Juraciara Vieira Cardoso
Juraciara Vieira Cardoso
Professora da UFMG, graduada em Direito, mestre em Direito Constitucional e doutora em Filosofia do Direito

Para no Ano Novo, o menos

Desejar o menos é um modo de habitar o mundo com mais sentido

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Não apenas vivemos em um mundo de excessos como eles são também apreciados por boa parte de nós. Por isso, para o próximo ano, desejo – o menos. Em primeiro lugar, quero me irritar o mínimo possível: agir menos por impulso e deixar que o intervalo entre o que acontece e o que sinto se alargue. Quando alguém for rude, que eu mantenha a calma e considere que aquela pessoa pode estar tendo um dia ruim ou lidando com algo difícil (que pode ser, inclusive, ela mesma).

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Que eu realmente reconheça que nem sempre é pessoal e que, às vezes, os fatos são apenas os fatos, sem interpretações ou devaneios. Que eu admita com honestidade, que nem tudo o que me fere foi pensado para me ferir. Que eu alcance a compreensão radical de que o mundo não é sobre mim, mas sobre seres humanos finitos, limitados e repletos de falhas e sofrimentos, como eu mesma sou.


A partir desse entendimento, também quero julgar menos e me conectar mais, diminuindo a velocidade com que classifico, rótulo e concluo as coisas. Ao invés de criar barreiras, enumerando os itens que me separam das outras pessoas, que eu consiga perceber, em todos os momentos, inclusive nos mais difíceis, que aquilo que me une a elas é muito mais valioso. Que eu tenha cada vez mais consciência da necessidade de conciliação entre pensamentos opostos, pois somente isso pode verdadeiramente mudar o rumo da história: não há prosperidade possível, seja no âmbito familiar ou social, em um ambiente no qual as pessoas que pensam diferente são concebidas como adversárias.


Que reconhecendo isso, eu também reconheço minha necessária conexão com as outras pessoas. Quero ser menos eu (ego) para, assim, perceber melhor meu vínculo com todas as demais pessoas. Que eu nunca perca de vista que não foi - e não é - possível uma Juraciara sem a presença das inúmeras pessoas que fizeram e fazem parte da minha vida. Seja de modo direto, representado pelas pessoas que conheço e interajo. Seja de modo indireto, que são justamente as “pessoas invisíveis”, que nunca vejo, mas que possibilitam que o mundo funcione para que eu possa funcionar nele.


E que, havendo menos ego em mim, eu possa me perceber também como parte do todo. Que eu possa contribuir genuinamente para cuidar da terra. Se tenho cuidado com o corpo que abriga meu espírito, preciso também me conscientizar do cuidado que devo destinar ao planeta que abriga esse corpo. Que eu seja consciente em relação ao meu dever para com as futuras gerações: não tenho o direito de vir aqui, destruir o meio ambiente e depois pedir que meus netos vivam em meio à devastação e desastres ambientais.


E se vivemos em uma era digital, onde tudo é planejado algoritmicamente para que eu consuma cada vez mais, quero ir em um movimento contrário, comprando cada vez menos. Quero resistir à lógica que transforma desejos passageiros em necessidades urgentes. Que eu ofereça uma contribuição autêntica para a preservação de um meio ambiente ecologicamente equilibrado. Que quando for consumir, eu leve em conta não apenas meu desejo passageiro, mas minha real necessidade e o tamanho do impacto ambiental causado por essa cadeia, da qual faço parte, do consumo irrefletido.


Para o ano novo, portanto, nada de metas que me trarão algo que possa ser comprado com dinheiro. Não, quero metas mais exigentes: ao invés de algo que possa ser exibido a todos, quero transformar a forma como reajo, como escuto e como percebo minha relação com os demais e com o planeta. Não sei se vou conseguir cumprir tudo, mas o simples fato de tentar já representa uma escolha ética que eu considero valiosa.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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