Téo Azevedo em seu apartamento em Montes Claros, em julho de 2023, quando completou 80 anos -  (crédito: Luiz Ribeiro/EM - DA Press)

Téo Azevedo em seu apartamento em Montes Claros, em julho de 2023, quando completou 80 anos

crédito: Luiz Ribeiro/EM - DA Press

O cantor, compositor, violeiro, repentista Téo Azevedo, que morreu neste sábado (11/05), aos 80 anos, nasceu no Norte de Minas, e morou por um período em Belo Horizonte. Depois, passou a residir em São Paulo frequentando rádios e estúdios de gravação. Nos últimos anos, viveu em Montes Claros, cidade-polo do Norte do estado.

 

Teófilo de Azevedo Filho nasceu no distrito de Alto Belo, município de Bocaiúva, norte de Minas, em 2 de julho de 1943. O pai, Teófilo Izidoro de Azevedo (1905-1951), foi lavrador, aboiador, ferreiro, tropeiro, pequeno comerciante, folião de Reis, seresteiro, cantador popular e repentista. Também foi violeiro legendário, mesmo tendo somente um braço - perdeu o outro braço quando foi atingido por um tiro de espingarda durante uma caçada a veados. E, com a Viola, "gerou lenda" que foi inclusive tema do poema "Viola de Bolso" de Carlos Drummond de Andrade.


Em busca de melhores condições de vida, Téo Azevedo mudou-se juntamente com a família para o interior paulista em 1951. Por ironia do destino, no entanto, Seu Teófilo morreu de febre tifoide que havia contraído. A família então se viu obrigada a regressar para o Alto Belo no norte mineiro.


E, com as consequentes dificuldades enfrentadas pela família, Téo Azevedo concluiu somente o primeiro ano primário e, aos 8 anos de idade, passou a trabalhar como engraxate para ajudar a mãe, dona Clemência. Enquanto engraxava sapatos, Téo recitava versos de improviso para atrair clientes.


Foi nesse período que começou a cantar repentes e a participar de concursos de calouros em circos e parques. E, dos 9 aos 14 anos de idade, cantando calangos, Téo acompanhou o camelô Antônio Salvino, do estado de Pernambuco, que vendia remédios caseiros a base de ervas, naquelas feiras interioranas. Téo se apresentava com uma jiboia enrolada no pescoço, cantando calangos de improviso para atrair a clientela. Salvino é por muitos considerado como o descobridor de Téo Azevedo.


Com 16 anos, seguiu de carona para Belo Horizonte, passando se apresentar nas ruas como repentista e vendendo também cordéis de sua autoria nas feiras livres da cidade. Na capital mineira, porém, chegou a ser preso por vadiagem. Apresentando sua defesa, Téo cantou um repente no qual ele dizia que é crime prender um cantador..., o que lhe valeu algo como um salvo-conduto para poder continuar cantando nas ruas de Belo Horizonte.


Com 17 anos, Téo Azevedo começou a lutar boxe e chegou a ser tricampeão mineiro. E foi nessa época, no início dos anos 60, que começou a cantar seus repentes em casas de shows da capital mineira, tendo criado um estilo de dançar gafieira (batizado como "Puladinho" pelo sambista Kalu). Fundou também a escola de samba Unidos do Guarani e participou ainda do conjunto de shows e bailes Léo Bahia e os Embalos.


Téo Azevedo gravou o primeiro disco no ano de 1965, no estúdio Discobel, interpretando Deus te salve, casa santa, de domínio público, tendo composto mais três estrofes e mudado a melodia tradicional cantada no norte de Minas Gerais. Essa música de autor desconhecido é na verdade o que também conhecemos como Cálix bento (adaptado por Tavinho Moura).


Três anos depois, em 1968, Téo Azevedo foi considerado por Gérson Evangelista, cronista do jornal mineiro "O Debate", como "O Melhor Compositor Mineiro do Ano". Em 1969, Téo seguiu para a capital paulista, onde aprendeu todas as modalidades de cantoria do Nordeste com o cantador alagoano Guaiatã de Coqueiros.


Nas movimentadíssimas ruas da Capital paulista, Téo Azevedo corria o chapéu entre os ouvintes. E, na Feira de Arte da Praça da República (criada pelo alagoano Antônio Deodato, que era conhecido também como Deodato Santeiro), Téo cantava com Alceu Valença que na época também iniciava sua carreira artística. Também em São Paulo, Téo chegou a fazer parceria com o Venâncio da dupla "Venâncio e Corumbá".


Téo lançou em 1978 o LP Brasil, terra da gente, no qual gravou a música Viola de bolso, em que ele transpôs versos de Carlos Drummond de Andrade para o ritmo das folias de reis. E, no mesmo ano, com a composição Ternos pingos da saudade, Téo recebeu o prêmio de melhor melodia, melhor letra e melhor interpretação no Primeiro Festival de Música Sertaneja, evento promovido pela Rádio Record de São Paulo.


Em 1979, Téo participou da abertura da Feira do Livro na Praça 7 de Setembro. Em seguida, foi convidado para gravar jingles e spots no lançamento do primeiro Torneio de Repentes de Minas Gerais.


Além de mais de 10 discos gravados, Téo Azevedo teve participações especiais em discos de diversos cantadores, como Rolando Boldrin e o Rei do Baião, Luiz Gonzaga.


Téo Azevedo também musicou um programa especial sobre Guimarães Rosa para a Rádio Cultura FM de São Paulo. Musicou também dois especiais para a TV Alemã (um sobre Grande sertão, veredas de Guimarães Rosa, e outro sobre Cantigas de vaqueiros e repentistas, além de ter feito música para as peças teatrais A hora e a vez de Augusto Matraga, também de Guimarães Rosa, e Festa na roça, de Martins Pena.


E a musicalidade de Téo Azevedo também atravessou nossas fronteiras: em 1997, interpretou For Bobby Keys (music and life), versão de Michael Grossmann, no disco do saxofonista Bobby Keys (que integrou a banda de apoio dos Rolling Stones). No mesmo ano, gravou juntamente com o gaitista de Blues Charlie Musselwhite a música Puxe o fole, sanfoneiro Dominguinhos tocador", a qual foi apontada como tendo sido a melhor do respectivo CD.

Em 2013, ganhou o cobiçado prêmio Grammy Latino com Salve Gonzagão – 100 anos,  na categoria melhor álbum de raiz.

 


Téo Azevedo ultrapassa as 2.500 canções de autoria dele, gravadas por diversos intérpretes, Escreveu diversos livros, sendo o primeiro deles Literatura popular do Norte de Minas. Também escreveu "Plantas medicinais e benzeduras, Cultura popular do Norte de Minas, A folia de reis no Norte de Minas, Abecedário matuto, Repente folclore, Tiófo, o cantador de um braço só, Dicionário catrumano (pequeno glossário de locuções regionais), As lantas que curam" e Versos de rodeio.

 

Na Literatura de Cordel, Téo Azevedo escreveu mais de mil estórias. Seus livros de cordel já foram tema de estudos em universidades, como a do Arizona (EUA), Osaka (Japão) e Sorbonne (França), além de sua obra já ter também originado uma tese de doutorado na Universidade de Colônia (Alemanha).