Cronista J.A. Ferrari, morto na última sexta-feira, escreveu a história celeste nas páginas dos jornais dos Diários Associados -  (crédito: Sidney Lopes/EM/D.A Press – 14/11/2013)

Cronista J.A. Ferrari, morto na última sexta-feira, escreveu a história celeste nas páginas dos jornais dos Diários Associados

crédito: Sidney Lopes/EM/D.A Press – 14/11/2013

Defender o Cruzeiro/Palestra contra um sistema econômico e político construído e mantido para prejudicá-lo, há décadas, tem sido uma árdua tarefa para cronistas esportivos em Belo Horizonte. Cada um com suas palavras, escritas ou faladas, foi (ou é) responsável por manter a resistência azul popular em seguidas batalhas dentro de uma guerra centenária e midiática contra o Time do Povo Mineiro. Nessa trincheira, o mais aguerrido escudeiro, sem sombra de dúvidas, foi João Alberto Ferrari de Lima.

Desde a década de 1960 até o final do século 21, J.A. Ferrari foi responsável pela produção de milhares de crônicas esportivas e de uma infinidade de participações em programas de rádio e de TV, tendo como obsessão defender a honra, a história e a grandiosidade do Cruzeiro.

Ao final da década de 1960, a Academia Celeste apresentava Minas Gerais ao futebol mundial. Mesmo assim, a elite de Belo Horizonte, que havia criado o América e o Atlético de Lourdes, com seu poderio sobre os veículos de imprensa, tentava diminuir esse feito. Se no gramado era Piazza o nosso escudeiro, fora dele foi J.A. Ferrari quem capitaneou a resistência contra a discriminação ao time vindo dos trabalhadores e dos imigrantes italianos.

Suas participações mais marcantes aconteceram, por décadas, no programa “Bola na Área”, da antiga TV Itacolomi e na coluna “Bafo da Raposa”, aqui nas mesmas páginas dos jornais dos Diários Associados.

J.A. Ferrari virou estrela na última sexta-feira. Deixou um legado de importância incalculável tanto para nós, cruzeirenses, como para a própria instituição Cruzeiro Esporte Clube. Obviamente, a diretoria de Closet de Sapatênis da SAF Cruzeiro não fez absolutamente nada significativo para homenageá-lo ou lamentar o seu falecimento. Era de se esperar tamanha deselegância de uma gente que sequer conhece ou tem interesse em preservar a história do Cruzeiro/Palestra e de seus mais importantes personagens, como é caso de J.A. Ferrari.

Coube novamente à Nação Azul e à crônica esportiva mineira o rito. A TV Alterosa, as torcidas organizadas, jornalistas, cronistas e dezenas de torcedores de arquibancada lembraram do escudeiro celeste. Dentre os quais, exalto um deles: Leopoldo Correa Moura Júnior.

Leopoldão era um adolescente alucinado pelo Cruzeiro quando, ao final da década de 1960, J.A. Ferrari lutava bravamente contra a soberba dos cronistas que defendiam os clubes da elite da capital. Dali em diante, assim como Tostão e Dirceu Lopes, Ferrari se tornou um de seus ídolos. Recortava e guardava suas crônicas. Não perdia nenhuma de suas ácidas sacadas na bancada do televisivo “Bola na Área”.

Quis o destino que ídolo e fã se tornassem amigos. Aos jogos de domingo, Leopoldo juntava os filhos, André e Gustavo, ainda garotos, e rumava para a casa de J.A. Ferrari. Mesmo com a saúde já debilitada e com mais de 80 anos, o titular do “Bafo da Raposa” tinha fôlego e paixão para subir as escadarias do Mineirão ou a Rua Ismênia, no Independência, para assistir ao seu Cruzeiro.

Ao longo desse tempo, Leopoldão transformou um sonho em missão: publicar a retrospectiva das crônicas de J.A. Ferrari. Com a ajuda dos familiares de Ferrari e de Pedro Blank, outro importante cronista celeste, ele conseguiu! Sem se autopromover ou ter ganhos econômicos, Leopoldo é o grande responsável por dar vida ao livro “Crônicas para o Maior de Minas”, que será lançado nos próximos dias. Fez por puro amor. Silenciosamente e nos bastidores. Por justiça ao legado do mais aguerrido escudeiro da honra do Palestra/Cruzeiro.

São por cruzeirenses como Leopoldão e J.A. Ferrari que mantenho acesa a chama da minha paixão incontrolável pela torcida do Cruzeiro.