A produção francesa

A produção francesa "Opal" (2021), de Alan Bidard, é um dos seis longas na programação, que conta com 190 títulos de 17 países; o filme terá sessão hoje, no Cine Humberto Mauro

crédito: Mumia/Divulgação

O nome em si já é uma provocação: Mumia. Sigla para Mostra Udigrudi Mundial de Animação. Há 21 anos, faça sol ou faça chuva, com dinheiro ou não, o animador e professor Sávio Leite promove o evento, que foge do padrão não só no nome. Todo filme inscrito é exibido. Nesta edição, a de número 21, serão 190 produções de 17 países.

A programação, gratuita, vai até o dia 17 deste mês. Além do Cine Humberto Mauro, que tradicionalmente recebe a mostra, esta edição terá sessões em cinco espaços. Dois deles também em Belo Horizonte (a Biblioteca Pública de Minas Gerais e o Instituto Undió); outro no C.A.S.A., no Vale do Sol, em Nova Lima; além da Casa de Cultura Cássia Afonso de Almeida, em Mateus Leme, na Grande BH, e do recém-inaugurado AnimaParque, em Cataguases, na Zona da Mata.

Cada espaço tem sua própria programação, que reúne em grande parte curtas. Mas há também longas, seis, um recorde para as duas décadas da Mumia – cinco deles brasileiros.

“As produções não pararam nem durante a pandemia nem durante o último governo (que desmantelou a Agência Nacional do Cinema, praticamente paralisando a realização de filmes em live-action). Animação leva um tempo para fazer, então vamos exibir algumas que ganharam editais em 2019. Além disso, cada profissional trabalha em sua própria casa”, diz Leite.

Longa mineiro na programação

Os longas serão exibidos até este domingo (10/12) no Humberto Mauro. Entre eles está o mineiro “Chef Jack”, de Guilherme Fiuza, lançado neste ano no circuito comercial, e o carioca “Bizarros peixes das fossas abissais”, de Marão, inédito em Minas Gerais. O único internacional é o francês “Opal”, de Alain Bidard. Cataguases vai exibir também um longa de 2022, o cearense “Todo mundo já foi pra Marte”, de Telmo Carvalho e Mariana Medina, realizado por meio dos recursos da Lei Aldir Blanc.

A grande produção curta-metragista do gênero é dividida em seis programas nacionais, oito internacionais e dois mineiros. Nem todos os filmes serão apresentados em todos os espaços. “Faço sessões na C.A.S.A., no Undió e na biblioteca há mais de 10 anos, levando animação para um público que está acostumado a ver este tipo de produção. No Undió, por exemplo, vamos a ambulatórios mostrar os filmes para crianças. Na biblioteca, fazemos sessões com debates depois. Tentamos também fazer exibições com audiodescrição.”

Em Mateus Leme, as exibições serão no cineclube criado pelo jornalista Victor de Almeida, pesquisador de cinema e cineclubista desde a década de 1950. Já para Cataguases, onde atua como professor de Cinematografia e Animação Expandida no curso Tecnologia em Cinema e Animação, da UEMG, Leite reservou uma programação diferente.

"Monstrengos" também entram

O Mumia não tem seleção, mas há (é claro) curadoria. E o crivo de Leite é criterioso. Além das mostras tradicionais, há cinco anos ele criou a “Monstrengos”, que terá três programas em Cataguases. Outra provocação bem-humorada do criador da mostra.

“São filmes mal feitos, com roteiro ruim, mal montados. Colocamos tudo nestas sessões, e o público sempre se diverte. Este ano tem cineasta consagrado, um mineiro que acho que vai até achar ruim (ter sido selecionado para a “Monstrengos”), mas vamos bancar a utopia, já que não devemos nada a ninguém”, diz Leite, que não entrega qual é o título nem seu autor. As sessões terão até caráter didático, pois serão exibidas em uma escola de animação.

cena do curta "Câline"

O curta "Câline" (2022), de Margot Reumont, tem sessão amanhã em bh e na próxima segunda em cataguases

Mumia/Divulgação

Da produção internacional, Leite chama a atenção para duas animações colombianas que tiveram destaque no Festival de Annecy, na França, o maior e mais prestigioso evento do gênero no mundo. Ambos são filmes que versam sobre mulheres e, principalmente, abuso. “Há uma quantidade grande de produções que tocam neste assunto, já que a discussão do feminino é muito contemporânea”, comenta Leite.

Animação feita de pó 

“Todas mis cicatrices se desvanecen en el viento” (Todas as minhas cicatrizes desaparecem com o vento), de Angélica Restrepo e Carlos Velandia, realizada na graduação da dupla na Universidade Nacional da Colômbia, trata do abuso. “É uma animação toda feita de pó. A imagem é sempre desvanecida em pó, nunca é completada”, conta Leite.

Velandia também dirigiu o outro filme que ele destaca, o experimental “La mujer como imagen, el hombre como portador de la mirada” (A mulher como imagem, o homem como portador do olhar). O realizador fez uma espécie de colagem de 50 filmes hollywoodianos, todos dirigidos por homens, produzidos entre 1927 e 2018. Justapondo as imagens, rostos, corpos e ações das personagens femininas, ele mostra como a grande indústria tem visto a figura da mulher ao longo de nove décadas.

MUMIA – MOSTRA UDIGRUDI MUNDIAL DE ANIMAÇÃO
Até 17/12, em vários espaços: Cine Humberto Mauro – Palácio das Artes, Avenida Afonso Pena, 1.537 (até 10/12); C.A.S.A. – Centro de Artes Suspensa Armatrux, Rua Himalaia, 69, Vale do Sol, Nova Lima (somente 9/12); Biblioteca Pública de Minas Gerais, Praça da Liberdade, 21 (11/12 e 12/12); Instituto Undió, Rua Padre Belchior, 280 (15/12); Casa de Cultura Cássia Afonso de Almeida, Rua Guaraciaba Passos, 528, Mateus Leme (16/12 e 17/12); e AnimaParque, Rua Raul Cisneiro Guedes, 193, Cataguases (11/12 a 13/12). Programação completa no site da mostra. Todas as sessões têm entrada franca.