Haonê Thinar (pessoa amputada), Pedro Fernandes (cadeirante com paralisia cerebral), Juliana Caldas (pessoa com nanismo) e Bruno Ramos (surdo não oralizado) protagonizam a peça

Haonê Thinar (pessoa amputada), Pedro Fernandes (cadeirante com paralisia cerebral), Juliana Caldas (pessoa com nanismo) e Bruno Ramos (surdo não oralizado) protagonizam a peça "Meu corpo está aqui"

crédito: Renato Mangolin/divulgação

Em cartaz nesta sexta (5/4) e sábado no Teatro Sesiminas, “Meu corpo está aqui” é um espetáculo protagonizado por quatro atores e atrizes PCDs (pessoas com deficiência). A montagem celebra a diversidade de corpos invisibilizados socialmente e traz reflexões sobre os desejos destes indivíduos através de relatos que falam sobre as descobertas afetivas e sexuais do próprio elenco.


No palco, Bruno Ramos (surdo não oralizado), Haonê Thinar (pessoa amputada), Juliana Caldas (pessoa com nanismo) e Pedro Fernandes (cadeirante com paralisia cerebral) falam abertamente sobre relatos pessoais que envolvem questões que permeiam seus relacionamentos, corpos, e vontades.

 


A criação da peça teve início a partir de uma conversa com a equipe, buscando as experiências de afeto de cada um a partir do lugar do amor e da sexualidade. Depois, os depoimentos foram ficcionalizados pelas diretoras Julia Spadaccini e Clara Kutner, com o objetivo de traduzir os relatos para a linguagem teatral.


Narrativa poética

 

“O texto é formado por experiências que foram contadas por eles ou que eles contaram de outras pessoas. Nosso trabalho foi transformar esses relatos que são diretos e curtos em uma dramaturgia, adicionando um conflito, um ponto de virada ou até mesmo uma narrativa mais poética”, diz Julia, que é idealizadora do projeto e também pessoa com deficiência.


Desta forma, as mudanças foram feitas para o público visualizar melhor onde cada situação se passava e o que cada um dos atores estava sentindo. Em um dos casos, três relatos acabaram se fundindo em apenas uma história; no outro, o sentimento da raiva foi transformado em ação física levada ao extremo.


A peça estreou em outubro passado no Teatro Glaucio Gill, no Rio de Janeiro. Desde então, “Meu corpo está aqui” já passou por São Paulo e Curitiba. As duas apresentações em Belo Horizonte fazem parte da programação do Festival Teatro em Movimento.

 

Representatividade

 

Já no título, a montagem questiona as ideias limitantes que muitas vezes são associadas às pessoas com deficiência. “Ele diz meu corpo não está invisível, ele está aqui, olhem para o meu corpo como um corpo que deseja, que gosta de sexo, não como um corpo diferenciado, que é vítima. Não é um corpo trágico, mas sim um corpo desejante como o de todos”, afirma a diretora.


Julia, que se tornou parcialmente surda aos 17 anos e aos 30 já tinha surdez profunda, conta que decidiu criar a peça depois da percepção de que não existiam narrativas de representação do amor PCD no audiovisual.


“Fui transitando desse lugar de não ser para ser. Então, eu fui desejando me aproximar de pessoas com deficiência, de me sentir dentro de uma comunidade e entender que a gente não tinha representatividade nenhuma na televisão ou no teatro como protagonistas de um romance. Não se fala de amor e sexualidade de pessoas com deficiência. É um tabu. A partir daí, falei: poxa, preciso fazer algo sobre isso.”


Cenografia

 

Formada por monólogos e momentos de interação entre os atores, a cenografia da apresentação traz iluminação e figurinos como peças-chave. Os atores vão se despindo do figurino ao longo da apresentação e, para facilitar na questão da mobilidade, quando não estão interpretando algum papel, eles deixam de ser iluminados pelas luzes do palco.


“As pessoas com deficiência sentem aquela emoção grande de ver protagonistas em cena que são como elas. Acho que para esse público, (a peça) é um lugar onde eles se sentem vistos. Já as pessoas que não têm deficiência são apresentadas a um mundo novo, elas começam a ver a vida dos PCDs de outra maneira”, afirma Julia.


O espetáculo conta ainda com o ator/intérprete de libras Jadson Abraão, audiodescrição e acessibilidade para pessoas com transtorno do espectro autista (TEA).


“MEU CORPO ESTÁ AQUI”
Nesta sexta (5/4), às 21h, e sábado, às 20h, no Centro Cultural Sesiminas (Rua Padre Marinho, 60 – Santa Efigênia). Ingressos: R$ 42 (inteira) e R$ 21 (meia), à venda pelo Sympla ou na bilheteria local.


Outras peças

 

>>> Stand-Up com Morgado

Rogério Morgado, comediante, ator, dublador e integrante do programa “Pânico”, da Jovem Pan, volta ao Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244 – Lourdes) para apresentação única nestedomingo (7/4), às 19h. Ingressos: R$ 120 (inteira) e R$ 60 (meia), à venda pelo Sympla ou na bilheteria local.


>>> Fábrica de música

“A fabulosa Fábrica de Música” narra a jornada de três crianças – Flora, Mike e Luna – que, após quebrarem acidentalmente uma caixinha de música mágica, embarcam em uma missão na qual são guiadas por figuras encantadas, como o compositor Beethoven. Elas enfrentam desafios enquanto aprendem sobre diversidade, aceitação e amor. O espetáculo será apresentado neste domingo (7/4), às 16h e às 19h, no Teatro Sesiminas (Rua Padre Marinho, 60 – Santa Efigênia). Ingressos: R$ 120 (inteira, setor 1), R$ 100 (inteira, setor 2) e R$ 39 (inteira, setor 3), à venda pelo à venda pelo Sympla ou na bilheteria local.