ilustração de um olho em um papel rasgado
 -  (crédito: PIXABAY/REPRODUÇÃO)

Perceber as próprias perversões é um desafio para o ser humano

crédito: PIXABAY/REPRODUÇÃO

 

Há coisas que circulam sempre em nosso cotidiano e trazem aquela pontada de indignação, que a gente racionaliza, não engole. Enfim, o real é o que é. Precisamos aceitar que a falta está do nosso lado e devemos aceitá-la. Mas o que fazer quando a perversão parece generalizada? Por perversão entendemos o excesso e nunca permitir a falta, tampando vazios para evitar o que o real insiste em estampar. Só a natureza é completa, plena.

 


O que chamamos perversão em psicanálise é uma estrutura na qual a lei é sabida, mas não tem o efeito de deter, nem faz “cosquinhas”, ou seja, a pessoa sabe o certo e o errado, porém faz o que quer!

 


A natureza humana é selvagem. Assim, fica livre para agir conforme seu bel-prazer, independentemente do prejuízo que possa causar a outras pessoas, à natureza e a toda a ordem social que nos cerca.

 

 

 

Aqueles ditados “farinha é pouca, meu pirão primeiro” ou “aproveitem enquanto o Braz é tesoureiro” circulam desde os tempos antigos, mostrando a falta de lei desde a colonização. Seguem sem alteração no imaginário coletivo e lembrados a cada vez que temos conhecimento de alguma das muitas bandalheiras que ocorrem por debaixo dos panos da falsa moralidade.

 


O perverso tem vontade de gozo e pouco se importa com as consequências, desde que se garanta. Ele pode estar ao lado, pessoa insuspeita, gentil, mas não perde oportunidades, está sempre alerta para se completar, se satisfazer em sua vontade de gozo pleno, sem falta, independentemente das questões morais e éticas. Mesmo que seja puro aproveitamento e espoliação do outro. É sem lei, sabendo da lei.
Recebi o vídeo de um rapaz que afirmava não ser do tipo que compartilha vídeos, entretanto gostaria de que aquele vídeo fosse divulgado. Indignado, afirma que o Brasil é o único país em que bandido disputa a Presidência e trabalhador vai preso.

 


Mostra a prisão de um produtor de queijos da Serra da Canastra, abordado pela Vigilância Sanitária, algemado, levado no cofre da viatura. Ele berrava que era trabalhador. Toda sua produção de belos queijos jogada numa caçamba, que, segundo o relato no vídeo, “seriam levados para a casa de alguém ou então jogados fora”. Dá tristeza ver o desperdício.

 


Mas a questão da perversão vai muito além deste episódio. Pessoas são prejudicadas pela ação da má-fé alheia. É o caso dos estelionatários que usam as pessoas, falsificam assinaturas, invadem contas, abrem contas ilegais sem conhecimento da vítima. Passam dinheiro de golpes e furtos, deixando em maus lençóis pessoas honestas.

 


É o que sempre digo sobre o capitalismo: ele rompe laços em favorecimento do lucro, do gozo de ter mais, sempre mais, muito mais...

 


Isso acontece não apenas no Brasil, embora aqui seja um paraíso para a perversão geral, porque as pessoas escapam, é como pegar um peixe com a mão, na falta de lei funcional, no posso tudo desvairado, a esperteza assassina, do empresário ao político, ao cidadão comum, ao ruralista, até ao pobre que passa a praticar infrações menores.

 


O cara do vídeo estava justificando a injustiça com o pobre trabalhador, mas se esqueceu de dizer que ele também estava fora da lei, embora seja de fato um trabalhador.

 


Ninguém pode garantir a qualidade de um produto que chega ao mercado de consumo sem o selo e controle da Vigilância Sanitária. Errado também. Então, o sujo fala do mal lavado e acusa projetivamente o outro de burlar a lei, que ele também burla. É que aqui no Brasil, caro cidadão denunciante, o exemplo vem de cima. Então, tudo pode. Só que não!