O Centro de Treinamento do Internacional, em Porto Alegre, foi inundado pelas fortes chuvas que castigam o Rio Grande do Sul -  (crédito: Miguel Noronha/Estadão Conteúdo)

O Centro de Treinamento do Internacional, em Porto Alegre, foi inundado pelas fortes chuvas que castigam o Rio Grande do Sul

crédito: Miguel Noronha/Estadão Conteúdo

 

Enquanto o Rio Grande do Sul vive uma das suas maiores tragédias naturais, inundado pelas fortes chuvas e rompimento de barragens, com dezenas de mortos e desaparecidos, o Rio de Janeiro, alheio a dor dos outros, celebrava o show de Madonna, para 1,5 milhão de pessoas, com transmissão da Rede Globo, na noite de ontem.


Se fosse num país sério, a própria emissora lutaria pelo cancelamento do show, mas, esperar isso da atual rede Globo é desilusão. Se os diretores de jornalismo fossem Armando Nogueira e Alberico Souza Cruz, sim, mas com essa gente que tornou a emissora um “lixo”, como diz parte gigantesca da população, não tem jeito.


Os jogos no Sul, obviamente, foram cancelados. Os CTs de Grêmio e Internacional estavam sob as águas, e não há clima para diversão. Como diz meu amigo e CEO do Athletico-PR, Alexandre Leitão, “o Rio Grande do Sul debaixo d’água e o povo tirando selfs no show da Madonna”. São os novos tempos, onde “ter vale mais que ser”. Pessoas vazias, sem amor ao próximo, sem ter Deus no coração.

 


No futebol, acordo com a notícia de que o Fluminense tem praticamente acertada a volta de Thiago Silva, cria das Laranjeiras, que deverá receber um salário na casa dos R$ 2 milhões, mensais, mais prêmios. Um zagueiro que entregou o Brasil em três Copas do Mundo, que chorou para não bater uma penalidade contra o Chile, na Copa no Brasil, e que não tem a menor estabilidade emocional.


Como ficam as “crias” de Xerém ao saber que o clube repatria um jogador de 39 anos, ao invés de dar chance aos garotos formados nas divisões de base? Eu nunca achei esse zagueiro nem mediano. Em conversa com meu amigo Paulo César Vasconcelos, ele me disse: “Viu o motivo de o Chelsea ter sido campeão europeu?” Deduzi que foi o fato de Thiago Silva ter saído machucado aos 15 minutos de jogo e o zagueiro que entrou deu conta do recado. Muitos na imprensa, exaltam o zagueiro. Nunca vi absolutamente nada nele.


Vivemos num país da mentira, da hipocrisia, dos desmandos. Um “filhinho de papai ou mamãe” acelera sua Porsche a 156km/h e bate na traseira de um carro de aplicativo, causando a morte do trabalhador. Depois de três pedidos de prisão preventiva, negados por juízes, finalmente um magistrado sério deu atenção à solicitação do Ministério Público, pondo o assassino na cadeia.


Será que a “mamãezinha” dele vai dividir a cela com ele? Afinal, ela foi para a cena do crime tirar o assassino – ele foi indiciado por homicídio doloso, quando há intenção de matar–, fingindo que o levaria a um hospital, quando ele não teve um arranhão sequer e, segundo testemunhas, estava embriagado. A velocidade permitida na via era de 50km/h.


Um país onde as leis são desrespeitadas a cada crime. Desde pequeno, ouço dizer que o “Brasil é o país do futuro”. Aos 64 anos, estou esperando esse futuro até hoje. Aliás, esperei até os 56 anos, quando resolvi criar meus filhos em um país decente e de verdade, e há oito anos moro nos Estados Unidos, sendo cidadão americano, com minha mulher e meus filhos. A escolha mais acertada da minha vida.


Se a CBF fosse uma entidade sensível, cancelaria a rodada do Brasileirão, pelo menos, neste fim de semana. Era o mínimo que esperávamos, mas a entidade só pensa nos lucros e em agradar os patrocinadores. O Brasileirão tem o nome de uma casa de apostas. Nunca vi uma casa de apostas patrocinar uma Liga Europeia. Tá tudo errado.


É louvável a ajuda do Brasil inteiro, mandando pix para o Rio Grande do Sul. Já mandei a minha pequena contribuição. Mas, se os governantes tratassem melhor a população e as cidades, com rede de esgoto e outras benfeitorias, talvez as cidades, sob fortes chuvas, não inundassem tanto.


Os governantes querem viver em palácios, tomando vinhos caros, com o dinheiro do contribuinte. Sim, quando eles recebem um chefe de Estado, quem paga a conta? Na Argentina, quando anunciam aumento na gasolina e o povo não concorda, corre para o aeroporto de Ezeiza e não deixa ninguém embarcar ou desembarcar. No Brasil, as pessoas correm para abastecer o carro, antes da meia-noite, para pagar o preço antigo.


Voltando ao show da Madonna, a prefeitura e o governo do Rio gastaram R$ 10 milhões, cada. Os outros R$ 40 milhões vêm da iniciativa privada. O cachê da decadente Madonna está na casa dos R$ 17 milhões, e mais R$ 8 milhões pela hospedagem dela e equipe no Copacabana Palace.


Ela esteve aqui em Miami, em um show cujo ingresso estava sendo oferecido por US$ 170, e sobraram tickets. Aqui, as TVs nem noticiaram. O Rio de Janeiro vive uma de suas piores crises institucionais, com vários ex-governadores que foram presos e já liberados, e um prefeito, Eduardo Paz, que adora aparecer. Tentou fazer uma área VIP, fechando uma parte com tapumes para receber seus convidados, esses hipócritas como o Marcos Mión, Luciano Hulk e outros.


Felizmente, após denúncias de gente séria, os tapumes foram jogados ao chão. Mas a área VIP dele, da mulher e dos baba-ovos, está garantida. Enfim, se é de governantes fracos e sem sensibilidade que o povo gosta, é o que o povo tem. A violência no Rio de Janeiro, com guerras entre facções e milícias, chegou a níveis insuportáveis, mas os governantes preferem jogar a sujeira para debaixo do tapete e curtir o show de uma cantora que vai embolsar os R$ 17 milhões e dizer, “bye, bye Brazil, thank you so much idiots” (Tchau Brazil, obrigado seus idiotas). Esse é o Brasil com S, país da mentira e da hipocrisia.