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Em "Vinicius de Mariana", Mariana de Moraes gravou canções de ídolos e parceiros do avô, entre eles Edu Lobo, Pixinguinha e Baden Powell

crédito: Marcos Villas-Boas/DIVULGAÇÃO

Neta de Vinicius de Moraes (1913-1980), a cantora Mariana de Moraes chega ao streaming com o primeiro disco dedicado ao avô. “Vinicius de Mariana” (Selo Sesc) traz 12 faixas, com arranjos de João Donato (1934-2023) e Guto Wirtti. O trabalho tem a participação de Chico Buarque em “Desalento”, e o repertório traz alguns dos ídolos e parceiros do poeta, como Baden Powell, Antônio Maria, Edu Lobo, Carlos Lyra, Pixinguinha e o próprio Chico.

 

Mas as participações não param por aí. Mariana convidou sete amigas para fazerem coro, evocando a ancestralidade de pais e avós: Camila Pitanga, Mart’nália, Jussara Silveira, Luciana Alves, Maria Luiza (filha de Mariana), Clara Buarque (neta de Chico) e Antônia, filha de Camila. Lamentando ter convivido pouco com o avô que morreu quando ainda ela era criança, a cantora diz que somente agora é que conseguiu homenageá-lo.

 

O single que abre o disco, “Maria Moita” (Vinicius de Moraes e Carlos Lyra), foi lançado em outubro. “Essa música tem toda uma história e um desejo de justiça do meu avô para com todas as mulheres. Acredito que um desejo por um mundo mais justo, no qual elas possam ser amadas, tratadas e não violentadas e no qual os trabalhadores também não fossem explorados.”

 

 

Mariana revela também que “Maria Moita” também carrega o selo de arranjo mais moderno do disco. “Interessante é que o arranjo foi feito pelo homem mais velho da banda, que é João Donato, na época com 86 anos. Portanto, a idade não está na idade, mas na cabeça.”

 

A artista, com 30 anos de carreira, afirma que já havia recebido várias propostas para gravar um disco dedicado a Vinicius de Moraes. “Na verdade, sempre tive o desejo de fazê-lo, mas também tinha de fazer outras coisas antes. Queria mostrar um pouco como penso a música, não por gênero, mas pelo que julgo que é feito por amor”, destaca.

 

“Com o tempo fui entendendo que toda a forma de preconceito é burra. Acho até que tenho influências de meu avô, porque penso em uma música sem preconceito. Chico diz que Vinicius não iria viver bem neste mundo em que estamos vivendo, e concordo com ele”, acrescenta.

 

Mariana lembra que enquanto pensava no disco, em 2018, assistiu ao último show de Miúcha (1937-2018), em dezembro daquele ano, no Sesc-SP. “Era o dia do aniversário de Vinicius. Ela me disse: ‘Mariana está na hora de você fazer um disco com a obra do seu avô’. Danilo Miranda (1943-2023, que foi diretor do Sesc SP) então me perguntou: 'Vamos fazer esse disco acontecer.? Ele era dessas pessoas geniais'”, relembra a artista.

 

No estúdio, em plena pandemia, além de João Donato e Guto Wirtti, Mariana reuniu Carlinhos 7 Cordas, Joana Queiroz, Robertinho Silva, Thiago Silva (filho de Robertinho), Marlon e Arimateia. “Fomos para o estúdio, mas com todos de máscaras e isolados.”

 

 
ESCOLHA DO REPERTÓRIO

 

Inclusive, Mariana revela que escolheu o repertório em função da pandemia. "Pensei em 'Onde anda você', 'Marcha da quarta-feira de cinzas' e 'Desalento'. ‘Maria Moita’, canto desde sempre, ‘Canto de Xangô”, porque precisamos de justiça e vitórias. ‘Só me fez bem’, porque é a primeira música de Edu Lobo com Vinicius. Ele a compôs quando tinha 19 anos. Já ‘Tristeza e solidão’ foi por causa dessa coisa do racismo, porque acho que essa música fala disso. Quis fazer um disco alegre, porque estávamos vivendo um momento pesado.”

 

Mariana conta que faltavam cinco dias para a gravação e ainda estava com 16 músicas – o disco seria com 12 faixas. “O Guto Wirtti, que também é o produtor do disco, disse: 'Bota em um saquinho e na véspera da gravação você retira os papeizinhos com os quatro nomes”.

 

A neta de Vinicius ainda lembra o produtor norte-americano Quincy Jones ao se referir ao seu novo trabalho: “Ele diz que 'gravar um disco não é, exatamente, ter os músicos certos, as músicas certas, os microfones certos, o lugar certo, é como capturar uma magia'. E isso aconteceu com esse disco, não só com a energia das pessoas que estavam lá, não era só a excelência delas, mas como elas estavam juntas, tocando. Foi algo mágico e nos trouxe muita alegria, pois, naquela época, muitos desses músicos estavam trancados em casa sem trabalho.”

 

“VINICIUS DE MARIANA”
• Disco de Mariana de Moraes
• Selo Sesc
• 12 faixas
• Disponível nas plataformas digitais