MÚSICA

Joyce Moreno lança "O mar é mulher", disco sobre o feminino

Cantora, compositora e violonista estabelece em seu novo trabalho uma ponte com o álbum de 1980 "Feminina", que a projetou e traz o hit homônimo 

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Intencional não foi, mas, na medida em que foi ganhando forma, o novo álbum de Joyce Moreno logo revelou sua própria personalidade. Um trabalho “profundamente feminino” é como a cantora, compositora e violonista define “O mar é mulher” (Biscoito Fino), disco que dialoga com outro, de 45 anos atrás.


“Quando ele estava sendo construído, de repente as músicas começaram a seguir seu caminho. Até mexi no repertório: tirei duas faixas que tinha gravado porque o desenho estava ficando claro. Depois que terminei de gravar, notei que ele estava conversando muito com ‘Feminina’. Ouço aquela pessoa de 1980, mesmo que eu seja outra pessoa [agora]”, diz Joyce, de 77 anos.


O trabalho foi concebido nos últimos três anos, período que separa este disco do anterior, “Brasileiras canções”. Com parceiros habituais – Paulo César Pinheiro mandou a letra de “Novelo”, Zé Renato a música de “Desarmonia” – mas na metade do repertório em voo solo – “Adeus, Amélia”, “Os ventos, “Tudo em casa” (essa instrumental) e “Comigo”, além da música-título – Joyce construiu um álbum de samba-jazz, terreno que lhe é caro, falando sobre o hoje.


“Eu não atravessei essas décadas todas seguindo moda. Vou seguindo o meu rumo musical, tanto que, musicalmente, não vejo meu passado como passado. Tem um disco que gravei em 1977 (‘Natureza’, lançado pelo selo britânico Far Out Recordings) que foi sair em 2022”, conta.


“Ouviram como uma grande novidade. Minha música é um presente contínuo. Vamos a Minas com Carlos Drummond de Andrade: ‘Ficou chato ser moderno. Agora serei eterno’. É uma coisa pretensiosa, mas é verdade”, diz ela, que assina os arranjos e a direção musical do disco.


Já estabelecida como compositora (Milton Nascimento, Elis Regina e Maria Bethânia já haviam gravado suas canções) e com alguns trabalhos lançados, Joyce só se projetou definitivamente com “Feminina” (gravado em 1979 e lançado no início do ano seguinte). O álbum reúne “Mistérios”, “Clareana”, além da faixa-título, uma espécie de declaração com os versos “Ô, mãe, me explica, me ensina/Me diz, o que é feminina?/Não é no cabelo, no dengo ou no olhar/É ser menina por todo lugar”.


Escrever no feminino


“O pessoal que faz pesquisa fala que fui a primeira mulher a escrever no feminino. Antes eram homens – Chico Buarque, Ary Barroso, Assis Valente. Acho que tem coisas nesse disco que são falas mais atuais, modernas. O primeiro single, ‘Adeus, Amélia’, fala da liberdade feminina, é a mulher dizendo para o homem que não é Amélia. Pode até ter sido, na primeira metade do século passado. Mas em 2025, faça-me o favor.”


O título “O mar é mulher” veio de uma constatação de Joyce a respeito da própria palavra mar. “Percebi que em espanhol, italiano, entre outros idiomas, o mar é uma palavra feminina”, acrescenta Joyce, que reafirmou a presença da mulher na bossa “Imperador”, parceria com João Donato (1934-2023) e Donatinho.


Uma canção já conhecida é “Um abraço do João”, que Jards Macalé dividiu com João Donato em “Síntese do lance” (2021), álbum dos dois. Aqui, como um choro canção, a faixa, com letra de Joyce, conta com a participação do próprio Macalé, autor da música.


“É o primeiro parceiro que tive. Quando o conheci, eu tinha 19 e ele 24 anos. Pouco tempo depois que João Gilberto (1931-2019) morreu, na pandemia, o Jards encontrou o telefone secreto dele. Ele ligou, e tinha uma secretária eletrônica. Deixou um recado enorme (para o João Gilberto, já morto) e, duas semanas depois, teve a inspiração da música. A letra ‘Um abraço do João’ eu fiz como se ele estivesse abraçando ele”, conta Joyce, que a gravou com Macalé em 10 de junho de 2024, aniversário do gênio de Juazeiro.


“O mar é mulher” foi gravado com a banda base formada por Tutty Moreno (bateria e percussão), Rodolfo Stroeter (baixo) e Helio Alves (pianos). Todo mundo junto, olho no olho, como sempre foi. “Sempre acho que uma gravação é uma fotografia da música que você faz da energia daquele momento. Desde os meus primeiros discos, faço assim e, geralmente, o que fica é o primeiro take”, comenta Joyce. 

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