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Afastada dos palcos desde 2020, a atriz Gorete Milagres retorna ao cartaz na Campanha de Popularização do Teatro, com "Filomena - 30 anos de peleja"

crédito: Leandro Furia/Divulgação

Entre as décadas de 1990 e 2000, a atriz mineira Gorete Milagres experimentou o auge da fama da personagem Filomena (ou Filó), que ela criou em 1994 e que conquistou inúmeros brasileiros com o bordão “Ô, coitado!”.

A empregada doméstica caipira que sai do interior de Minas Gerais para tentar a vida na cidade grande apareceu na TV pela primeira vez no humorístico “A praça é nossa” (SBT/Alterosa). Ganhou programa próprio – “Ô, coitado” (também no SBT) – e participou dos humorísticos "SBT Palace Hotel", "Show do Tom" (Record) e "Dedé e o Comando Maluco" (SBT). No entanto, aos poucos, foi sumindo da TV.

Agora, Gorete Milagres repassa a trajetória da personagem no espetáculo “Filomena - 30 anos de peleja”, com sessões no Grande Teatro Sesc Palladium neste domingo (28/1) e na próxima terça-feira (30/1), na programação da 49ª Campanha de Popularização do Teatro e da Dança.

Diferentemente do que se imagina, reincorporar uma personagem criada há três décadas não foi tarefa fácil para a atriz. Gorete se sentiu insegura e, por vezes, perguntou a si mesma se valia a pena retornar aos palcos justamente com Filomena – ela está longe dos palcos desde o início da pandemia.

“Já se passaram 30 anos desde que criei a Filomena e muitos casos que vou contar são conhecidos do público, porque contei em outras oportunidades. Fiquei com receio de que as pessoas não tivessem interesse em ouvir o que a Filomena tem para falar”, comenta Gorete.


NOVAS GERAÇÕES

Foi a filha do meio, Alice Milagres, que tranquilizou a mãe. Aos 28 anos, Alice acompanhou tanto o sucesso quanto a obliteração da personagem. “Ela me disse que existe hoje entre a geração mais nova – os millennials e a geração Z – uma espécie de saudosismo e interesse em ver obras e personagens que não eram de sua época. Isso me deixou mais tranquila para fazer de novo a Filó”, diz a atriz.

Embora alguns causos sejam repetidos, a maior parte do espetáculo é inédita. Filó continua sendo aquela mulher ingênua, doce e, por falar tudo o que pensa, ligeiramente sem noção. Contudo, não tem mais os dentes podres nem usa chinelo com meias, uma caracterização anacrônica das trabalhadoras domésticas.

“A Filomena só conquistou toda essa popularidade nos últimos anos porque as pessoas se identificavam com ela. Se ela aparece agora com os dentes podres, calçando chinelos com meias, ninguém vai se identificar. As empregadas domésticas hoje têm outro perfil, bem diferente, que não condiz com esse que foi apresentado lá atrás”, observa.

Além da mudança no visual, a trajetória ficcional de Filomena também mudou ao longo desses 30 anos. Nesse período, ela perdeu o emprego fixo como doméstica, virou diarista, microempresária e governanta. Não conseguiu se aposentar e, por isso, começou a fazer bicos como comediante de stand-up numa época “em que todo mundo vira artista”.

O texto também ganhou nova roupagem. O viés político e críticas contundentes à banalização do fazer artístico dão o tom do espetáculo.

Essa visão crítica, conta Gorete, surgiu a partir da aprovação da PEC das Domésticas, proposta de emenda à Constituição que garantiu uma série de direitos aos trabalhadores domésticos em 2013, e, principalmente, depois da pandemia de COVID-19.

COVID E AS EMPREGADAS

“A primeira morte por COVID-19 no estado do Rio – e uma das primeiras no Brasil – foi a de uma empregada doméstica de 63 anos. Ela foi infectada pela patroa, que tinha chegado recentemente da Itália, onde a onda de contaminação estava muito forte. Nessa mesma época, vimos muitos casos absurdos de patrões que não liberaram suas empregadas durante a pandemia, fazendo com que elas morassem no local de serviço e, consequentemente, se infectassem”, lembra.

“Também houve domésticas que, subitamente, se encontraram sem nenhuma fonte de renda. Sem contar a quantidade de notícias que vimos – e ainda vemos – sobre pessoas mantidas em trabalho análogo à escravidão”, acrescenta a atriz.

O alvo das piadas de Filó, portanto, são os patrões inescrupulosos. No stand-up, ela lembra com ironia a hipocrisia de seus chefes, que não a liberaram do serviço enquanto cumpriam o isolamento social.

“Mas ela não deixa barato. Vai para casa e não sai de jeito nenhum, explicando que criou um modelo home office para seu trabalho. Aí acaba obrigando seus empregadores a organizarem a própria casa; algo que sempre esteve fora da realidade deles”, afirma Gorete.

Filomena deve ganhar filme em breve. O projeto desenvolvido em parceria com o cineasta Sérgio Roizenblit, que foi submetido à Lei Paulo Gustavo e agora aguarda aprovação, tem como base o livro “Filomena - Minha história”, que Gorete escreveu em 2012.

“FILOMENA - 30 ANOS DE PELEJA”
Texto e apresentação: Gorete Milagres. No Grande Teatro Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro). Neste domingo (28/1), às 17h; e terça-feira (30/1), às 20h. Os ingressos podem ser adquiridos nos postos da Sinparc ou pelo site da Campanha, por R$ 25. Postos de venda do Sinparc: Shopping Cidade (Rua Tupis, 337, Centro, piso GG, loja 5, em frente ao cinema), de segunda a sábado, das 10h às 19h, e domingos, das 10h às 18h; e Shopping Pátio Savassi (Av. do Contorno, 6.061, Funcionários, piso L3, no foyer do teatro), de segunda a sábado, das 12h às 19h, e domingos, das 14h às 18h. Na bilheteria do teatro, ingressos à venda por R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia).