A passagem da turnê

A passagem da turnê "This is not a drill" pelo Brasil, com sete shows no total, começou pelo Estádio Nacional, em Brasília, em 24 de outubro

crédito: EVARISTO SÁ/ AFP

Roger Waters está “respirando ares” bem diferentes neste mais recente giro pelo Brasil, intitulado “This is not a drill” e com sete datas – Belo Horizonte, nesta quarta-feira (8/11), é a quinta parada –, daqueles de sua passagem anterior pelo país. Se em 2018 ele se mostrava incrédulo com a possiblidade – que viria a se concretizar – de Jair Bolsonaro ser eleito presidente do país e entoava críticas ferrenhas ao então candidato da extrema direita, desta vez o músico inglês, de 80 anos, esbanja felicidade ao ver Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – com quem se encontrou no último 23 de outubro – no Palácio do Planalto novamente.

Mas se o cenário político brasileiro mudou desde a perna brasileira da turnê “Us + them”, em 2018, o discurso do ex-baixista do Pink Floyd continua efusivo, e o repertório, recheado de clássicos do grupo londrino formado em meados da década de 1960 e músicas de sua carreira solo.

Depois de passar por Brasília (24/10), Rio (28/10), Porto Alegre (1º/11) e Curitiba (4/11) e antes de duas paradas em São Paulo, no próximo sábado (11/11) e domingo, Waters faz do Mineirão sua casa em BH.

Nos shows já realizados no país, os telões nos palcos exibiram a mensagem: “Se você é um daqueles que diz ‘Eu amo o Pink Floyd, mas não suporto a política do Roger’, pode muito bem se retirar para o bar agora”. O prenúncio para uma série de alfinetadas ao longo de todo o espetáculo, destinadas a antigos desafetos políticos, como Donald Trump, e alvos mais recentes, como o atual presidente dos EUA Joe Biden.

Na capital mineira, Waters deverá repetir críticas a líderes mundiais que apoiam Israel em sua atual guerra contra o Hamas. Segundo números do Ministério da Saúde Palestino, mais de 10 mil pessoas foram mortas em um mês de conflito na Faixa de Gaza. Mulheres, crianças e idosos representam cerca de 70% dos óbitos nesse período.

Waters vem exibindo nos telões dos shows mensagens como “parem o genocídio” e “criminosos de guerra”, referindo-se a figuras como Biden.

A veia político-social de Waters vem desde as letras das composições do Pink Floyd, como as do clássico e conceitual álbum “The wall” (1979). Em resumo, a ópera-rock narra a história de vida do personagem fictício Pink, cujo pai é morto na Segunda Guerra Mundial, e que se isola do mundo. Pode-se dizer que algumas passagens – ou ideias – são autobiográficas, já que o avô e o pai do ex-baixista do Floyd morreram na Primeira e na Segunda Guerras, respectivamente.

Faixas daquele disco, como “In the flesh?”, “Another brick in the wall - part 2 and 3”, “The happiest days of our lives”, “Run like hell” e “Outside the wall” – esta última vem sendo o encerramento dos shows – devem estar presentes no repertório na capital mineira.


HOMENAGENS

A noite também será de homenagens. Durante a execução de “Have a cigar”, do disco “Wish you were here” (1975), têm sido exibidas projeções com imagens de ex-colegas de Floyd: o guitarrista e vocalista Syd Barrett (1946-2006), o tecladista e vocalista Richard Wright (1943-2008) e o baterista Nick Mason – o guitarrista e vocalista David Gilmour, com quem Waters se envolve em várias polêmicas desde os tempos de banda, não foi lembrado.

Referência a Barrett também se fez presente em outras praças durante a execução da faixa-título do mesmo trabalho e “Shine on you crazy diamond: parts VI a IX” (a letra é um tributo a Barrett em vida).

O repertório ainda conta com outros clássicos do grupo inglês, como “Sheep”, do disco “Animals” (1977), e “Money”, “Us and them”, “Any colour you like”, “Brain Damage” e “Eclipse”, todas de “The dark side of the moon” (1973), além de sons de sua carreira solo, casos de “Is this the life we really want?”, do homônimo quarto álbum de estúdio, de 2017, e “The powers that be”, de seu segundo trabalho, “Radio K.A.O.S.” (1987).

Durante as músicas, os fãs que estiverem no Mineirão podem esperar um espetáculo que transcende a música, com vários recursos visuais, como grandes cenários – Waters possui os direitos das produções de palco de “The wall”, após batalhas judiciais travadas nos anos 80 contra o ex-colega de Floyd e guitarrista e vocalista David Gilmour, que detém a marca Pink Floyd.

Waters espera mais um show lotado em um estádio do Brasil. Um cenário muito diferente de 1977, quando, incomodado com as provocações de fãs no Estádio Olímpico de Montreal, no Canadá, cuspiu em um deles e disse que não gostava de tocar em grandes arenas – o episódio viria a ser o embrião para “The wall”, com a ideia de se construir um “muro” entre a banda e seus aficionados nos palcos. As coisas mudam, como os contextos de 2018 e 2023. Mas Roger Waters, que atravessou seis décadas de carreira, segue icônico.

MEDALHA DE HONRA NO RIO

Em sua passagem pela capital fluminense, onde se apresentou no dia 28/10, Roger Waters recebeu na Câmara de Vereadores a medalha Pedro Ernesto, homenagem do Rio de Janeiro que reconhece destaques da sociedade brasileira ou internacional. A medalha foi entregue por requerimento da vereadora Mônica Benício (PSOL), como reconhecimento do compromisso do músico com a defesa dos direitos humanos, a oposição a regimes ditatoriais e a defesa do povo palestino."Esse homem não é apenas um artista consagrado, uma lenda do rock, mas também um ativista incansável, que usa sua voz para combater as injustiças do mundo", disse a vereadora, que é viúva de Marielle Franco. (Folhapress)

ROGER WATERS
Show da turnê “This is not a drill”, nesta quarta-feira (8/11), às 21h. Abertura dos portões: 17h. Ingressos a partir de R$ 440 (inteira) e R$ 220 (meia-entrada para estudantes, idosos, jovens de baixa renda e menores de 21 anos), à venda no site Eventim.