O Cerrado é conhecido pela sua grande biodiversidade, vegetação singular e paisagens encantadoras. Mas, o bioma também outra riqueza, representada pelos produtos extrativistas que têm grande aproveitamento na gastronomia, começando pelo próprio pequi, o fruto-símbolo do Cerrado.

 

O potencial gastronômico do Cerrado, junto com a cultura das comunidades tradicionais da região, está sendo levantado pela 'Expedição Geraizeiros', que, em sua primeira fase, vai percorrer nove municípios do bioma no Norte de Minas. A jornada começou na segunda-feira (25/3) e vai até 1º de abril. Durante a viagem será produzido um documentário sobre os produtos do extrativismo e a cultura "geraizeira", detalhando as práticas das cozinheiras da região.

 

A 'Expedição Geraizeiros' é uma iniciativa do empreendedor e agente cultural Fred Rocha, idealizador da Venda do Fred, um espaço que integra gastronomia, cultura, história e tradições em Montes Claros, cidade-polo do Norte de Minas. Fred segue junto com as chefs de cozinha Bernadete Guimarães e Juliana Dourado.

 

A expedição foi iniciada pelo distrito de Barra do Guaicuí, onde o Rio das Velhas deságua no Rio São Francisco, no município de Várzea da Palma. No local ficam as ruínas de uma antiga igreja. De acordo com relatos históricos, foi ali que morreu o bandeirante Fernão Dias Paes Leme, em 1681, depois de ser acometido por malária.

 



 

Depois de passar por Pirapora, Buritizeiro e Ibiaí, nesta terça-feira (26/3), a expedição passou pelo pequeno município de Ponto Chique. Na rota do grupo estão ainda os municípios de São Romão, São Francisco e Campo Azul (cidade que tem a fama de produzir 'o melhor pequi do mundo') e Pedras de Maria da Cruz, as margens do Rio São Francisco.

 

A chef de cozinha Bernadete Guimarães salienta que os frutos do Cerrado, em geral, têm grande aproveitamento no preparo de pratos atrativos guloseimas deliciosas. Além do pequi, ela cita a mangaba, a cagaita o cajuzinho do Cerrado.


“A mangaba é usada para fazer sorvete e também serve no preparo de caldas, para acompanhar pratos doces ou salgados. As frutas do Cerrado são usadas para fazer o mango chutney, um molho agridoce servido com carne”, afirma Bernadete.

 

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A chef de cozinha cita ainda a castanha de baru e a farinha de jatobá, altamente nutritivas, também com aproveitamento na atividade gastronômica. “Costumo dizer que temos as castanhas do Brasil. E o baru é uma delas juntamente com a castanha do Pará e a castanha de caju. O baru, hoje, é usada tanto para se degustar a castanha como ele é moído, tendo o pó usado na gastronomia”, relata Bernadete Guimarães.

 

“O objetivo da exposição é buscar a essência dos ingredientes mágicos do Cerrado para gastronomia como pequi, o baru, a pimenta de macaco e muitos outros produtos do extrativismo. Vamos estudar e aprimorar o uso dos produtos do Cerrado na gastronomia”, afirma o agente cultural e empreendedor Fred Rocha.

 

Ele explica que as duas chefs de cozinha participantes da expedição vão documentar e ver de perto os costumes e fazeres das cozinheira das comunidades tradicionais da região do Cerrado. “Elas vão observar as formas de cozinhar, de temperar e refogar das cozinheiras das comunidades. Também irão entender os cortes e as receitas usadas nas comunidades tradicionais, o que é mais legitimo e autêntico dos gerais”, descreve Fred Rocha.

 

Apoio do Núcleo do Pequi


O projeto conta com o apoio do Núcleo do Pequi do Norte de Minas, sediado em Montes Claros. O Núcleo constitui uma rede formada por associações e cooperativas agroextrativistas de 15 municípios da região. A sua missão é fortalecer as comunidades agricultoras e extrativistas e os povos tradicionais, estimulando a geração de renda com o aproveitamento do pequi e outros produtos do extrativismo, com foco na sustentabilidade ambiental.


Saiba mais


Geraizeiros - o termo 'geraizeiros' diz respeito aos povos tradicionais antropologicamente reconhecidos pela Política Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais. Os 'geraizeiros' ocupam os campos gerais do Norte do estado de Minas Gerais. São as mulheres e homens do Cerrado instalados às margens do Rio São Francisco, onde se adaptaram com sabedoria às características do bioma e às suas possibilidades de produção.

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