Peça "Crimes delicados" expõe a face absurda das relações de poder
Casal se julga no direito de matar a empregada doméstica na comédia estrelada por Daniel Dantas em cartaz no Cine Brasil
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Influenciado pelos crimes que lê nos jornais, casal de classe média planeja um assassinato. Vítima: a empregada dos dois. As coisas, porém, saem do controle quando a dupla coloca o plano em prática. Voluntária ou involuntariamente – nunca se saberá com certeza –, a doméstica consegue sobreviver a todas as tentativas de matá-la.
Esse é o argumento da peça “Crimes delicados”, que faz curta temporada no Cine Theatro Brasil Vallourec, nesta sexta e sábado (15 e 16/12). Escrito pelo mineiro José Antônio de Souza (1943-2019), o espetáculo transita do Teatro do Absurdo, de Ionesco, ao gênero popular.
O elenco reúne Daniel Dantas (no papel da doméstica Efigênia), André Junqueira (Lila, a esposa) e Well Aguiar (Hugo, o marido).
“É uma peça muito inteligente, com uma dinâmica muito rápida”, afirma Daniel Dantas. “O José Antônio acertou em seguir por um caminho que possibilita ao diretor escolher entre o realismo e o absurdo.”
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Inversão de papéis
A julgar pelo elenco selecionado pelo diretor Marcus Alvisi – apenas homens, inclusive interpretando mulheres –, dá para imaginar o caminho que o espetáculo segue. Daniel Dantas diz que essa opção deu tom popular a um texto atemporal que questiona as relações de poder e a sensação de impunidade desfrutada pelos ricos.
Em “Crimes delicados”, a crítica social vai além da manipulação do poder, sinuosidades e personagens obscuros. A influência do noticiário policial sobre o comportamento das pessoas, o desejo incontrolável do casal de matar e a ingenuidade de Efigênia, que a salva de situações extremas, são questões abordadas sutilmente.
O absurdo e o alívio cômico tiram a peça de um lugar soturno para lhe dar contornos mais iluminados. Além disso, diferentes visões são oferecidas ao espectador.
“Conversamos com o público depois. Sempre surgem diferentes interpretações, principalmente sobre Efigênia. Como o espetáculo não deixa claro se ela é muito esperta ou muito ingênua, há as mais variadas hipóteses e suposições sobre ela”, comenta Dantas.
Escrita na década de 1970 e apresentada pela primeira vez em 1977, com direção de Antônio Abujamra (1932-2015), “Crimes delicados” já foi encenada com diferentes enfoques – do realista ao absurdo. A primeira montagem, estrelada por Laura Cardoso e Rolando Boldrin, não bebeu muito da fonte de Ionesco.
Em 2000, nova montagem de Abujamra, com Nicette Bruno (1933-2020), Paulo Goulart (1933-2014) e a filha do casal, Bárbara Bruno, explorou o instinto assassino do casal.
“Agora temos no palco dois homens fazendo papel de mulher sem querer enganar o público. E também sem cair no estereótipo”, ressalta Dantas. “É simplesmente um artifício da direção para trazer o absurdo aos momentos corriqueiros do texto”, conclui o ator.
“CRIMES DELICADOS”
De José Antônio de Souza. Direção: Marcus Alvisi. Com Daniel Dantas, André Junqueira e Well Aguiar. Nesta sexta-feira e sábado (15 e 16/12), às 21h, no Cine Theatro Brasil Vallourec (Praça Sete, Centro). Ingressos: R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia), na bilheteria do teatro e na plataforma Eventim. Informações: (31) 3201-5211.
OUTRAS ATRAÇÕES EM BH
>>> “BANHO DE SOL”
Com Zula Cia de Teatro. Peça traça um retrato do dia a dia de mulheres privadas de liberdade. Nesta sexta-feira (15/12), às 20h, no Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro). Plateias 2 e 3: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). Plateia 1 esgotada. Ingressos à venda nabilheteria e no site Sympla.
Informações: (31) 3270-8100.
>>> “COPPELIA”
Com Cia. Ballet e Classe. Neste domingo (17/12), às 15h e 18h30, no Teatro da Maçonaria (Avenida Brasil, 478, Santa Efigênia). Ingressos a R$ 50 (preço único), na plataforma Sympla. Informações: (31) 3213-4959.