"Cálice" se concentra nos anos de 1964, 1974 e 2014, abordando a repressão enfrentada pela sociedade brasileira e o período pós-ditadura, quando foi criada a comissão da verdade

crédito: Marcos Bonfá/divulgação

 

“Cálice”, peça inédita que acompanha os personagens fictícios José, Kadu, Marcos, Angelina, Clarice e Rita durante e após o período ditatorial brasileiro, estreia nesta sexta-feira (5/4) e segue com sessões até domingo (7/4), no teatro da Biblioteca Pública de Minas Gerais, na Praça da Liberdade. O espetáculo tem direção de Rony Camargos, que também assina o roteiro ao lado de Ana Cândida Mello, Fábio da Mata e Manu Halfeld.


A peça retrata infância, adolescência e vida adulta de um grupo de amigos mineiros, em 1964 (quando o regime militar foi instaurado); 1974 ( época de maior repressão e violência); e 2014, quando os personagens, já adultos, são confrontados pelo passado com a chegada da Comissão da Verdade.


“A ideia para ‘Cálice’ surgiu da inquietação com a nossa cultura de não falar sobre nossas feridas”, diz Fábio da Mata, que assina a dramaturgia e interpreta o capitão Carlos Eduardo Gomes.

 

 

Stuart Angel


Embora a peça seja protagonizada por personagens fictícios, suas histórias se entrelaçam com as de personalidades reais que foram vítimas da ditadura e com as de torturadores responsáveis pela violência cometida nos 21 anos de regime militar.


“A narrativa de um dos protagonistas é baseada na história do Stuart Angel. O capitão Carlos Eduardo Gomes é inspirado no Carlos Alberto Brilhante Ustra, que, mesmo diante de todos os testemunhos e das provas que se tinha, continuou negando que havia torturas durante o regime”, explica Da Mata.

 

 

O enredo também se encarrega de retratar a Comissão Nacional da Verdade e seus impactos na vida dos protagonistas. Instaurada em 2012, tinha como objetivo apurar os crimes cometidos contra os direitos humanos além das duas décadas de regime militar. Finalizada em 2014, a Comissão reconheceu 434 mortes que ocorreram entre 1946 e 1988, sendo a maioria nos anos de chumbo. Destas, os corpos de 210 vítimas continuavam desaparecidos.

 

Música de Chico

 

O título “Cálice” se refere tanto ao objeto propriamente dito e seus signos de poder e riqueza quanto à música homônima Chico Buarque, já que a canção do compositor carioca remete à angústia de viver em silêncio em um país dominado por um regime autoritário.


“Quero que as pessoas reflitam se realmente um regime de governo como esse que durou 21 anos vale a pena. Será que a gente evoluiu como sociedade depois de tudo isso? Será que as questões que aconteciam, como o machismo e a homofobia continuam ou se modificaram? Qual a relação da mulher, dos estudantes e dos gays com a política? Quero que as pessoas pensem sobre isso e saiam do teatro debatendo sobre esses assuntos.”


* Estagiária sob supervisão da subeditora Tetê Monteiro


“CÁLICE”
Nesta sexta (5/4) e sábado (6/4), às 20h, e domingo (7/4), às 19h, no Teatro da Biblioteca Pública (Praça da Liberdade, 21 – Funcionários). Ingressos antecipados a R$ 40 (inteira) e R$ 50 (inteira), no dia do espetáculo, à venda pelo Sympla e na bilheteria local.