Deixada por Ferinha, Leventina tem de aprender a sobreviver sozinha no Pantanal, em

Deixada por Ferinha, Leventina tem de aprender a sobreviver sozinha no Pantanal, em "Diário de uma onça"

crédito: Divulgação

Em uma deliciosa brincadeira entre ficção e realidade, "Diário de uma onça" convida o espectador a refletir sobre como temos tratado a fauna brasileira. A atriz Allanis Guillen, que viveu Juma Marruá no remake da novela “Pantanal”, narra as aventuras da onça Leventina.

O documentário é ambientado no Pantanal Sul-Mato-Grossense é aborda a história três gerações de uma mesma família de onças: Fera, Ferinha e Leventina. Fera foi resgatada ainda filhote, depois de ter sua mãe morta em um acidente causado pelo homem. Passou pelo processo de reintrodução à natureza e, quando estava pronta, foi solta. Foi o primeiro grande felino a ser reintroduzido com sucesso na natureza.

Fera logo aprende a caçar e sobreviver, tornando o experimento de reintrodução à natureza um sucesso. Pouco depois, nasce Ferinha, que mais tarde deu cria à Leventina, a pequena onça cuja trajetória passa a ser o foco do filme, que ela “narra” em primeira pessoa.

Leventina perde seu irmão e é abandonada pela mãe ainda muito pequena. Sozinha na imensidão do Pantanal, ela terá que fazer o mesmo que suas ancestrais e lutar por sua própria vida a cada dia.

Com o recurso do GPS colocado nas onças pelo Instituto Onçafari para fins de monitoramento, a equipe consegue acompanhar por meses a localização das mesmas onças Pantanal adentro.

A partir desse aparato, foi possível a criação de uma linha narrativa, permitindo que o espectador acompanhe as aventuras e vivências das onças pantaneiras. O público presencia desde o nascimento das pequenas onças até suas caçadas já na fase adulta, passando por aventuras nos lagos e brincadeiras.

A equipe filmou mais de 200 horas de material bruto ao longo de três anos para depois criar a narrativa sobre as gerações de uma mesma família de onças.


QUESTÃO ECOLÓGICA

Em sua forma, o filme transita entre um documentário clássico de natureza e a narrativa da onça. Segundo a roteirista Bea Monteiro, houve a preocupação de não humanizar demais a onça, que, afinal, é uma fera.

O filme tem o claro propósito de sensibilizar o espectador para a questão ecológica e se beneficia do fato de não ficar restrito à impessoalidade e a distância que as câmeras teleobjetivas obtêm ao filmar a natureza de longe. A direção é de Joe Stevens, reconhecido por seus trabalhos de "documentários de natureza". A trilha foi composta especificamente para o filme por Ruben Ferrer.

A produção contou com a colaboração da associação Onçafari, que promove um projeto de conservação do meio ambiente desde 2011 e foi responsável por salvar Fera e sua irmã e reintroduzi-las na natureza.

Leventina muitas vezes pontua como a relação do homem com a natureza poderia ser mais harmoniosa e reforça o argumento de que os humanos são também, afinal, parte da natureza. "Assim como o moço, nós não somos parte da natureza, nós somos ela. Assim como o rio que corre aqui", “diz” a onça, desafiando a cosmovisão ocidentalizada que separa um do outro.

"DIÁRIO DE UMA ONÇA"
Documentário de 91 minutos. Classificação indicada: 10 anos. Disponível no Globoplay.