Carlinhos faz shows familiares com repertório de Roberto Carlos -  (crédito: Reprodução/ Cover Roberto Carlos BH)

Carlinhos faz shows familiares com repertório de Roberto Carlos

crédito: Reprodução/ Cover Roberto Carlos BH

Em uma segunda-feira de manhã, entro na galeria de arte Carlinhos Molduras onde uma atendente me recepciona. Ela me encaminha para a sala ao lado, onde um senhor de mullet me diz “Bom dia” e, imediatamente pelo tom voz, eu sei que é ele quem eu estou procurando: Carlos Roberto Ferreira, conhecido como Carlinhos Molduras no meio da arte, e Roberto Carlos cover nas noites belorizontinas. Cercado por obras de artistas mineiros consagrados, como Amilcar de Castro e Yara Tupynambá, é difícil imaginar que Carlinhos se autointitula “favelado”.

Aos 4 anos, Carlinhos se mudou com a mãe e os sete irmãos do distrito de São José do Acácio, na região leste de Minas Gerais, para a favela Cabeça de Porco, hoje parte do Aglomerado da Serra, onde ficou até os 18 anos. O galerista relata que na época a estrutura da comunidade era mais precária: “Cara, não tinha água, não tinha luz, não tinha nada. Então, sou daquele tempo de muito sofrimento. Hoje não, hoje é tranquilo”.

A realidade dura forçou o mineiro a começar a trabalhar com 6 anos. Entre as ocupações que exerceu na infância estavam buscar galões de água, vender verduras, carregar compras no mercado e catar objetos para ferros-velhos. Aos 13 anos, um dos seus irmãos mais velhos o chamou para trabalhar na loja de molduras Moldurarte, no centro da capital mineira. Carlinhos conta que começou como office boy, depois foi faxineiro, e, com 16 anos, já era chefe dos 24 funcionários do estabelecimento. Em 1979, pediu demissão e abriu sua loja de molduras no bairro Sagrada Família, em Belo Horizonte.

Paredes da galeria Carlinhos Molduras, no bairro Santo Antônio, em Belo Horizonte, são repletas de obras de artistas brasileiros consagrados

Paredes da galeria Carlinhos Molduras, no bairro Santo Antônio, em Belo Horizonte, são repletas de obras de artistas brasileiros consagrados

Lorena Marcelino

O contato com diversos colecionadores que o procuravam para fazer molduras de obras de arte e a convivência com artistas discípulos de Guignard, o levou a abrir, junto com a molduraria, sua galeria de arte há 15 anos. Carlinhos faz parte do mercado secundário de arte, ou seja, realiza somente revenda de obras consignadas ou do seu acervo próprio. A maioria dos trabalhos dispostos nas paredes de sua loja são de artistas idosos ou falecidos, como Alfredo Volpi, Antônio Poteiro, Amilcar de Castro, Yara Tupynambá e Carlos Bracher.

Já o interesse do galerista pela música começou ainda na infância, quando sua mãe ouvia no rádio músicas caipiras. Por volta de 1966, ao se apaixonar por uma garota, Carlinhos comprou o LP Roberto Carlos em Ritmo de Aventura e o escutava com frequência com sua “turminha da favela”, conta. Um dia, ao ver um violão à venda, o comprou e começou a cantar músicas da Jovem Guarda. Depois, montou uma banda na qual tocava diversos gêneros musicais, de axé a forró. Ele seguiu num ritmo eclético até um amigo afirmar que ele tem o timbre do Roberto Carlos. A partir daí, o artista começou a introduzir músicas do cantor no repertório dos shows, gravou um CD de covers e passou a cantar somente músicas do Rei em apresentações que já chegaram a um público de 5000 pessoas.

Uma das características que unem a carreira de Carlinhos como cantor e galerista é o saudosismo. Suas referências estão no passado e ele não acompanha o cenário contemporâneo. O empresário lamenta que os jovens não gostem mais de paisagem, natureza morta, pintura clássica e acadêmica, e critica a ausência da cultura do colecionismo de arte na população de até 50 anos: “As pessoas, ao invés de colocar um quadro na parede, mandam imprimir três fotos ou pôsteres e põem na parede. Daqui a um, dois anos, enchem o saco daquilo e acabam jogando fora. Então, põe um quadro na parede, paga um pouco mais e fica com o quadro ali o resto da sua vida”, sugere o artista. Apesar de considerar Belo Horizonte uma cidade culturalmente rica, sua visão do mercado da arte é pessimista. “Os grandes professores morreram, aposentaram. Então, o que tem de novo no mercado? Não tem nada de novo…Eu espero estar enganado, porque eu não vejo, cara”, afirma Carlinhos.

A galeria de arte e molduraria Carlinhos Molduras fica na rua Barão de Macaúbas, 261, bairro Santo Antônio, Belo Horizonte, e abre de segunda a sexta das 9h às 18h, e aos sábados, das 9h às 13h. Já os shows do cover do Roberto Carlos podem ser contratados aqui.

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