Ou uma dor de barriga instantânea em quem afirmar que a tragédia no Rio Grande do Sul é um castigo devido ao show da Madonna. O que o Senhor acha? -  (crédito: Divulgação)

Ou uma dor de barriga instantânea em quem afirmar que a tragédia no Rio Grande do Sul é um castigo devido ao show da Madonna. O que o Senhor acha?

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Deus, venho, humildemente, fazer mais um pedido. Deixo claro que estou longe de acreditar que o Senhor necessite de minhas observações. Eu, pobre criatura, poeira cósmica no meio de tanta eternidade. Porém, achei prudente falar de uma coisa que podemos melhorar do lado de cá.

 

Ademais, como o Senhor já sabe, a Inteligência Artificial vem com tudo e pode passar na nossa frente. Por isso, achei que seria bom compartilhar esse benchmarking humano, na esperança de que ele entre na pauta do deadline celestial. Afinal, o Senhor já ouviu sobre lugar de fala? Então, é uma coisa que nós inventamos para tentar ter algum privilégio nos debates do boteco. Agora, farei jus ao meu.

 

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Dessa vez, o pedido é sério. Juro que não se trata das outras cartas enviadas, naquelas em que pedi que a alface tivesse gosto de torresmo, na tentativa de tornar a dieta algo mais aprazível. Também não venho, por meio dessa correspondência, solicitar que o cigarro se transforme em método eficaz para limpar os pulmões. Entendi que isso era pedir demais.

 

Não posso me esquecer da última solicitação. O Senhor está lembrando, né? Aquela em que eu pedia que das nuvens caíssem cachaça e que nos bebedouros das praças públicas tivesse chopp gelado? Entendi perfeitamente as considerações divinas e até concordei. Afinal, o argumento de que a terra já seria o Paraíso e ninguém mais ia querer ir para o Céu foi convincente. Também entendo que não estávamos tão maduros para conviver com tamanha benesse celestial. Afinal, perdemos nossa chance lá atrás. Maldito Adão! Com todo respeito, lógico.

 

Nesse momento, venho requisitar algo mais fundamental, para além dos meus gostos pessoais ou benefícios individuais. A coisa agora é séria, e precisamos agir rápido, pois o colapso humano está logo ali, como diria o saudoso Vanucci.

 

Será que conseguimos colocar algum dispositivo no corpo humano que faça a ignorância doer fisicamente? O negócio está ficando sério aqui embaixo. Coisa simples, Senhor... Tenho um amigo que cisma em defender “a democracia contra a ditadura do STF”, mas, ao mesmo tempo, entende que o caminho para uma educação cidadã é a implantação das Escolas Cívico-Militares. Imagine se, nessa hora, ele tivesse só uma fincadinha no estômago, dor de apendicite ou qualquer coisa semelhante? Com certeza ia aprender a não falar asneira.

 

 

Essa atualização de fábrica seria disruptiva! A cada ignorância afirmada ou pensada, uma dor física perceptível. Entendo que alguns ainda insistiriam na ideia de que a cloroquina iria curar esse mal, mas aí a dor poderia ser um pouco mais intensa, não acha? Nada incapacitante, pois não desejamos mal ao próximo.

 

Sei que isso levaria a problemas estruturais, pois os hospitais e as clínicas talvez não comportassem o tanto de gente procurando ajuda, mas aí seria problema dos políticos, e eles que se virem com o Capiroto. Afinal, cada um deve pedir ajuda ao responsável pela sua espécie.

 

Sabe aquele dia em que você se encontra com um motorista de aplicativo, barbeiro, balconista de padaria ou colega de escritório, e ele começa a elogiar o Javier Milei, a defender a flexibilização das leis trabalhistas, elogiar a reforma da previdência e a conjecturar sobre o livre mercado como se fosse um acionista da Bovespa? Quem sabe uma dor de dente, hein? Ou uma dor de barriga instantânea em quem afirmar que a tragédia no Rio Grande do Sul é um castigo devido ao show da Madonna. O que o Senhor acha?

 

Olha Deus, está difícil. A burrice virou uma espécie de troféu. E tem um monte de gente por aí se beneficiando com tanta ignorância. E aqui não estou falando daquele “não saber” socrático, atitude que nos coloca em busca de mais conhecimento, na medida em que admitimos saber muito pouco. O negócio é a asnice ilimitada mesmo. Precisamos fazer alguma coisa. Não podemos deixar do jeito que está.

 

Não tenho dúvidas de que essa atualização na criação seria algo inovador e até diminuiria o vosso trabalho. Deixando claro que esse recall não faria mal a ninguém, apenas aos estúpidos.

 

Sem mais, despeço-me na esperança de que o Senhor pense com carinho sobre meu pedido. Amém!

 

P.S: Caso seja um pedido muito difícil, podemos retomar aquela conversa sobre o chopp saindo dos bebedouros gratuitamente. O álcool não irá curar a burrice, mas nos ajudará a suportá-la.