Museu de arte moderna -  (crédito: Pixabay/Reprodução)

Museu de arte moderna

crédito: Pixabay/Reprodução

Começo com um misto de provocação e de uma constatação de algo que salta aos olhos: por que as cidades têm mais prédios feios do que prédios bacanas?

Vou mais longe: por que são quase todos, além de feios, muito parecidos, monótonos e desanimados? (sim, a Arquitetura pode ser monótona e desanimada). 

Embora a explicação seja até simples, não serve como justificativa, e expõe ao mesmo tempo um descaso e o atraso cultural de Arquitetos, empresários e educadores.

O Reino Unido (Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte) tem uma população na casa dos 67 milhões de habitantes. Desses, perto de 11 milhões são estudantes do ensino fundamental e básico, em horário integral ou parcial, distribuídos em 32 mil escolas e orientados por 625 mil professores.

Os 11 milhões de estudantes britânicos têm à sua disposição 3,5 milhões de computadores, com os quais esses estudantes são iniciados em contabilidade básica e tecnologia da informação, incluindo programação (dois dos conhecimentos mais importantes para o futuro próximo e, num raro consenso, aqueles mais propensos a garantir empregabilidade e crescimento profissional num mundo robotizado e informatizado).

Mas o dado que mais me interessa, hoje, é a proximidade com a história e a arte, traduzidas na quantidade de visitas a museus: são 2 milhões de estudantes a cada ano, apenas nos 12 principais museus. Desses, 10 ficam em Londres, o que significa uma viagem cultural para a maior parcela dos estudantes, vindos do interior da Inglaterra e da Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte.

Crianças e jovens que visitam museus performam tão melhor em ciência, leitura e matemática quanto mais frequentam esses repositórios de saber e de história, e não por acaso. Museus inspiram, expandem a compreensão do mundo, dão concretude à história e à ciência e criam um vínculo com a comunidade, com o lugar e entre os estudantes, ativando as químicas cerebrais do conhecimento, do aprendizado e do bem estar.

De quebra, trazem embutidos o respeito pelo bem público, o apreço pela pesquisa, o despertar da curiosidade, alimentam os sonhos dos futuros cientistas, historiadores, construtores, inventores e astronautas.

Fazendo a ponte com a feiura que nos rodeia, ir a museus dota o indivíduo de um tipo de capital, o capital cultural, um fator crucial sem o qual não é possível perceber a arte, a harmonia e as nuances de composição.

Mas, também, sem um mínimo de capital cultural, não é possível perceber a feiura, a monotonia e o desânimo da Arquitetura ruim que nos cerca, porque não há "ferramental" para compreender essa sensação ruim numa cidade que pressiona e oprime.

A impossibilidade de racionalizar em nada alivia as consequências de estarmos rodeados por prédios feios, monótonos e desanimados.

Ninguém está pensando num curso especializado, nem em alta intensidade. O objetivo não é forjar pequenos gênios, nem formar especialistas mirins, mas ampliar as possibilidades, e ao mesmo tempo incutir um léxico ligado à beleza, harmonia, proporção, paleta de cores, observação, pesquisa, curiosidade e experimentação.

Crianças e jovens que não vão a museus e não estudam arte (e a história da arte) crescem limitadas por um horizonte curto, como se fosse uma venda lateral nos olhos: só percebem o que vem à frente, mas não o ambiente por completo, e nunca o que se passa ao lado.

E o universo de possibilidades é quase ilimitado, para além dos museus, se a programação inclui visitas a ateliês de arte, oficinas de design, escritórios de projeto, laboratórios universitários e bibliotecas.

E as crianças e jovens que amadureceram sem essa visão mais ampla e completa, sem noções de arte, sem conhecer possibilidades e sem o "vírus" da curiosidade, dificilmente se tornarão bons Arquitetos, ou empreendedores imobiliários engajados e comprometidos com a boa Arquitetura, ou com a cidade.
E vão produzir prédios feios, monótonos e desanimados.

E vão produzir muitos, porque fazer mal feito, fazer padronizado, fazer sem graça e repetir a fórmula dá menos trabalho, e demanda menos tempo. Não exige "penso".

E isso vai acontecendo naturalmente sem que, sequer, se deem conta do mal que fazem a toda uma população, nem das oportunidades perdidas (de melhorar as cidades) a cada novo prédio feio, monótono e desanimado.

Se for pensar (se for "colocar penso"), sai mais barato levar aos museus.