Mariana Ximenes e Leandra Leal, idealizadora de Operação Sonia Silk, contracenam em

Mariana Ximenes e Leandra Leal, idealizadora de Operação Sonia Silk, contracenam em "O Rio nos pertence", que será exibido nesta sexta

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Uma pequena utopia cinematográfica, uma zona temporária de autonomia criativa. É assim que o cineasta carioca Ricardo Pretti define Operação Sonia Silk, projeto desenvolvido em 2013 junto do cineasta carioca Bruno Safadi e da atriz e diretora Leandra Leal, inspirado na Belair Filmes, produtora criada na década de 1970 por Júlio Bressane, Rogério Sganzerla (1946-2004) e Helena Ignez.

 

O nome do projeto, aliás, foi inspirado na personagem a que Ignez deu vida em “Copacabana mon amour”, de Sganzerla.

 

Núcleo carioca do cinema marginal, a Belair se destacou pelos seus filmes experimentais com forte caráter político e que radicalizavam na busca por novas estéticas. Todos eles foram produzidos com baixo orçamento e em pouquíssimo tempo. A própria Belair, inclusive, teve vida breve. Foi fundada em fevereiro de 1970 e encerrou as atividades em maio do mesmo ano, deixando, no entanto, sete títulos em seu catálogo.

 

 

Mesmo com poucos meses de vida, a produtora carioca influenciou uma geração de cineastas, que acreditaram ser possível fazer filmes apenas com uma câmera na mão e uma ideia na cabeça. Foi assim que Pretti, Safadi e Leandra Leal rodaram "O Rio nos pertence" (dirigido por Pretti), "O uivo da gaita" (com direção de Safadi) e "O fim de uma era" (dirigido por Pretti e Safadi), que integram Operação Sonia Silk e serão exibidos nesta sexta-feira (1º/12) e sábado (2/12), na mostra comemorativa dos 10 anos do projeto dos cineastas, no cinema do Centro Cultural Unimed-BH Minas.

 

“Nós fizemos três filmes em duas semanas”, lembra Pretti. “E foi tudo junto. Um dia a gente gravava uma cena do filme do Bruno, no outro dia a gente gravava uma cena do meu filme, e assim foi feito. Foi um enorme desafio.”

 


Tramas distintas

 

O desafio é consequência das diferenças que as produções têm entre si. Enquanto “O uivo da gaita” é solar, quase não tem diálogos e narra, por meio de imagens e performances corporais dos atores, a história de um triângulo amoroso (composto por Mariana Ximenes, Leandra Leal e Jiddu Pinheiro) prestes a se desfazer, “O Rio nos pertence” é sombrio e carece da palavra dita para guiar o espectador pelos acontecimentos estranhos na vida de uma jovem de 30 anos (Leandra Leal), que volta ao Rio de Janeiro, sua cidade natal, depois de receber um estranho cartão-postal, o mesmo que seus pais receberam antes de morrer.

 

Já em “O fim de uma era”, o espectador está diante de duas mulheres (Ximenes e Leal) que não interagem e não têm seu passado apresentado ao espectador – sabe-se apenas que viveram, atuaram e amaram. No entanto, compartilham de uma dor que ficou lá atrás e que insistem em remoer.

 

A única semelhança que os filmes mantêm entre si é a mesma equipe de produção (com profissionais de diferentes estados, inclusive de Minas Gerais) e o mesmo elenco, protagonizado por Ximenes, Leal e Pinheiro. Todos empenhados em ser inventivos, apesar dos recursos escassos.

 


Experiência singular

 

Isso foi feito com o emprego da poética e artifícios da semiótica por parte dos diretores. Emulando “A traição das imagens” (1929), do pintor surrealista belga René Magritte (1898-1967), na qual há um desenho de um cachimbo com a frase “Isso não é um cachimbo” escrita em francês, Safadi e Pretti se valem de uma sequência de imagens que contam uma história que, na verdade, está encoberta. É como se os diretores dissessem que aquilo que vemos não é de fato o que estamos vendo.

 

“Trabalhar nesse projeto foi uma experiência única”, diz Mariana. “Foi uma delícia poder estar num set com pessoas tão criativas, tão pulsantes. A gente estava ali respirando cinema, união, confiança, entrega, que são ingredientes fundamentais pra gente poder fazer cinema e realizar dessa maneira a proposta do projeto”, lembra a atriz.

 

Exibir os filmes da Operação Sonia Silk depois de 10 anos que foram lançados, de acordo com os diretores Safadi e Pretti, é promover a memória. “Acho que também cabe a gente, enquanto realizador, promover a formação de memória, que se dá justamente através da exibição e do que uma exibição promove: novos públicos, novos pensamentos, novos olhares, uma luz sobre essa geração”, ressalta Safadi.

 

“Embora esse projeto tenha vindo de um gesto meu, do Ricardo e da Leandra, é também um gesto de todas as pessoas que trabalharam com a gente. É algo coletivo e que, de certa forma, teve impacto direto na geração imediatamente posterior, que veio também com uma proposta de filmes feitos em pouco tempo e com poucos recursos”, conclui ele.

 

Montagem em BH

 

Os três filmes de Operação Sonia Silk foram montados em BH. Na época, o assistente de direção Luiz Pretti, irmão de Ricardo Pretti, e a diretora de arte e figurinista Luísa Horta moravam na capital mineira. Luísa, filha do músico Toninho Horta, morreu precocemente em decorrência de um câncer em abril deste ano. Era companheira de Safadi, o que fez com que o diretor viesse para Belo Horizonte e montasse os filmes por aqui, no intuito de ficar mais tempo com ela. “Fiz esses filmes em homenagem a Luísa na época. E exibi-los aí em Belo Horizonte é também uma forma de homenageá-la”, ressalta Safadi.

 


OPERAÇÃO SONIA SILK


Exibição dos filmes "O Rio nos pertence" e "O uivo da gaita", nesta sexta (1º/12), às 18h30 e 20h30, respectivamente; e "O fim de uma era", no sábado (2/12), em sessão comentada pelos diretores, no Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes). Entrada franca. Informações: (31) 3516-1360.