mulher a presidir o instituto, desde sua fundação em 30 de junho de 1829.

A primeira mulher membro da Academia foi eleita só em 1985, ou seja, 156 anos depois de sua criação. Eliete ingressou em 2004 e foi a quinta mulher eleita. “Não tinha muitas mulheres na Academia, por isso pouquíssimas se candidataram. Provavelmente porque não existe essa tradição de mulheres se candidatarem. Se você olhar o retrato da instituição, você verá que ‘aquilo ali não é lugar para mulher’”. Atualmente, a ANM é composta por 100 membros e apenas 7 são mulheres.

Natural de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, mas radicada no Rio de Janeiro desde os 13 anos, sempre foi uma ‘aluna nota 10’. “Quando eu era jovem, pensei em cursar Direito, porque meu pai era imigrante e na família da minha mãe, a maioria são advogados. Mas depois optei pela Medicina, eu era muito boa aluna em química, física e matemática, e hoje, acho que foi a melhor escolha que fiz”.

Durante o curso, Eliete enfrentou algumas dúvidas ao ingressar na área e cogitou ser psiquiatra, mas por sempre estar acompanhada de uma curiosidade voraz, começou a fazer pesquisas e nunca mais parou.

Títulos e pesquisas

Eleita no final de 2023,  Eliete que já está marcada na história por estar à frente da ANM, instituição médica mais antiga em funcionamento permanente no país, carrega consigo títulos que representam sua trajetória acadêmica exemplar. A médica é formada pela UFRJ e é diretora científica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), membro da Academia Brasileira de Ciências, da European Academy of Sciences and Arts e da Academia de Medicina da França. Eliete também morou, estudou e lecionou nos Estados Unidos e na Suécia, em dois períodos de sua vida.

Ela também é professora titular da Uerj, onde coordena o Centro Multidisciplinar de Pesquisa da Obesidade. “O tema sempre me chamou atenção desde a faculdade, são pessoas que eu acho muito interessantes, principalmente porque, de maneira geral, elas não consideram que estão doentes. Grande parte dos pacientes adoraria ter pílulas milagrosas, eles fazem qualquer coisa, mas não tem perseverança, este é o maior problema”.

Eliete conta que em seus estudos faz a aproximação da temática às doenças cardiovasculares, e que recentemente, foi aberto um centro no Hospital Pedro Ernesto, no Rio, para realização de cirurgia bariátrica, onde segundo ela, a fila não para de crescer. “Nós temos uma ‘epidemia’ de obesidade, praticamente metade da população brasileira está acima do peso. Hoje as pessoas cozinham cada vez menos, e com isso, você come cada vez pior”, alerta.

Além disso, a influência das redes sociais corrobora para o cenário e as pessoas buscam alternativas mais fáceis e rápidas. “O Ozempic virou a droga da moda. Além dos efeitos colaterais, quando interrompido, volta tudo. No laboratório onde trabalhamos, não medicamos, recomendamos dieta e exercício físico”.

Expectativas para o mandato

Eliete Bouskela começa seu mandato de dois anos, com a pretensão de fazer a Academia ser ouvida pelo Governo nas questões de sua área e debater a qualidade do ensino médico no Brasil. “Tenho visto uma criação escandalosa de escolas médicas, mas que não tem um preparo para formar bons médicos, este é um ponto que eu quero discutir melhor”.

Outro eixo da atuação de Eliete à frente da instituição será a nacionalização e internacionalização da ANM. Ela compartilha o desejo de ter representantes de maior número de estados na academia, e com isso, aumentar também a bancada feminina, que atualmente representa apenas 7% dos membros.

Por fim, a partir do protagonismo do Brasil no G20, a médica quer promover maior relação com academias de medicina de outros países, especialmente com os participantes do grupo.