Adriano Falabella no estúdio do "Alto-falante" quando o programa completou 25 anos, em 2022 -  (crédito: Ramon Lisboa/EM/D.A Press/26/9/22)

Adriano Falabella no estúdio do "Alto-falante" quando o programa completou 25 anos, em 2022

crédito: Ramon Lisboa/EM/D.A Press/26/9/22

Este sábado (13/1) é um dia triste para o rock de BH, de Minas e do Brasil. O apresentador de TV, radialista e crítico musical mineiro Adriano Falabella, de 70 anos, morreu em decorrência de choque séptico devido a uma infecção dentária.


Desde 1997, Adriano comandava o quadro “Enciclopédia do rock” no programa “Alto-falante”, da Rede Minas, apresentado pelo jornalista Terence Machado e exibido para o país pela TV Brasil. Irreverente, divertido e hiperinformado, não foi à toa que ganhou o apelido que batizou a atração do “Alto-falante”. Afinal, ele sabia tudo – mesmo – de rock. Com seu jeito de “doidão” setentista e cabelos grandes à moda hippie, atendia também por Get Crazy.

 

 

“Órfão do paizão”

 

A morte de Adriano Falabella causou impacto entre os músicos em BH. Baixista da banda Pato Fu, Ricardo Koctus diz que ele foi importante tanto para a música de Minas quanto para o rock nacional. “Quando o Pato Fu começou, ele estava ali, trabalhando muito e dando a maior força para bandas que estavam iniciando”, afirma.


“Adriano tinha verdadeira enciclopédia na cabeça sobre o rock, sobre tudo o que acontecia no mundo. A gente perdeu uma fonte de informação muito valiosa. Isso, eu falo do lado profissional. Quem conviveu com ele, como eu, perdeu um grande amigo, uma pessoa extremamente sensível, carinhosa e receptiva”, lamenta Koctus. “A gente ficou órfão do paizão que trazia todo o conhecimento de rock para a gente.”

 

Músico Ricardo Koctus

Ricardo Koctus, baixista do Pato Fu, destaca o profundo conhecimento sobre rock de Adriano Falabella

Edésio Ferreira/EM/D.APress

 

Sem palavras


“É difícil até encontrar palavras”, admite o cantor e compositor Wilson Sideral, autor do hit “Fácil”, da banda Jota Quest. “Ele realmente cativou todo mundo. Foi uma enciclopédia para a gente, um cara que ensinava. Sabia os nomes de todo mundo. Era impressionante como entendia de gravações de discos, de clássicos. Um baú de sabedoria”, diz.


“Quando lancei o meu primeiro trabalho, o Adriano foi um dos primeiros caras a abrir espaço na mídia para falar sobre aquele álbum independente, uma demotape. Enxergou futuro no trabalho que a gente estava apenas iniciando”, conta Sideral.

 

Professor de guitarra

 

O cantor e compositor Affonsinho conheceu Falabella aos 15 anos. “Foi meu primeiro professor de guitarra. Comecei a tocar com as aulas dele, o primeiro solo de guitarra que aprendi na minha vida foi ensinado pelo Adriano, a primeira música que aprendi na minha vida foi ensinada pelo Adriano”, diz.


Affonsinho revela que além de apresentador e radialista, o “Enciclopédia do Rock” foi guitarrista talentoso. “Era raríssimo você ter informação (sobre rock) na década de 1970, a gente tinha três revistas, mas com poucas informações. E o Adriano já sabia muita coisa. Ele me ensinava músicas dos Beatles, Eric Clapton e de Johnny Winter. Me mostrou esses caras todos.”

 

Músico Affonsinho

Affonsinho: "O primeiro solo de guitarra que aprendi na minha vida foi ensinado pelo Adriano, a primeira música que aprendi na minha vida foi ensinada pelo Adriano" Affonsinho: "O primeiro solo de guitarra que aprendi na minha vida foi ensinado pelo Adriano, a primeira música que aprendi na minha vida foi ensinada pelo Adriano" Affonsinho: "O primeiro solo de guitarra que aprendi na minha vida foi ensinado pelo Adriano, a primeira música que aprendi na minha vida foi ensinada pelo Adriano"

Anna Lara/divulgação


Guilherme Castro, integrante da Orquestra Mineira de Rock, conheceu Falabella quando ele apresentava programa na Rádio 107. Garoto ainda, levou a fita de sua banda de colégio para o radialista ouvir. Adriano mandou logo que entrasse no estúdio. Quando soube que se tratava de rock progressivo, não titubeou: pôs a fita no ar. “Isso me impactou”, relembra Castro.


“Ele pegava as coisas lado B das bandas, não o repertório óbvio, além de pegar bandas muito pouco conhecidas aqui no Brasil. Fazia um programa no final da tarde de domingo, sempre aplicando o rock em todo mundo. Sua importância foi muito grande para a cena daqui de Belo Horizonte”, afirma.

 

“Get crazy!”

 

Allan Wallace, da banda Eminence, ainda se lembra de Adriano comandando o programa “Rock que a Terra não Esqueceu”, com seu famoso bordão “Get crazy”. “Sempre apoiou as bandas locais, sempre vestiu a camisa do rock e do heavy metal”, comenta. Eminence teve o apoio do apresentador desde o início. “É um cara que sempre respirou música, né?”, diz Wallace.


O rapper Roger Deff revela que o mestre do rock sempre foi referência para ele, muito antes de acompanhar o programa “Alto-falante”. Ajudou-o a descobrir bandas, a saber mais sobre artistas, a ampliar seu conhecimento musical.


“Ele sempre tinha uma ótima história para contar, com muita propriedade. E com aquele encerramento clássico, “gostas do delírio, baby?”. É inestimável a perda deste comunicador único”, lamenta.


O jornalista Tutti Maravilha, apresentador do programa “Bazar Maravilha” na Rádio Inconfidência, destaca a importância de Adriano Falabella como comunicador. “Ele conseguiu mostrar para o belo-horizontino o rock do mundo”, diz. E acrescenta: “Para ser roqueiro, não adianta só pôr roupa preta e desfilar por aí. É preciso atitude. Antes de tudo, Adriano tinha atitude. Era roqueiro até debaixo d'água.”


Adriano Falabella deixa a companheira, Débora, e a filha, Júlia, de 18 anos.