Na pandemia, a vacinação foi considerada a principal medida de combate à COVID-19
 -  (crédito: Pedro Gontijo/Imprensa MG - 14/4/21)

Na pandemia, a vacinação foi considerada a principal medida de combate à COVID-19

crédito: Pedro Gontijo/Imprensa MG - 14/4/21

Coloca peito, tira peito, aspira gordura do abdome e come como um frade, tira rugas com toxina botulínica, voa de paraglider, come sushi na praia, anda de moto a 200 km/h em estradas do Brasil e curiosamente, tem medo de vacina.

Pois é, foi numa dessa que milhares caíram na esparrela da cloroquina, ivermectina e outros Titanic que afundaram como um machado sem cabo. O problema é que não afundaram sozinhos. Comandados por um certo capitão “imbrochavel” se intoxicaram com vermífugos na esperança de prevenir ou tratar a COVID-19.

Essa semana, uma publicação da revista ScienceDirect (Volume 171) tendo como primeiro autor Alexiana Pradelle da Universidade de Lyon, revelou o tamanho do estrago provocado por condutas sem embasamento científico.

Os autores conduziram uma revisão sistemática de literatura e uma meta-análise, para estimar a mortalidade atribuída a hidroxicloroquina (HCQ) em pacientes internados em hospitais em seis países (Bélgica, França, Itália, Espanha, Turquia e Estados Unidos) durante a primeira onda de COVID-19, entre dezembro de 2019 e março de 2021.

O estudo evidenciou que a HCQ foi diretamente responsável por um aumento de 11% na taxa de mortalidade dos pacientes. Nesses seis países, 16.990 pacientes morreram pelo uso dessa droga. Os autores concluíram que esta é uma grande lição para futuras epidemias. Ou seja, reposicionar drogas de uma doença para outra, sem os cuidados científicos adequados pode ser catastrófico.

Este importante estudo não incluiu o Brasil e a Índia, países onde essas drogas foram amplamente utilizadas e promovidas por políticos e falsos cientistas que assessoraram órgãos governamentais estratégicos como o próprio Ministério da Saúde e o presidente da República.

Drogas fakes, promovidas por fakes cientistas, embasados em trabalhos fakes, propagandeados por fakenews distribuídas em redes sociais por irresponsáveis que ocupavam o alto escalão da política nacional e seguidores golpistas radicalizados e atualmente cristalizados e entrincheirados em suas mesmas posições genocidas.

A ciência para esses grupos, não passa de instrumento de manipulação coletiva a serviço de seus interesses políticos negacionistas. Negaram e falsificaram cartões de vacina, negaram princípios éticos e morais, negaram a própria democracia conquistada a duras penas após 21 anos de ditadura militar.

O mais curioso é que se tivessem tido o mínimo de prudência e preconizado canja de galinha com a receita antiga da vovó, ao invés de HCQ, teriam tido sucesso. Explico!

No começo da pandemia, precisamente em 6 de maio de 2020, o dr. Stephen I.Rennard (Universidade de Nebraska) e o colega e amigo Infectologista André Kalil (que não tem qualquer parentesco com o ex-prefeito de BH, Alexandre Kalil), publicou na revista CHEST online o artigo intitulado Chicken Soup in the Time of COVID(Sopa de Galinha em tempos de COVID).

A publicação se referia a um outro estudo publicado pelo próprio dr. Stephen e colaboradores na mesma revista (Chest,2000;118(4):1150-1157) com o título “Chicken soup inhibits neutrophil chemotaxis in vitro”. Trata-se de estudo experimental que evidencia o discreto potencial anti-inflamatório da canja de galinha. Eles salientam as limitações do experimento, o qual não foi um estudo clínico clássico para provar a eficácia dessa tradicional e popular medida para cuidar de pessoas com resfriado comum.

Os autores comentam na publicação de 2020 a importância de se conduzir estudos clínicos baseado em princípios epidemiológicos e estatísticos que assegurem a acurácia dos dados e consequentemente das conclusões. Claro, não recomendam canja de galinha para tratar COVID, mas ressaltam a importância do carinho e dos cuidados embutidos no preparo dessa mágica iguaria e seu potencial benefício.

Entretanto, apesar da canja de galinha poder contribuir no tratamento de enfermos, ela não deve substituir os princípios da Ciência baseado em evidências. Além disso, jamais embasar argumentos do tipo “o que não mata engorda”.

No caso da hidroxicloroquina, a falta de prudência e de respeito pela população brasileira, matou e muito!