Endrick, do Palmeiras, foi um dos principais nomes da Seleção Brasileira Pré-Olímpica -  (crédito: Federico Parra/AFP)

Endrick, do Palmeiras, foi um dos principais nomes da Seleção Brasileira Pré-Olímpica

crédito: Federico Parra/AFP

O presidente do Atlético Goianiense, Adson Batista, deu uma entrevista forte, onde só falou verdades: “O futebol brasileiro, daqui a quatro anos, se não fizer uma mudança radical, vai falir. Não tem jogador, e tem um monte de jogador meia-boca, ganhando R$ 200 mil. Os empresários estão ganhando muito dinheiro, pois vivem da especulação, a nossa base tá cheia de vícios, sem conteúdo, times mal treinados. No Pré-Olímpico vimos jogadores com uma máscara, jogam com a ponta de pé e se acham. Não são nada. Nunca foram Ronaldinho Gaúcho, Romário, Zico, mais se acham porque a mídia os endeusa”.

Estou aplaudindo o presidente Adson e agradecendo por ter tido a coragem de falar a verdade sobre o falido, combalido e retrógrado futebol brasileiro. E vou além: jogadores com cabelinho pintado, brinquinho, muita dancinha e pouco futebol. E se acham acima do bem e do mal.

 

Há tempos venho alertando sobre o fracasso e a decadência do nosso futebol. César Menotti, técnico campeão do mundo com a Argentina em 1978, também falou sobre nossa decadência, principalmente depois da eliminação da equipe pré-olímpica, que tinha Endrick e John Kennedy, mas ambos não conseguiram fazer a diferença, enfrentando garotos de sua idade.

Os dirigentes brasileiros, com algumas exceções – e cito aqui o próprio Adson, Leila Pereira, Mário Bitencourt e Mário Celso Petraglia –, são uma vergonha. Esses quatro, exceções à regra, são competentes, transparentes e administram com mão de ferro e muita qualidade.

As denúncias contra dirigentes desonestos vêm de muito tempo. Diretores de futebol e até presidentes fazendo rachadinha com empresários em negociações de jogadores, denunciados por alguns dos próprios atletas, além da incompetência em contratar ex-jogadores em atividade, com salários gigantescos, quebrando os clubes.

Já passou da hora de o Ministério Público e as autoridades fazerem uma intervenção no futebol brasileiro e botar na cadeia essa turma de desonestos. Há alguns que são transparentes, mas incompetentes como dirigentes. Se o MP quiser, basta ligar uma ponta à outra e descobrir as falcatruas. É bem provável que os desonestos tenham posto o dinheiro da “rachadinha” em contas de laranjas, mas é possível fazer a ligação.

Tem diretor de futebol que há pouco tempo era quebrado e falido e hoje está milionário. Denúncias de jogadores não faltam, pois no mundo da bola nada fica encoberto. Já houve denúncias públicas, e a sociedade de bem exige uma varredura para limpar o futebol dessa gente desonesta.

Não é mais possível o torcedor aceitar os salários astronômicos dos jogadores. O cara sai da base, como muito bem disse o presidente Adson Batista, e já passa a ganhar R$ 200 mil, R$ 300 mil por mês. Jogadores que não têm mercado na Europa, China e mundo árabe, são repatriados ganhando R$ 1 milhão, R$ 2 milhões mensais.

Temos hoje, no futebol brasileiro, sete jogadores que atuaram nos 7 a 1 vergonhosos que a Alemanha nos aplicou. Não podemos esquecer disso jamais. Os técnicos são ultrapassados, sem esquema, sem se modernizar ou se reciclar, mas ganham verdadeiras fortunas. Em um ano de contrato, ganham um prêmio da Mega Sena. Enfim, está tudo errado.

Que bom que um dirigente teve a coragem de falar a verdade, de gritar, de mostrar a decadência do futebol tupiniquim. Chega, basta de tanta mediocridade, incompetência e, em alguns casos citados por jogadores, falta de transparência dos dirigentes.

É preciso uma intervenção no futebol, que estabeleça teto salarial, que não admita contratações de ex-jogadores que o Velho Mundo manda de volta, depois de chupar a laranja e nos enviar o bagaço. Venho denunciando isso há tempos, mas, agora, parece que os dirigentes sérios acordaram para a realidade nua e crua. Estamos na lama em todos os quesitos, sem credibilidade, qualidade técnica ou tática.

Chega de treinadores viciados, sem esquema de jogo, que “caem pra cima”, pois são demitidos e logo em seguida contratados por outro clube, ganhando até mais. Ou a gente muda ou, como muito bem disse Adson Batista, em quatro anos não haverá mais futebol no Brasil.