KL Jay, fundador do Racionais Mcs, é uma das atrações do  HipHop.Doc Festival, n'Autêntica -  (crédito: Marcelo Pretto/divulgação)

KL Jay, fundador do Racionais Mcs, é uma das atrações do HipHop.Doc Festival, n'Autêntica

crédito: Marcelo Pretto/divulgação

Em sintonia com o Mês da Consciência Negra, a agenda cultural de Belo Horizonte reserva para este fim de semana atrações que exaltam expressões de matriz africana. Apresentações de teatro e dança, festival dedicado ao hip hop e concerto sinfônico voltam os holofotes, a partir desta sexta-feira (17/11), para a arte produzida pelo povo preto.

 

A casa de shows A Autêntica recebe a 9ª edição do HipHop.Doc Festival, que se associa ao Belo Horizonte Hip Hop 40 Anos, programa da Secretaria Municipal de Cultura alusivo às quatro décadas do movimento no Brasil e a seus 50 anos em âmbito mundial.

 

 

 

As atrações escaladas são Don L, KL-Jay e o capixaba Kael, que se apresentam nesta sexta, e MC Marechal, Tássia Reis e Mac Júlia, que sobem ao palco do espaço amanhã (18/11). Realizador do HipHop.Doc Festival, o músico e produtor Barral Lima diz que foi uma feliz coincidência a 9ª edição do evento ser realizada em novembro.

 

“É muito forte estarmos completando 18 anos do HipHop.Doc Festival no Mês da Consciência Negra, em um momento em que se celebram os 40 anos do movimento no Brasil. Temos documentado a cena, o que está acontecendo a cada edição. É muito importante estarmos junto de um movimento que é da música, da moda, das artes plásticas, da cultura, e também é educacional, porque sempre promovemos oficinas”, diz.

 

O festival estreou em 2005 e de lá para cá o hip hop experimenta franca ascensão, aponta Barral Lima. No início dos anos 2000, ainda era cultura do gueto, mas hoje atinge todos os públicos. “Viajo pelo país inteiro e em todo lugar tem uma cena hip hop, com MCs, b-boys, o pessoal do grafite, o pessoal da moda. Cresceu muito em todos os cantos”, afirma.

 

Trap conquista a juventude 

 

Barral considera que essa expansão se relaciona às ramificações do movimento surgidas nos últimos anos. Ele cita como exemplo o trap, a “música pop do hip hop”, a vertente que mais avança. “A meninada adere, cria música, produz, distribui, coloca em todas as plataformas. Trouxe renovação para o cenário, uma cara nova. Junto com isso o próprio rap cresceu, se permitindo cada vez mais misturas”, aponta.

 

Jaqueline Gonçalves e Marcos de Andrade homenageiam orixás femininas no Memorial Vale

Jaqueline Gonçalves e Marcos de Andrade homenageiam orixás femininas no Memorial Vale

Dinalva Andrade/divulgação

 


Saudação às ayabás

 

No Memorial Vale, a atração é “Cena corpo preto surdo: louvação às ayabás”, neste sábado, às 16h, com o ator Marcos Andrade, responsável pela dramaturgia da peça, e a dançarina Jaqueline Gonçalves, que é surda. No espetáculo, louvam-se as orixás Oxum, Iemanjá, Nanã e Iansã por meio de cantos, danças e poesia.

 

A montagem nasceu no Festival de Cenas Curtas do Galpão Cine Horto. Obra em construção, segundo Andrade, expressa a vontade política de trazer para a cena a relação de dois pretos que, em sua comunicação, transbordam afeto e transmitem em Libras a valorização da cultura afro por meio da louvação às ayabás, as orixás femininas.

 

“Faço parte do grupo BH em Libras e temos um programa de ensino de teatro para pessoas surdas. Entre 2018 e 2019, montamos nosso primeiro espetáculo, 'Nós temos voz', e no elenco estava a Jaqueline, menina surda que tinha o sonho de dançar no palco. Eu a convidei para fazermos a cena curta. Somos duas pessoas pretas fazendo o resgate da ancestralidade, pensando os orixás dentro de um corpo preto surdo”, destaca.

 

A peça foi inscrita no Cenas Curtas do Galpão Cine Horto e ganhou financiamento para ser desenvolvida. A estreia está prevista para 2024, naquele espaço.

 

Retrospectiva do Cultura do Guetto

 

No Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas, o grupo Cultura do Guetto promove, nesta sexta, às 20h, e amanhã, às 19h, a mostra coreográfica “Kairós”, com trabalhos inéditos e coreografias premiadas que se destacaram ao longo deste ano em festivais de dança em todo o Brasil.

 

Fundado em 2006 pelo diretor e coreógrafo Gladstone Navarro, o grupo utiliza a dança urbana como ferramenta de formação, integração e inserção social. Cerca de 25 obras coreográficas foram criadas pelo Cultura do Guetto e cerca de 100 jovens que passaram por lá se profissionalizaram em diferentes áreas artísticas.

 

>>> 9º HIP HOP.DOC FESTIVAL
Nesta sexta (17/11), com Don L, KL-Jay e Kael. Sábado, MC Marechal, Tássia Reis e Mac Julia. A Autêntica (Rua Álvares Maciel, 312, Santa Efigênia), com abertura da casa às 21h. Hoje: R$ 50 (inteira, 2º lote). Amanhã: R$ 40 (inteira, 1º lote), R$ 50 (inteira, 2º lote) e R$ 25 (meia, 2º lote), à venda no site da casa de shows.

 

>>> “CENA CORPO PRETO SURDO: LOUVAÇÃO ÀS AYABÁS”
Peça com Marcos Andrade e Jacqueline Gonçalves. Amanhã (18/11), às 16h, no Memorial Vale (Praça da Liberdade, 640, Funcionários). Entrada franca

 

>>> “KAIRÓS”
Com grupo Cultura do Guetto. Nesta sexta (17/11), às 20h, e amanhã, às 19h. Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes). R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), à venda na bilheteria do teatro ou pelo site Eventim. Informações: (31) 3516-1360