Andrea Bocelli retorna ao Brasil em maio de 2024, em temporada que começa por BH, com espetáculo no Mineirão -  (crédito: SUZANNE CORDEIRO/AFP)

Andrea Bocelli retorna ao Brasil em maio de 2024, em temporada que começa por BH, com espetáculo no Mineirão

crédito: SUZANNE CORDEIRO/AFP

Aos 11 anos, a italiana Virginia, como qualquer garota, adora Taylor Swift. Mas o pop bem produzido da cantora fica em segundo plano quando a própria Virginia tem que soltar a voz. Tinha apenas 8 quando registrou “Hallelujah”, música mais gravada de Leonard Cohen, de versos profundos em que o próprio narrador, com a fé abalada, questiona Deus.

Virginia não estava sozinha em sua estreia. Tinha ao lado o pai, o tenor Andrea Bocelli, de 65. O registro de “Hallelujah” foi em dezembro de 2020, no Teatro Regio di Parma, sem plateia, como ditado pelo primeiro ano da pandemia. O vídeo, hoje com 28 milhões de visualizações no YouTube, está na recém-lançada edição de luxo de “A family Christmas”.


O álbum dos Bocelli – Andrea, Virginia e Matteo, de 26, o filho número dois dos três do tenor – reúne 22 canções (nove a mais do que a versão de 2022). São canções tradicionais com arranjos para as três vozes. O single “Let it snow” (1945) é mais um dueto de pai e filha. Mas a canção preferida de Virginia é outro standard natalino, “Silver bells” (1950).

Com “A family Christmas”, Virginia, de certa maneira, se juntou a Taylor Swift. Em 202, Bocelli assinou um acordo com a Universal Music, a maior gravadora do mundo (e a mesma da cantora), para maximizar seu potencial no streaming. O acordo inclui não só novos álbuns, mas projetos audiovisuais, licenciamento da música para uso em TV, cinema, games etc.

Bocelli é uma marca. Maior tenor do mundo em atividade, já vendeu 90 milhões de discos e realizou gravações e performances ao vivo antológicas. Termina 2023 com um álbum natalino, mas ao longo do ano também lançou novas gravações das óperas “Otello” e “A força do destino”, de Verdi.

Retorna ao Brasil em 2024, em sua sexta passagem pelo país. A temporada começa por Belo Horizonte. Treze anos depois de estrear na cidade – para uma noite gratuita para 90 mil pessoas, na Praça da Estação –, vai se apresentar em 17 de maio com orquestra, coral, convidados e ingressos cujos melhores setores atingem os quatro dígitos.

Em entrevista ao Estado de Minas, Bocelli falou sobre cantar para as multidões, o poder curativo da música e os grandes momentos da carreira. Virginia chegou na parte final da videoconferência, quando a câmera foi aberta e a garota, ao lado do pai, comentou que não sabe se vai seguir o caminho da música.

O senhor canta em casas de ópera, teatros, estádios e praças públicas. A emoção é sempre a mesma?
Como são ambientes diferentes, as atmosferas são sempre diferentes. É claro que em um lugar menor, o relacionamento com o público fica mais íntimo. Quando estou em um estádio, o que sempre me impressiona é a quantidade de gente que vai me ouvir. Mas no fim das contas, o que se quer é emocionar, não importa muito a maneira escolhida. O objetivo é alcançar o coração das pessoas.

Sua apresentação em 12 de abril de 2020 no Duomo, em Milão, foi o primeiro momento da pandemia em que a música uniu todo o mundo. Quão impactante foi para o senhor?

Foi inesquecível, mas aquele dia não foi uma performance. Foi uma oração. A intenção era que fosse uma oração pelo mundo, por todas as pessoas que sofriam não somente pela doença, mas também pelo medo. Temos que nos lembrar como as pessoas estavam assustadas e o medo nunca é um bom conselheiro. Achei que era importante escolher um lugar simbólico, e a Catedral de Milão é este lugar. Como disse Santo Agostinho, quem canta reza duas vezes. Foi esta a minha intenção ao enviar uma mensagem de esperança e otimismo naquele momento.

Acredita no poder de cura da música?
Ela tem poderes terapêuticos e isso foi demonstrado pela ciência. Porém, temos que prestar uma atenção especial sobre o uso da música, para não abusarmos dela. A música está ao nosso redor: nos restaurantes quando comemos, nos carros quando dirigimos, nos hotéis, nos elevadores. Ouvimos música em todos os lugares. E é assim que abusamos, pois ela se perde. A música que faz bem à alma é a música de qualidade. Temos que ouvi-la somente em determinados momentos, quando podemos dar a ela a atenção que exige. É somente aí que podemos falar de música de cura.

O senhor já se apresentou para papas, chefes de nação, grandes eventos mundiais. Qual foi a que mais o tocou?
Cantar em frente ao santo padre, nosso papa, para um católico como eu, foi inesquecível. Houve ainda um momento de uma humanidade profunda. Cantei na casa do Muhammad Ali quando ele já estava devastado pela doença (o pugilista, morto em 2016, lutou por 32 anos contra o Parkinson). Mesmo muito doente, seu corpo estava realmente em forma, ainda estava muito forte. Há outras memórias que considero muito importantes, como o concerto no Central Park (que resultou no álbum “One night in Central Park”) e minha primeira vez no Metropolitan Opera House.

O que a ópera o ensinou sobre a vida?
A ópera, desde sempre, é a minha grande paixão. Fiz enormes sacrifícios para poder me dedicar a ela e cantar da forma que canto. Tive que estudar muito. ‘Desesperadamente’, como diria meu pai. Noites e noites desesperado estudando. Ela me ensinou a importância da disciplina, de saber amar o que se faz. E ainda a ser grato pela vida, porque quando era jovem, ouvia óperas incríveis, muito bem executadas. E lembro-me de como elas me deixavam felizes na época.

Capa do disco

Capa do disco

Universal/Divulgação

 “A FAMILY CHRISTMAS”
De Andrea, Matteo e Virginia Bocelli
22 faixas
Universal
Disponível nas plataformas digitais

ANDREA BOCELLI EM BH

17 de maio, no Mineirão. Ingressos: platinum: R$ 2.310 (meia) e R$ 2.541 (meia social); diamante: R$ 2.062,50 (meia) e R$ 2.269 (meia social); esmeralda: R$ 1.897,50 (meia) e R$ 2.088 (meia social); ouro: R$ 1 mil (meia) e R$ 1.100 (meia social); prata: R$ 250 (meia) e R$ 275 (meia social). Meia social é válida para todos (com parte da renda revertida para a organização Médicos Sem Fronteiras). À venda na loja Eventim, Shopping 5ª Avenida (sem taxa de conveniência) e no eventim.com.br.