LC
Luiz Carlos Azedo
ENTRE LINHAS

Valdemar é o artífice da aliança com Lira e Pacheco

Quando se olha para o tabuleiro político, o que se vê é a forma eficiente como os aliados do ex-presidente Bolsonaro operam posições estratégicas no Congresso

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Pode-se avaliar que existe um descolamento do Congresso, principalmente de seus líderes, dos interesses da grande massa de eleitores que os colocaram nos devidos assentos. Entretanto, a única métrica disponível para essa avaliação são as pesquisas de opinião, que mandam um sinal contrário: segundo o Datafolha de abril passado, o trabalho do Congresso Nacional é avaliado como ótimo ou bom por 22% (era 18%), como regular, por 53% (era 43%) e, como ruim ou péssimo, por 23% (era 35%). Uma parcela de 2% não opinou (era 4%).

 

Por ironia, essas taxas de aprovação são mais altas entre os simpatizantes do PT (31%), entre os que avaliam como ótimo ou bom o governo Lula (36%), entre os que avaliam que a situação econômica do país melhorou (31%) e entre os que avaliam que a situação econômica pessoal melhorou (31%). O resultado dessa pesquisa mostra a zona de conforto que os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), desfrutam para pôr em votação agendas conservadoras e de oposição ao governo Lula.

 



Criminalizar o consumo de maconha, proibir o aborto de crianças vítimas de estupro e acabar com a delação premiada de criminosos que estejam presos, assuntos em discussão na Câmara, são pautas polêmicas, manobradas por Lira, que têm grande apelo junto aos eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro. Devolver parcialmente uma medida provisória sobre o PIS-Cofins, com procedeu Rodrigo Pacheco no Senado, para não aumentar impostos, com amplo apoio dos agentes econômicos, também mostra que as dificuldades do governo transbordam a pauta dos costumes e emergem na agenda econômica, onde a prioridade deveria ser regulamentar a reforma tributária.



Os 23% que reprovam o trabalho do Congresso Nacional estão entre os mais instruídos (31%), os que possuem renda familiar mensal de mais de 5 a 10 salários-mínimos (33%), avaliam como ruim ou péssimo o governo do presidente Lula (36%), acham que a situação econômica do país piorou (31%) e a situação econômica pessoal (31%). A estrada por onde caminha a agenda de Jair Bolsonaro tem apelo popular e leva à supressão de direitos das minorias. Para barrar essa agenda, só a mobilização da sociedade; a bancada que defende esses direitos é minoritária no Congresso.



Quando se olha para esse tabuleiro, o que se vê é a forma eficiente como os aliados de Jair Bolsonaro operam posições estratégicas no Congresso. É o caso dos bolsonaristas da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, que aprovou na quarta-feira a chamada PEC do Aborto. No Senado, já se realinharam para voltar a participar da Mesa e das comissões, ao se aliar ao atual presidente da CCJ, Davi Alcolumbre (União-AP), que pretende voltar a presidir o Senado.




Pinto no lixo



O maestro da orquestra bolsonarista é o longevo presidente do PL, o ex-deputado Valdemar Costa Netto, velha e calejada raposa política, que na quarta-feira circulava como pinto no lixo pelos plenários do Congresso. Cumpriu a pena do processo do mensalão (sete anos e seis meses de prisão em regime semiaberto e multa R$ 1 milhão) e se safou em 48 horas da última prisão, por porte ilegal de arma, em fevereiro passado. Levou um flagrante numa busca e apreensão da Polícia Federal na sede do PL, em Brasília, duramente as investigações da tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro. Foi solto, depois de autuado, por uma liminar do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, que preside o inquérito.



Valdemar concedeu uma entrevista quebra-queixo no cafezinho do Senado na quarta-feira, na qual confirmou o apoio do PL à volta Alcolumbre à presidência da Casa e disse que ainda não existe uma definição sobre o apoio a Elmar Nascimento (União-BA), candidato de Arthur Lira à própria sucessão. Precisa convencer uma ala mais radical da bancada do PL, deseja uma candidatura própria à presidência da Câmara, por ser a maior bancada. Valdemar avalia que seria um erro, pois a bancada acabaria isolada, numa situação semelhante àquela do Senado, após a derrota de Rogério Marinho (PL-RN) na disputa com Rodrigo Pacheco pelo comando da Casa.



Essa movimentação mostra mais desenvoltura dos bolsonaristas no Congresso do que a da bancada do PT. A liderança petista parece mais empenhada em desestabilizar o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Resultado: não é uma força decisiva na sucessão de Lira e de Pacheco, o que fragiliza o governo. Dizer que o Congresso é conservador, como faz o líder do governo, Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), é chover no molhado: é a realidade inescapável. Como lidar com essa desvantagem é o xis do problema. Obstruir a pauta reacionária, preservar as políticas sociais e avançar na agenda econômica exigem alianças amplas e mais habilidade na condução da sucessão das duas Casas. Não deveria ser uma missão impossível para quem está no poder.




As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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