TIRADENTES (MG) - Uma famosa atriz está confinada em um quarto de hotel, preparando-se para participar de um reality show. Do lado de fora, fãs alucinados e paparazzi fazem de tudo para tentar descobrir quem são os participantes do programa. Uma série de atentados mata diversas pessoas que estavam dentro e fora do hotel, obrigando a emissora de TV a mudar o planejamento da estreia do reality. Esse é o argumento de “Foram os sussurros que me mataram”, longa de Arthur Tuoto estrelado por Mel Lisboa.



O filme foi exibido em pré-estreia na mostra Olhos Livres, da 27ª Mostra de Cinema de Tiradentes, na noite da última segunda (22/1). A previsão de estreia nos cinemas é abril deste ano.

Ainda que “Foram os sussurros que me mataram” se apresente como uma sátira à hipervalorização dos participantes de realities e à insularização dos indivíduos (os personagens não se comunicam; mesmo quando contracenam, é como se cada um estivesse fazendo um monólogo entrecortado pelo monólogo do outro), o principal propósito de Tuoto foi o de criar uma “estética visual acima de tudo”.

“Nós colocamos sugestões de imagens fragmentadas que vão construindo todo um arcabouço visual num fluxo bem específico. No entanto, acho que a questão principal do filme é ter aspecto verborrágico, mas, ao mesmo tempo, que ele funcione como uma experiência estética”, afirma o diretor.

Tuoto cita como referências de seu filme o cinema de Hal Hartley, David Cronenberg e, sobretudo, Robert Bresson. Ele procurou fazer com que o elenco, que conta ainda com Otavio Linhares, Carla Rodrigues, Pedro Gaeta, Patrick Sampaio e Isabela Lago, adotasse um tom de interpretação maquinal e sem emoção.

“Essa foi uma das maiores dificuldades que tivemos enquanto ator e atriz”, disse Mel Lisboa. “Qualquer gesto ou movimento que quiséssemos fazer, tínhamos que conversar e negociar com o Arthur (Tuoto), porque, desde o primeiro momento, ele expressou o desejo dessa linguagem que queria trazer para o filme. Eu lembro, por exemplo, de assistir a ‘O dinheiro’, do Bresson, que ele me indicou para eu pegar essa frieza da interpretação”.


EFEITO BBB

O longa foi exibido em Tiradentes num momento em que está no ar a 24ª edição do “Big brother Brasil” (Globo), da qual a tiktoker Vanessa Lopes desistiu, após experimentar um aparente surto persecutório.

“Vi várias edições do ‘BBB’, mas depois parei por falta de interesse. O que eu gostava de ver eram cenas que aconteciam de forma muito genuína. Mas, de uns anos para cá, o povo ficou com medo de se expressar e de passar uma imagem específica de si mesmo. Foi perdendo aquela coisa dramática, espontânea, e foi virando um treino, uma performance”, disse Tuoto.

Os espectadores têm cobrado dos participantes que se comportem de determinada maneira, lembrou Mel Lisboa. Isso tem alimentado uma cultura do cancelamento muitas vezes desproporcional às atitudes dos concorrentes ao prêmio.

“Acho que a Ingrid (nome da personagem de Mel Lisboa) traça um paralelo com a Vanessa Lopes nessa coisa de espetacularização da vida pessoal dos participantes. É muito interessante que a gente possa lançar o filme no momento em que as pessoas estão vendo e discutindo isso”, afirmou a atriz.

Embora aborde um tema muito popular, Tuoto e os produtores de “Foram os sussurros que me mataram” não têm a expectativa de atingir a grande massa. “Esse filme tem uma outra proposta, bem diferente da narrativa convencional”, comentou o diretor.

 

FESTIVAL EM ANDAMENTO

A 27ª Mostra de Cinema de Tiradentes segue até sábado (27/1), com a exibição de 145 filmes, entre longas e curtas, de 20 estados. As exibições estão divididas em 11 mostras temáticas e serão realizadas gratuitamente nos espaços Cine-Praça (localizado no Largo das Forras), Cine-Tenda (no Largo da Rodoviária) e Cine-Teatro (no Centro Cultural Yves Alves, na Rua Direita). Alguns títulos podem ser assistidos pelo site do evento.


*O jornalista viajou a convite da Universo Produção.

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