Setor elétrico com mais energia discute adotar bandeira branca
A discussão está oficialmente aberta. A Aneel aprovou a Consulta Pública nº 46/2025 para debater o tema. O setor e a sociedade têm até o dia 9 de março de 2026
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A relação do brasileiro com o interruptor está prestes a mudar – e não será apenas uma questão de “ligar ou desligar”. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) colocou sobre a mesa uma proposta que pretende transformar a tarifa horária (a chamada “tarifa branca”) no padrão para grandes consumidores residenciais e empresariais até o final de 2026. A medida mira quem consome acima de 1.000 kWh mensais, mas o debate que ela acende ilumina um desafio que atinge a todos: a transferência do risco do sistema para o colo do cidadão.
A discussão está oficialmente aberta. A Aneel aprovou a Consulta Pública nº 46/2025 para debater o tema. O setor e a sociedade têm até o dia 9 de março de 2026. para participar. O conceito parece simples no papel: a energia custa mais caro quando todos a usam simultaneamente (entre 18h e 21h) e fica mais barata quando a rede está ociosa ou quando há abundância de fontes solar e eólica (especialmente entre 10h e 14h). O objetivo técnico é nobre: achatar a curva de demanda e evitar a sobrecarga do sistema.
Permitindo ainda um melhor aproveitamento das fontes renováveis e intermitentes de energia elétrica
No entanto, a prática esbarra na realidade da vida cotidiana. Para uma família ou um pequeno comércio, deslocar o consumo não é apenas uma escolha financeira, mas um exercício de logística complexo.
Atividades essenciais, do banho quente ao funcionamento de aparelhos de ar-condicionado em escritórios, muitas vezes coincidem justamente com o horário Aneel revelam o ceticismo do mercado. Hoje, a adesão ao modelo é opcional, e o resultado é pífio: menos de 1% das 75 milhões de unidades consumidoras do país optaram pela tarifa branca. São apenas 69 mil pioneiros em um mar de consumidores que preferem a previsibilidade da tarifa fixa.
Essa resistência não é fruto de desinformação, mas de autopreservação. Sem um controle operacional rigoroso, o consumidor corre o risco de ver sua conta explodir caso não consiga adaptar sua rotina de forma radical. “Modelos que exigem que o consumidor adapte radicalmente sua rotina para evitar aumentos de custo acabam transferindo o risco do sistema para quem está na ponta”, alerta Fernando Berteli, CEO da NewSun Energy. Para o executivo, a transição energética brasileira precisa de inteligência de rede e transparência, e não de uma complexidade que gere insegurança financeira para famílias e empresas.
Enquanto o Brasil discute a imposição de horários, exemplos internacionais como o da Austrália mostram que o caminho pode ser o do incentivo, não o da punição. Por lá, programas-piloto oferecem energia gratuita em horários de baixa demanda, estimulando a mudança de hábito sem penalizar quem não tem alternativa senão usar a rede no horário de pico. A modernização do setor elétrico é urgente, especialmente para acomodar a crescente geração de fontes renováveis. Contudo, a eficiência técnica não pode atropelar a estabilidade do orçamento doméstico.
Cenário
A discussão começa a ser feita com um cenário favorável. No início do período chuvoso, os reservatórios das hidrelétricas do Sistema Sudeste/Centro-Oeste, que responde por 70% da capacidade de geração hídrica do país, com 42,45% de armazenamento, os do Sul com 74,02% e os do Nordeste com 45,20% e os do Norte com 53,38%m segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Com a previsão de que eles fechem o ano com patamar mais alto, a Aneel decidiu adotar a bandeira verde (sem acréscimo) para o mês de janeiro, o que vai representar um alívio nas contas dos brasileiros a partir do ano que vem.
“O armazenamento dos reservatórios vem evoluindo de acordo com o cenário de afluências esperado para o mês de dezembro. Temos perspectivas de encerrar o mês com energia armazenada em patamares favoráveis e continuaremos monitorando as projeções para garantir o pleno atendimento às demandas da sociedade”, destaca o diretor-geral do ONS, Marcio Rea. “Em janeiro de 2026, não será necessário despachar as usinas termelétricas na mesma quantidade do mês anterior, o que evita a cobrança de custos adicionais”, informa a Aneel,
* Esta coluna entra em recesso e retorna em 16 de janeiro
Carga pesada
R$ 10 bilhões é o valor do programa aberto pelo BNDES destinado à renovação da frota para caminhoneiros autônomos, cooperados e empresas rodoviárias de carga, com juros entre 13% e 14% ao ano, prazo de 60 anos e carência de seis meses
Mais crédito
Pesquisa Especial de Crédito da Febraban mostra que o saldo da carteira de crédito total deve ter registrado alta de 1,3% em novembro. Apesar do crescimento, o indicador de janeiro a novembro, com expansão de 10%, mostra acomodação na busca por empréstimo. No ano fechado em outubro a alta era de 10,2%. A pesquisa aponta que o ritmo de expansão do crédito segue elevado, na faixa de 2 dígitos, com um processo gradual de acomodação.
Impacto
Cerca de 61,9 milhões de brasileiros têm rendimento referenciado no salário mínimo, que a partir de janeiro passa para R$ 1.621, o que deve gerar um incremento de renda na economia da ordem de R$ 81,7 bilhões, segundo contas do Dieese. Na Previdência, o peso relativo da massa de benefícios de até um salário mínimo é de 46% e corresponde a 70,8% do total de beneficiários, segundo o Boletim Estatístico da Previdência de setembro.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.
