Fortaleza – Homenagens a figuras de destaque do audiovisual brasileiro marcam a 33ª edição do Cine Ceará – Festival Ibero-americano de Cinema. Além da exibição de filmes da mostra competitiva e em sessões especiais, o Cineteatro São Luiz, no Centro da capital cearense, tem sido palco de momentos de emoção na entrega do Troféu Eusélio Oliveira aos homenageados.

 

Na noite de abertura do festival, diante de uma plateia que incluía atores como Démick Lopes (Melhor atuação masculina em 2022 por “A filha do palhaço”) e Vinícius de Oliveira (“Central do Brasil”), além do cantor e compositor Ednardo, a gestora pública Bete Jaguaribe e o roteirista George Moura receberam o prêmio com o nome do cineclubista e produtor cultural, criador da mostra que deu origem ao Cine Ceará.

 

“Duas palavras definem essa edição: otimismo e crescimento”, resumiu o cineasta Wolney Oliveira, filho de Eusélio. Diretor do festival, Wolney destacou em seu discurso a recriação de um ministério dedicado à cultura (“que voltou a ser tratada como merece”) e o número de filmes selecionados: mais de 80, entre eles 12 longas cearenses. Único representante do Brasil na mostra competitiva de longas, “Sou amor”, dos mineiros André Amparo e Cris Azzi, será exibido na noite desta quinta-feira (30/11).

 



 

Mulheres no cinema

 

Professora e coordenadora do curso de cinema e audiovisual da Universidade de Fortaleza (Unifor), Bete Jaguaribe recebeu o Troféu Eusélio Oliveira de duas ex-alunas: a produtora Ticiana Augusto Lima e a cineasta Bárbara Cariry.

 

“Se hoje reivindicamos a presença de mulheres no campo audiovisual, vocês imaginem como era no cenário de 30 anos atrás. Acentuo isso mais para falar da alegria de reconhecer que a gente vive em outros tempos”, disse Bete, com longa trajetória na implantação de políticas de formação e fomento do audiovisual brasileiro.

 

Dois dias antes de completar 60 anos, o roteirista pernambucano George Moura foi saudado por Patrícia Pillar como “mestre de contar histórias” ao receber da atriz o troféu.

 

“Enquanto existirem olhos com sede de horizonte, haverá história a ser contada. Mesmo que se tenha a impressão de que tudo já foi dito, é preciso dizer novamente, porque alguns ainda não escutaram”, afirmou o autor de séries como “Onde nascem os fortes” e “Amores roubados”, gravadas no Nordeste, e do roteiro do longa-metragem “Redemoinho”, filmado em Cataguases (MG), trabalhos dirigidos pelo mineiro José Luiz Villamarim.

 

A gestora pública Bete Jaguaribe com o prêmio que homenageia um dos grandes nomes do cinema cearense

Rogério Resende/divulgação

 

Após citar versos de “O cão sem plumas”, de João Cabral de Melo Neto, George revelou que pretendia viver de poesia antes de se dedicar ao ofício de roteirista. “Porque o poeta é aquele que nos sensibiliza, ampliando o nosso olhar e modificando a percepção da realidade. Esse continua a ser o meu sonho juvenil, mesmo depois de tantos anos travando a luta vã com as palavras para escrever roteiros.”

 

Diante dos pais, Zezé e Rosilda, e da companheira, Anna Luiza, ele dedicou o prêmio aos filhos Alice, Luísa, João e Daniel, “quatro melhores roteiros que já fiz na minha vida”.

 

Aílton Graça ao ganhar homenagem inédita pelo conjunto de sua carreira

Rogério resende/divulgação

 

Na noite de terça-feira (28/11), Ailton Graça (“Mussum, o filmis”) foi homenageado pela primeira vez por sua carreira como ator. Também foram programadas homenagens ao realizador cearense Josafá Duarte e à cineasta Verônica Guedes, produtora e diretora do For Rainbow – Festival de Cinema e Cultura da Diversidade Sexual e de Gênero.

 

“Tocar o coração das pessoas é, em última instância, a motivação do meu ofício. É meu jeito de estar no mundo.” E é assim, com as palavras de George Moura, as ações de Bete Jaguaribe, a graça de Ailton e tantos outros realizadores presentes em Fortaleza, que o audiovisual brasileiro encontra – também no Ceará – um jeito forte de estar no mundo.

 

O jornalista viajou a convite da produção do festival

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