Violeiro Wilson Dias estará no show de hoje: ‘O coração do brasileiro bate no ritmo da viola’ -  (crédito: Élcio Paraíso/Bendita/Divulgação)

Violeiro Wilson Dias estará no show de hoje: ‘O coração do brasileiro bate no ritmo da viola’

crédito: Élcio Paraíso/Bendita/Divulgação

Oriunda da viola portuguesa – que por sua vez vem dos artefatos musicais árabes, como o alaúde – a viola caipira é um dos instrumentos típicos da música brasileira. Usada pelos jesuítas para catequização indígena, mais tarde esteve nas mãos dos bandeirantes e dos tropeiros, responsáveis por levar o instrumento para o interior do país. Querida nas comunidades rurais, a viola caipira serve como fundo musical de celebrações religiosas e festas típicas.

 


“Ao mesmo tempo em que as raízes e a origem da viola vêm de outros países pela colonização, o instrumento tem muito da nossa sonoridade”, diz André Luiz Dias, diretor artístico do Instituto In-Cena, centro realizador do festival itinerante “Violas dos vales”. “Levar para o público essa melodia que de alguma forma nos traz uma memória daquilo que parece antigo, mas que dialoga com o momento atual em que estamos buscando outros sons, é extremamente importante. Precisamos reverenciar aquilo que é nosso”, acrescenta.

 

Leia: Irmão de Marília Mendonça rifa violão da cantora para ajudar tragédia no RS


O projeto pretende exaltar a música de viola e seus instrumentistas. A temporada de estreia traz violeiros e violeiras para Belo Horizonte e para os distritos de Limeira e Itira, nos vales do Mucuri e Jequitinhonha, respectivamente. O show de abertura é gratuito e acontece nesta quarta (8/5), na capital mineira, no teatro Raul Belém Machado, às 20h. No repertório, canções que fazem parte do tema “Trem de ferro”, meio de transporte muito utilizado no Brasil durante o século 19 e início do 20.


Trilhos do cancioneiro


“A viola faz parte do imaginário emocional das pessoas. Pensando nisso, o tema do show é o trem de ferro. Nos referimos não só às estradas de ferro de antigamente, mas ao ‘trilho’ das histórias do cancioneiro popular. Assim, somamos duas coisas muito importantes: a viola com a sua sonoridade típica e o trem de ferro da antiga Minas Gerais. Os violeiros trazem repertório que canta e dialoga com essa temática”, diz André Dias.


Fazem parte do projeto os artistas Chico Lobo, Wilson Dias, Gustavo Guimarães, Rubinho do Vale, Carlos Farias, Bilora e Augusto Cordeiro. As violeiras Jéssica Soares, Letícia Leal e Sol Bueno participam separadamente nas cidades mineiras. Jéssica estará no palco em BH.


O violeiro Wilson Dias destaca a importância do instrumento no cenário musical brasileiro e sua relação íntima com as canções produzidas por ele. “Penso que a viola está para o Brasil como o tambor está para a África. Acredito que assim como o coração dos africanos bate no ritmo do tambor, o coração do povo brasileiro bate no ritmo da viola”, afirma o músico.


Lembranças em sons


“Meu pai, que tocava a violinha, mesmo que de forma tímida e muito relacionada à questão sagrada para acompanhar minha mãe nos cânticos de Ladainha, me apresentou ao instrumento muito cedo. Essas memórias foram remontando no meu fazer artístico e na minha caminhada durante toda a vida. Costumo dizer que o trabalho que faço é fotografar as minhas lembranças e transformá-las em som.”


Wilson Dias destaca ainda o sentimento de coletividade e alegria que o instrumento transmite. “A viola está sempre presente nos cânticos de mutirão, que agradecia pelas colheitas, pelas vitórias e os presentes recebidos quando saíam em romaria durante a festa da Folia de Reis. A viola é muito generosa, ela abraça a gente de forma que não permite que nos desviemos para outros caminhos”, diz.
Em 2018, as linguagens e expressões musicais da viola foram reconhecidas como Patrimônio Cultural Imaterial de Minas Gerais.

* Estagiária sob supervisão da subeditora Tetê Monteiro

 

 

“VIOLAS DOS VALES”


Com Chico Lobo, Wilson Dias, Gustavo Guimarães, Rubinho do Vale, Carlos Farias, Bilora, Augusto Cordeiro e participação de Jéssica Soares. Nesta quarta-feira (8/5), às 20h, no Teatro Raul Belém Machado (Rua Jauá, 80 – Alípio de Melo). Entrada franca, com ingressos retirados pelo Sympla ou na bilheteria local duas horas antes do evento.